Tuesday, September 26, 2006

MÉXICO


México: a luta pela democracia

As eleições presidenciais que, recentemente, tiveram lugar no México, encontram-se sob forte suspeita de constituírem uma monumental fraude eleitoral. O candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, contestou, desde o primeiro momento, os resultados oficiais que ditaram a sua derrota e exigiu a recontagem de todos os votos o que ainda não aconteceu. Há semanas que ele e os seus apoiantes ocupam a Praça Zócalo, no centro da capital, como forma de contestação. Esta contestação está a espalhar-se por todo o México, constituindo uma exigência de “aprofundamento da democracia”, pondo em causa a legitimidade do Chefe de Estado, supostamente, recém-eleito.
Vale a pena ler o excerto seguinte extraído da revista “Proceso” que se publica na Cidade do México e citado no Courrier Internacional de 15 de Setembro último:
“O México parece estar a enveredar pelo caminho que custou a presidência do Equador a Jamil Muhammad, em Janeiro de 2000, a da Argentina a Fernando de la Rua, em Dezembro de 2001, e da Bolívia a Sánchez Lozada em Outubro de 2003. Ao destituir presidentes democraticamente eleitos, a pressão popular parece travar os processos de normalização institucional levados a cabo na América Latina ao longo dos últimos 20 anos. Se olharmos com atenção, porém, trata-se do oposto: o que exigem é o aprofundamento da democracia.
A mobilização suscitada pelas suspeitas de fraude eleitoral pode vir a impedir o novo Presidente de tomar posse, a 1 de Dezembro. Mesmo que Filipe Calderón (Partido de Acção Nacional, direita católica, indigitado a 6 de Setembro, após a recontagem parcial dos votos) consiga envergar as vestes presidenciais, é provável que tenha dificuldades em levar o mandato de seis anos até ao fim.
Enquanto outros países latino-americanos sofrem crises de governabilidade, o México atravessa uma crise da democracia. A Presidência da República, o Instituto Federal Eleitoral (IFE) e o Tribunal Eleitoral do Poder Judicial tinham por missão garantir a normalidade democrática da primeira sucessão pós-PRI (Parido Revolucionário Institucional). Nenhuma destas instituições esteve à altura. O Presidente utilizou, de forma obsessiva, todos os recursos ao seu alcance, maioritariamente ilegais, não para apoiar o candidato do seu partido, mas para impedir López Obrador (Partido da Revolução Democrática) de chegar ao poder, já que este populista de centro-esquerda ameaçava a empresa em que se converteu, sob Fox; o Governo da república. O Presidente cessante cooptou o Conselho de Cidadãos do IFE, com a cumplicidade do PAN e do PRI, impondo-lhe directrizes contrárias à transparência, à legalidade, à imparcialidade. Quanto ao Tribunal Eleitoral, optou pelo formalismo jurídico, que, longe de dissipar as dúvidas sobre a fraude, passou um certificado de impunidade aos excessos dos poderes político e económico, válido para esta eleição e para as vindouras.
Em suma, o país mergulhou na maior crise de governabilidade dos últimos 40 anos. As instituições já não funcionam e o tecido social está em farrapos. Durante décadas, o país foi governável sem democracia, sistema que se manteve graças ao autoritarismo presidencial que caracterizou os 72 anos de reinado do PRI. Este regime de partido único deu lugar a uma paródia de democracia, agora incapaz de governar, pois os paridos e instituições disputam o poder com base em clientelas, em detrimento dos valores democráticos.”

