Saturday, July 01, 2006

Um ponto de vista sobre a crise timorense...


O governo Australiano avança com planos para dominar Timor-Leste
Por Peter Symonds
Nem Horta nem os seus apoiantes Australianos querem testar o seu “tremendo apoio” nas eleições do próximo ano. “O problema é, obviamente, pode o país suportar os próximos seis, os próximos nove meses com esta pressão continuado sobre o primeiro-ministro para resignar?” perguntou Horta.
“Podemos suportar esta crescente perda de credibilidade do governo e a má imagem do país? Ou deve o primeiro-ministro dizer, ‘Bem, eu saio no interesse do meu próprio partido.
Parece que eu sou uma desvantagem para o meu próprio partido, se não para o país’.”
A ameaça de acusações criminais é obviamente maquinada para obrigar Alkatiri a tomar aquela decisão.Tendo estabelecido um exército de ocupação em Timor-Leste, o governo Australiano engajou-se numa luta política corrente em várias frentes para garantir o seu domínio sobre metade da ilha.
Nas Nações Unidas, diplomatas Australianos estão a pressionar para garantir que Canberra retém o controlo sobre a nova missão da ONU. Como parte dessa ofensiva, os media Australianos conduzem uma campanha sem paragem contra o Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, que é visto como demasiado próximo do rival Portugal e portanto um obstáculo aos interesses Australianos.
Os Australianos de Murdoch mais uma vez esboçaram a agenda a maioria deles abertamente. Num comentário no Sábado, o editor dos assuntos estrangeiros Greg Sheridan argumentou que enquanto outros países precisavam de contribuir para o re-estabelecimento duma força de polícia em Timor-Leste, Canberra tinha que reter, sobre tudo o controlo.
“O Conselho de Segurança da ONU está a considerar Timor-Leste e os requerimentos do seu policiamento futuro agora mesmo É uma tarefa vital para a diplomacia Australiana obter a fórmula certa disso,” declarou.
Sheridan declarou que era vital que “A Austrália desempenhe a tarefa sozinha” no treino da polícia. “A ONU em Timor tem sido um caminho para a confusão e disfunção. Em particular tem sido um caminho para a influência Portuguesa, um negócio de mão-cheia, na verdade.” No princípio deste mês, Sheridan classificou Portugal como o “inimigo diplomático da Austrália em Timor-Leste” e identificou Alkatiri como “a chave para a influência deles”.
Enquanto que o governo de Howard não se pode dar ao luxo de ser tão aberto, com o apoio de Washington, está envolvido numa ofensiva diplomática para garantir que a Austrália lidera a operação da ONU em Timor-Leste. A manobra é particularmente cínica porque os USA e a Austrália têm-se oposto sistematicamente a pedidos feitos pela ONU, Timor-Leste e Portugal para uma extensão da preseça da ONU no país.
Tão recentemente quanto no início de Maio, Canberra e Washington opuseram-se vigorosamente a qualquer extensão da missão da ONU.As diferenças vieram à superfície abertamente no Conselho de Segurança da ONU na semana passada quando o Embaixador Australiano Robert Hill se opôs a uma proposta do Secretário-geral da ONU Kofi Annan de uma operação formal de capacetes azuis para tomar o lugar da presente força militar liderada pelos Australianos.
O plano do governo de Howard, modelado conforme a ocupação liderada pelos Australianos das Ilhas Salomão, é reter o controlo militar exclusivo ao mesmo tempo que preside sobre uma força policial multi-nacional e instala funcionários Australianos em postos administrativos chaves.
Hill argumentou que estrangeiros deviam ser postos à frente da força policial Timorense, e privadamente sugeriu o antigo Comissário da Polícia Federal Australiana Mick Palmer para o lugar.Portugal e a Malásia que têm ambos contingents policiais em Timor-Leste, apoiaram o pedido de Annan para a ONU tomar a completa responsabilidade do controlo da presença militar e policial. O Embaixador de Portugal João Salgueiros disse ao Conselho de Segurança: “Timor-Leste é um filho das Nações Unidas. Por isso precisa da universalidade e imparcialidade das Nações Unidas, que deve uma vez mais tomar o papel liderante.”
Uma reunião de ministros dos estrangeiros da CPLP no Domingo decidiu enviar uma missão a Timor-Leste para avaliar a situação.
O Ministro dos Estrangeiros Português Diogo Freitas do Amaral declarou: “Timor-Leste não é um Estado falhado. Temos de defender a necessidade de enviar uma força das Nações Unidas na qual todas as nações membros participem activamente.”
Na semana passada a Comissão Europeia, que foi apoiada pelas ambições de Portugal em Timor-Leste, assinou um acordo com o governo de Alkatiri para providenciar 18 milhões de euros em ajuda com um foco na “construção de capacidade institucional,” bem como no alívio da pobreza.Ontem o Embaixador dos USA John Bolton entrou na cena diplomática apoiando o pedido de controlo para Canberra.
Opondo-se a “uma presença da ONU para sempre” em Timor-Leste, argumentou que era necessário “apoiar os Australianos e Neozelandezes que estão lá”. Obviamente, se a intervenção nas Ilhas Salomão é um guia, o governo de Howard tem a intenção de ficar em Timor-Leste não somente meses, mas anos.Esta luta de braços diplomática reflecte o agudizar de antagonismos inter-imperialistas, não só sobre Timor-Leste, mas internacionalmente.
