Friday, June 30, 2006

GM - OPEL A CHANTAGEM



A chantagem da GM e quem alinha com ela

A GM vai mudar a linha de montagem da Opel de Azambuja para Espanha porque, segundo ela, cada viatura fica mais barata em cerca de 500 euros.

O governo é incansável na "luta contra este facto consumado". Dirigentes sindicais e políticos parecem ter acordado agora! Os comentadores de serviço não deixam de alertar para o grave problema da descredibilização do país face ao investimento estrangeiro e aproveitam a oportunidade para clamar mais uma vez pelas "reformas profundas" que o país precisa, a saber, diminuir o "peso do estado" e os "custos de actividade", acabar com a "fraca flexibilidade do mercado de trabalho" e baixar a "factura fiscal".

Ou seja, acabar com tudo que signifique protecção social (que é paga com o dinheiro dos trabalhadores, é bom não esquecer) e obrigar os trabalhadores a aceitar salários de chinês ou de vietnamita, ou de isentar as empresas de impostos, para que o capital estrangeiro não fuja para outras paragens. O acordo social assinado entre a CT da fábrica da Azambuja no ano passado inscreve-se um pouco nessa lógica, devendo os trabalhadores abrir mão de reivindicações salariais e dos seus direitos para garantir a continuação da laboração até final de 2008. No entanto, parece que a cobardia e a traição manifestadas pelos representantes dos trabalhadores não teve recompensa.

É bem possível, e ao contrário do que toda gente parece acreditar, a atitude da administração da GM não passe de uma grosseira manobra de chantagem para que os trabalhadores recuem mais e aceitem todas as imposições com medo de perder o posto de trabalho. E mais ainda, pressionar o governo português (o que não é difícil, diga-se em abono da verdade) a desembolsar mais uns milhões, acrescentados aos muitos outros, concedidos no passado recente, que foram 43 milhões de euros de fundos comunitários e 80 milhões dados directamente pelo governo para formação profissional.

Se sindicatos e partidos de esquerda estão assim tão preocupados com a sorte dos 1.150 trabalhadores da GM da Azambuja, e de todos os familiares e outros que por eles são ajudados a viver, porque não desencadeiam uma movimento a nível nacional com recolha de fundos? Porque é que não mobilizam uma greve em todo o sector automóvel nacional, como forma de solidariedade, porque este despedimento colectivo não será caso único e poderá marcar o início de uma nova vaga de despedimentos que poderá assumir uma dimensão inimaginável?

Porque é que os dirigentes sindicais de todas as fábricas da GM na Europa, sabendo também que a maior multinacional do mundo do sector automóvel se prepara para reestruturar toda a sua produção não só no continente europeu como nos Estados Unidos, não desencadeiam um protesto grevista generalizado em todas as fábricas da GM em apoio aos trabalhadores portugueses? Onde é que se encontra o espírito solidário e internacionalista que uniu e consolidou o movimento operário, e deu consciência de classe à classe dos assalariados, no século dezanove e princípios do século vinte?

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