in: Corrier International


Monday, September 25, 2006

HUNGRIA, TV ocupada por manifestantes

Manifestantes ocuparam a sede da televisão estatal na Praça da Liberdade, no coração de Budapeste, Hungria. As pessoas se reuniram na praça Kossuth (em frente ao parlamento, próximo da praça da Liberdade) desde a tarde de Domingo, com o forte desejo de derrubar o governo. Antes disso, no mesmo dia vazou uma gravação com um discurso de Gyurcsány Ferenc, o primeiro ministro. A fita foi gravada durante um encontro fechado da fração líder dos partidos socialistas em maio, após terem ganhado as eleições.
"Não há muita escolha. Não há, pois nós ferramos. Não um pouco, muito. Nenhum país europeu fez algo tão cabeça-dura como nós fizemos. É evidente, nós mentimos durante o último um ano e meio, dois anos. Estava totalmente claro que o que estamos falando não é verdade. Você não pode citar nenhuma medida governamental significante a qual nós estejamos orgulhosos. Nada. Se nós precisarmos dar contas ao país sobre o que fizemos durante quatro anos, o que dizer?" Gyurcsány Ferenc, primeiro ministro"O conteúdo da fita que vazou ontem não tinha grandes novidades."
Sólyom László, presidente do estado"Na época de campanha qualquer um podia organizar comícios sem pedir permição à polícia. Então a polícia julga a manifestação como sendo não ilegal, disse Gergényi Péter, chefe da Polícia de Budapeste a um dos portais online da mídia corporativa."Os 'desordeiros' queimaram carros no prédio da TV, também atacaram canhões d'água. Após a luta um canhão tinha sido demolido e os oficiais de polícia tiveram que fugir - voltaram após as duas da manhã. Alguns policiais estavam desarmados enquanto o porta-voz da polícia disse que 5.000 policiais anti-motim deveriam chegar a cada minuto. O rumor da chegada da polícia anti-motim se espalhou rapidamente - logo os manifestantes se dispersaram. Após algumas horas oficiais chegaram de verdade no local e todos tiveram que correr.
Dentro do prédio de TV o povo saqueava máquinas de chocolate, demolía o interior, alguns levaram os computadores; no topo da barricada na entrada no prédio havia um carrinho de compras vazio.Os manifestantes representaram diversas convicções políticas. Muitos nacionalistas, hooligans no meio da multidão.. na praça Kossuth a maior parte era de direita, mas quando nós estávamos no prédio ocupado, os trabalhadores anti-fascistas e jovens do gueto estavam chutando um dos carros da televisão, enquanto amantes se fotografavam no topo de um dos canhões d'água queimados... em volta de um carro de fumaça alguns anarquistas felizes (the September Eighteenth) distribuíam panfletos.Às 5 da manhã a polícia retirou os poucos que continuavam no prédio e começou a investigar a cena na praça da Liberdade. Hoje a noite o povo tirou do ar a televisão a foi às ruas. A tomada da TV. A tomada do espetáculo.

in: indymedia.org


Bertold Brecht



Dificuldade de Governar



1. Todos os dias os ministros dizem ao povo Como é difícil governar.

Sem os ministros o trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.

Nem um pedaço de carvão sairia das minas se o chanceler não fosse tão inteligente.

Sem o ministro da Propaganda mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.

Sem o ministro da Guerra nunca mais haveria guerra.

E atrever-se ia a nascer o sol sem a autorização do Führer?

Não é nada provável e se o fosse ele nasceria por certo fora do lugar.

2. E também difícil, ao que nos é dito, dirigir uma fábrica. Sem o patrão as paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.

Se algures fizessem um arado ele nunca chegaria ao campo sem as palavras avisadas do industrial aos camponeses: Quem, de outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que seria da propriedade rural sem o proprietário rural?

Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3. Se governar fosse fácil não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.

Se o operário soubesse usar a sua máquina e se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.

E só porque toda a gente é tão estúpida que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4. Ou será que Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira são coisas que custam a aprender?

Bertolt Brecht

PSTU



O PSTU é um dos partidos que com o PSOL fazem parte da coligação que apoia a candidatura de Heloisa Helena

Romper com Alca e o FMI! O Brasil precisa de uma segunda independência! O FMI dita os planos econômicos, as multinacionais controlam diretamente os setores mais dinâmicos da economia e as principais instituições do país estão nas mãos do imperialismo que impede a soberania nacional. Com a Alca o país será definitivamente reduzido à condição de colônia. O PSTU afirma que sem romper com o imperialismo, não existe nenhuma possibilidade de acabar com o desemprego, com o arrocho salarial, avançar na reforma agrária, combater a fome e garantir melhores condições de vida. Para que o país possa retomar seu crescimento é preciso deixar de pagar a dívida pública e romper com o FMI, que impõe um controle despótico e anti-operário da economia nacional.

Da mesma forma é preciso romper com as negociações da Alca, para evitar a recolonização do país. O que o Brasil precisa é de uma segunda independência!Não pagar a dívida para garantir emprego, salário, terra, moradia, educação e saúde pública e de qualidade para todos. O pagamento da dívida externa é um verdadeiro crime contra o povo e o país. É preciso deixar de pagá-la imediatamente para que se possa redirecionar os investimentos, garantindo emprego, salário, moradia, educação, saúde e a reforma agrária.Os partidos burgueses, que representam os interesses do grande capital e a grande imprensa, dizem que não é justo deixar de pagar a dívida. Afirmam que “quem deve tem de pagar”. Até mesmo PT, agora no governo, repete esta mesma ladainha. Dessa forma, parecem esquecer que essa dívida não foi feita pelo povo brasileiro. Ele nunca foi consultado.