Em jogo está o controlo sobre significativas reservas de petróleo e de gás no Mar de Timor bem como a posição estratégica de Timor-Leste na Ásia do Sudeste, a meio-caminho de estradas navais chaves. O governo de Howard explorou conflitos de facções no governo e nas forças de segurança de Timor-Leste para começar a destacar 1,300 tropas Australianas para a ilha em 24 de Maio. A última preocupação de qualquer das potências em competição é a luta dos Timorenses atingidos pela pobreza, muitos dos quais fugiram para campos de deslocados.
A Campanha contra Alkatiri
As divisões na OBU têm um paralelo na luta de facções no próprio Timor-Leste, onde os aliados Australianos— o Presidente Xanana Gusmão e o Ministro dos Estrangeiros José Ramos Horta— estão engajados numa mal disfarçada campanha para expulsar Alkatiri. Segundo a constituição do país, o presidente não tem o poder de despedir o primeiro-ministro sem um voto de não confiança no parlamento, onde o partido Fretilin de Alkatiri tem uma maioria absoluta. Como resultado disso, os media Australianos têm procurado inventar bases para acusações criminais contra Alkatiri, que o forçariam a sair.
O último tiro na campanha foi disparado ontem à noite no programa “Four Corners” da Australian Broadcasting Corporation. Numa peça de propaganda desavergonhada, a repórter da ABC Liz Jackson tentou demonstrar que Alkatiri, juntamente com o antigo ministro do interior Rogério Lobato, tinha entregue armas a antigos guerrilheiros da Fretilin para formar um esquadrão de ataque contra os seus opositores políticos.
Desdenhando abertamente de Alkatiri e da sua negação de qualquer acção errada, Jackson apresentou, sem contraditório, um mosaico de comentários e de documentos, todos fornecidos pelos inimigos políticos do primeiro-ministro e apresentados fora do contexto.
Deve ser lembrado que as alegadas más acções tiveram lugar no meio da luta faccional incipiente, na qual 600 soldados rebeldes, a que se juntaram secções da força de polícia, ameaçavam lançar uma guerra civil war se Alkatiri não saísse imediatamente. Mesmo se isso fosse completamente verdade, o que toda a “evidência” demonstrava é que Alkatiri e Lobato, como os rebeldes, estavam a armar os seus apoiantes.
O lado parcial do programa da ABC tornou-se uma farsa quando Jackson pressionou Alkatiri sobre a ilegalidade de “armar os civis,” ao mesmo tempo que ignorava o facto de, os que ela caracterizou como “os heróis da luta anti-Alkatiri” serem, em termos estritamente legais, culpados de motim e traição.Nos seus esforços para apresentar Horta como o popular próximo primeiro-ministro, “Four Corners” talvez revelou mais do que tinha a intenção de revelar. Horta tem tentado apresentar-se a si próprio como estando acima dos políticos em luta — o homem para reunir todas as facções juntas.
Mas a cobertura da ABC da sua reunião com os líderes rebeldes em Gleno, imediatamente antes de uma concentração da oposição em 6 de Junho em Dili, mostrou Horta a fazer trabalho de facção abertamente com forças anti-Alkatiri. Ao ser-lhe perguntado acerca desta actividade, Horta declarou desavergonhadamente: “Em todos os sítios para onde tenho ido — Baucau e todos os lugares — eu tenho tido tremenda simpatia, apoio, calor das pessoas aos milhares, às centenas. E eu sinto-me ultrapassado, talvez porque elas estão desesperadamente à procura de liderança, à procura de gente em quem possam confiar.”
Nem Horta nem os seus apoiantes Australianos querem testar este “apoio tremendo” nas eleições previstas para o próximo ano. “O problema é, obviamente, pode o país suportar os próximos seis, os próximos nove meses com esta pressão continuado sobre o primeiro-ministro para resignar?” perguntou Horta. “Podemos suportar esta crescente perda de credibilidade do governo e a má imagem do país? Ou deve o primeiro-ministro dizer, ‘Bem, eu saio no interesse do meu próprio partido. Parece que eu sou uma desvantagem para o meu próprio partido, se não para o país’.”
A ameaça de acusações criminais é obviamente maquinada para obrigar Alkatiri a tomar aquela decisão.De acordo com o jornal The Age baseado em Melbourne na Segunda-feira, o Presidente Gusmão está a considerer usar os seus poderes constitucionais para lançar um inquérito judicial sobre as alegações da ABC e doutros media Australianos. Horta estava a considerar uma visita ao alegado líder do esquadrão de ataque, Vincente “Railos” da Conceição, para reunir evidência e levá-la para Gusmão.
“O presidente não é indiferente, pelo contrário. Está atento a estas alegações, e... está a juntar toda a informação disponível, e agirá na altura devida se tiver de,” explicou Horta.Estas sórdidas maquinações politicas iluminam o absurdo da assim chamada independência proclamada em 2002 como um passo em frente para o povo Timorense. Numa era de produção globalizada, a pequenina meia-ilha nunca será independente dos poderes globais e regionais, ou das instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial e o FMI.
Longe de gozar paz e prosperidade, Timor-Leste tornou-se uma outra área para rivalidades imperialistas, na qual cada clique local procura garantir a sua posição política pela obtenção do apoio de um ou de outro dos poderes em competição. Longe de pôr fim ao conflito em Timor-Leste, a intervenção Australiana está a construir a base para uma futura guerra civil pois Canberra pretende instalar os seus próprios clientes.


indymedia - Australiana
http://www.melbourne.indymedia.org/news/2006/06/115261.php

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