Tampouco se beneficiou desse dinheiro. Ao contrário, enquanto a dívida aumentava, os salários e emprego diminuíam e a estrutura produtiva do país retrocedia. Essa é, portanto, uma dívida ilegítima. Além do mais não querem ver que essa dívida já foi paga diversas vezes. Sem mais argumentos, ameaçam dizendo que a ruptura com o FMI levaria o país ao caos, com o fim dos financiamentos externos e o fechamento do mercado internacional. Frente a um fato como esse, a resposta de um governo dos trabalhadores deve ser enérgica: todo aquele que boicotar a economia do país deve ter seus bens imediatamente confiscados e suas empresas nacionalizadas, colocando-os a serviço do país e da população. Para enfrentar o bloqueio externo devemos fazer um chamado aos demais países devedores para a formação de uma frente continental pela suspensão do pagamento da dívida. Essa frente estabeleceria um comércio comum baseado no princípio da solidariedade dos povos e não da concorrência e do lucro capitalista. Seus países realizariam uma auditoria para mostrar ao mundo inteiro que essas dívidas já foram mais do que pagas às custas da fome do povo.

Uma atitude como essa receberia o apoio e mobilizaria milhões em todo o mundo e inclusive nos EUA. Tributar as grandes fortunas e combater a sonegação fiscal! Além de suspender o pagamento da dívida e reorientar os gastos para garantir os direitos e necessidades sociais da maioria da população, é preciso mudar radicalmente a política de arrecadação do governo. Os tributos no Brasil são regressivos, quem tem mais paga menos. Além disso, a burguesia se utiliza de vários artifícios, inclusive legais, para sonegar e pagar menos impostos. Os desempregos e os trabalhadores de baixa renda devem ser isentos do pagamento de impostos. Os tributos devem recair sobre as grandes empresas, bancos e os mais ricos. É necessária uma forte taxação progressiva sobre rendas, lucros e patrimônios, particularmente sobre as grandes fortunas. Ao mesmo tempo os sonegadores deverão ser punidos progressivamente, até que seus bens sejam definitivamente confiscados.

Reajuste mensal de salários! Salário mínimo do DIEESE!Congelamento dos preços, tarifas e mensalidades escolares! Sem uma modificação da política salarial não existe possibilidade de combater a fome e a miséria. Para justificar o arrocho salarial se afirma que os reajustes são inflacionários. Se isso fosse verdade não existiria mais inflação no Brasil tão forte foi o arrocho em todos os governos anteriores.Defendemos um reajuste que garanta reposição das perdas salariais. Como menor salário defendemos o mínimo do DIEESE, visando atender as necessidades básicas como alimentação, habitação, vestuário e saúde.Para impedir o repasse desse aumento, defendemos o congelamento dos preços, tarifas e mensalidades escolares. Combater o desemprego: por um plano de obras públicas e redução da jornada de trabalho sem redução dos salários! Para combater o desemprego propomos um plano de obras públicas que tenha como objetivo a construção massiva de casas populares, hospitais, creches, escolas e universidades, estradas, ferrovias, meios de transportes públicos e portos.

Este plano incorporaria milhões de desempregados num grande mutirão nacional de reconstrução do país. A luta contra o desemprego não será completa se não responder a ameaça imediata e constante de demissões. A burguesia coloca os avanços tecnológicos a serviço do lucro gerando um desemprego crescente. Propomos colocar esses avanços a serviço do bem-estar dos trabalhadores. Defendemos a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, para garantir mais postos de trabalho e deixar o tempo livre para o descanso junto à família, a cultura e o lazer.
Realizar uma reforma agrária ampla e radical sob controle dos trabalhadores! Não há como buscar uma solução para a situação do país sem que seja resolvido o problema do campo, ou seja, sem se realizar uma ampla, profunda e radical reforma agrária. Mas isso só será possível se enfrentar os interesses dos latifundiários e do grande capital financeiro a eles associados.Defendemos a expropriação sem indenização dos latifúndios. Propomos que todas as terras do país sejam propriedade do Estado, mas garantindo o pedaço de terra para quem nela queira trabalhar. Haverá um redirecionamento da produção de forma a atender às necessidades da população e não do mercado.

O Estado deve garantir os investimentos necessários para a produção de máquinas e implementos agrícolas; deve garantir crédito barato para os pequenos agricultores; e por fim, o Estado deve também garantir a distribuição e o escoamento da produção, bem como o preço mínimo dos produtos. Estatização do sistema financeiro! Os bancos não passam de instituições parasitárias e altamente lucrativas. Voltados para a especulação e o lucro fácil, não servem para financiar a produção. Não existe nenhuma possibilidade de financiar um plano econômico com as finanças nas mãos de sabotadores e especuladores.Defendemos a expropriação e a estatização dos bancos utilizando seus enormes recursos para garantir o investimento nas áreas sociais e na infraestrutura do país. Aos pequenos comerciantes e pequenos produtores seriam garantidos créditos baratos. A estatização do sistema financeiro garantirá o controle e a centralização do câmbio, impedindo a especulação, a fuga de dólares e a remessa de lucros para fora do país.

Expropriação das grandes empresas e reestatização das empresas privatizadas! As grandes empresas nacionais e estrangeiras dominam os principais ramos de produção e impõem o retrocesso ao país. Defendemos a expropriação sem indenização(9) dessas grandes empresas. A nacionalização é vital para impedir as crises, controlar os preços e orientar a produção segundo os interesses da maioria da população. Ao mesmo tempo propomos a reestatização sem indenização(10) das empresas estatais estatizadas. É preciso reincorporá-las ao patrimônio público e colocá-las a serviço do país e dos trabalhadores. Pelo monopólio do comércio exterior! O comércio entre as nações não deve atender às necessidades dos grandes grupos econômicos internacionais sempre disposto a tirar vantagens através de uma troca desigual. É preciso o mais rigoroso controle do comércio exterior, impedindo o livre trânsito do capital internacional. O Estado deve controlar o comércio exterior do país, definindo uma política de exportação e importação que esteja a serviço das necessidades dos trabalhadores e do povo explorado. A política de um governo dos trabalhadores deve seguir o princípio da solidariedade entre os povos.

Por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo Se curvando perante o capital internacional, preferindo se tornar seus sócios menores ao invés de enfrentá-los, a burguesia nacional é incapaz de defender a soberania nacional ou fazer a reforma agrária.Fiel representante da burguesia nacional e do grande capital internacional, o governo Lula governa contra os interesses do povo. Colocou seus representantes em postos-chaves do governo: José de Alencar, um dos maiores empresários da tecelagem, tornou-se vice-presidente; Roberto Rodrigues, um agroindustrial, foi escolhido como ministro da agricultura; Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank Boston, verdadeiro representante dos banqueiros internacionais, foi promovido para a presidência do Banco Central. Somente a aliança dos trabalhadores da cidade e do campo, junto com os demais setores oprimidos da população, poderá atender às necessidades básicas da população como emprego, salário e terra.

Para isso, é necessário trilhar por um caminho independe da burguesia e construir seu próprio governo: “a libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”, como já dizia Engels.

POEMA

Todos os marinheiros partiram, deixando as suas sombras para trás. Aqui as sombras são património das mulheres que fiam o vento, que fiam eternamente o linho dos dias.
Aqui a espuma brilha entre os dedos das tardes, e as aves exibem a grandeza liberta de cada um dos seus dias.
Aqui por agora nada se pode dizer da proximidade de cada noite,nem dessa longa espera das velas distantes.
Estas casas escrevem, escrevem lentamente cada uma a sua história,uma história de dias que passaram entre cânticos de marinheiros ébrios de luz.
E que significado terá cada rua, cada esquina, cada janela, quando tudo o que limita nos conduzirá ao indefinido?
E os que agora afrontam lá longe as vagas, exercendo essa arte milenária da fuga,desprezarão depois os seus filhos?
Aquelas mulheres que continuam fiando os seus dias,os dias justos, os dias intermináveis, junto à sombra de suas casas, justificarão talvez as tempestades que lá longe matam.
É pois imprescindível entender a afabilidade dessas mulheres que escolheram os lares habitados pelo pêndulo hesitante do vento, habitados por ilegíveis sinais, habitados únicamente pela memória melancólica dos que partiram.
E assim vão permanecer longo tempo porque elas são a rocha e a árvore, que assegura a inércia sábia da existência.
Fiam o sem fim, fiam lentamente o estranho e longo fio que dá nome à vida.

Fernando Gregório

COLÔMBIA


O seguinte artigo foi extraído do blog http://5dias.net/


Os amigos do Sr. Embaixador

Setembro 22, 2006 por Nuno Ramos de Almeida

Quando estive na Colômbia contava-se a seguinte anedota: numa recepção diplomática, um adido colombiano que estava ligeiramente toldado com as infinitas possibilidades do bar aberto, abordou, no meio das suas deambulações etílicas, o embaixador do Paraguai e perguntou-lhe “porque razão havia um Ministério da Marinha se não tinham mar”. O paraguaio não se atemorizou e respondeu-lhe: “pela mesmíssima razão que os colombianos têm um Ministério da Justiça”.Um amigo meu relatava-me que tinha fugido da zona de Cartagena porque o tinham ameaçado duas vezes de morte e tinha escapado, como por milagre, a um tiroteio.“Tive a nítida sensação que se não abandonasse a família e a casa, um dias destes aparecia morto junto à universidade”, dizia ele.

Diego era simplesmente um dirigente estudantil de esquerda, mas para sobreviver às agruras da “democracia” colombiana só tinha duas soluções: ou fugia para o estrangeiro ou refugiava-se na zona em que a guerrilha manda.Vim encontrá-lo num acampamento das FARC, junto ao Amazonas.O caso dele não é, infelizmente, o único. Quando fui à Universidade de Bogotá vi inúmeros papeis macabros, fotografias de professores e estudantes desaparecidos, presumivelmente abatidos pelos esquadrões da morte.

Há menos de um ano, uma das activistas mais corajosas que conheço - a Rita Cruz das PBI -, que durante anos esteve, com um grupo de estrangeiro, a viver numa aldeia da paz para impedir que os aldeões fossem massacrados, enviou pela Internet a seguinte denúncia: “San Jose de Apartado é uma das comunidades que enquanto Peace Brigades International (PBI) ajudei a proteger. É uma pequena comunidade no norte da Colômbia, situada num local demasiado estratégico; uma comunidade de camponeses que vive do cacao e da banana, que produzem em quantidade e tentam vender quando não são impedidos pelos actores armados. São pobres nos bens, mas determinados na sobrevivência. Vivem ameaças constantes, principalmente por parte dos paramilitares (braço armado ilegal do exército colombiano), mas respondem sempre com dignidade e sem recurso a armas, apenas com a palavra e o apelo à solidariedade internacional.

Não consigo expressar o quanto cada um dos líderes desta comunidade me fazia sentir humilde e pequena, muito pequenina, nas minhas lutas, ambições, frustrações, expectativas… Porque são assim, são fonte de inspiração para muitas outras comunidades dentro e fora da Colômbia, comunidades que resistem sem armas mas também sem silêncio.

Queria contra-vos que um desses líderes, Luís Eduardo, foi abordado pelo exército quando regressava do campo, juntamente com outras setepessoas, entre as quais quatro menores. Os corpos foram encontrados no dia seguinte, esquartejados, com sinais de tortura e deixados a apodrecer numa vala comum.Diz-se que quem cala consente. Eu queria pedir-vos que me ajudassem a não calar. Feitos de uma coragem que eu desconheço, a comunidade vai manter-se de pé, os líderes vão continuar a falar, até que, afirmam, oúltimo seja liquidado. Não vai ser fácil acabar com uma comunidade assim, menos ainda se a cada golpe se juntarem vozes de indignação do mundo inteiro, olhares atentos que distinguem claramente justiça da injustiça e que não deixam passar em silêncio um massacre deste tipo.

Quando estive na Colômbia e houve uma invasão paramilitar dacomunidade de Cacarica, as cartas também chegaram, em catadupas.

Quando tive uma reunião com o comandante da marinha, obviamente implicado na organização da invasão, estava-lhe estampado no rosto a raiva que as cartas, espalhadas na mesa, lhe causavam. Desprezou-as nos gestos, minimizou-as nas palavras, não abria grande parte delas, mas sabia o que continham, e a raiva de não sentir que os seus movimentos eram livres brilhavam-lhe nos olhos”.

Numa altura em que os sites mais insuspeitos promovem um abaixo-assinado de condenação da visita das FARC à Festa do Avante e de solidariedade com o governo da Colômbia, talvez seja interessante dizer que o moralmente surpreendente não é que o PCP tenha relações com as FARC, mas que a democracia portuguesa aceite albergar um representante do regime colombiano.Sou jornalista e tive a oportunidade de fazer algumas reportagens sobre guerrilhas. Estive algumas semanas nas áreas controladas pelos zapatistas e quase um mês nos acampamentos das FARC.A Colômbia vive em guerra desde o final dos anos 40. As actuais guerrilhas comunistas são herdeiras dos camponeses liberais que se revoltaram no “Bogotazo”, depois do assassinato do líder liberal Jorge Gaitan. Desde aí, “La Violenzia” impera. O país tem quase dois milhões de deslocados de guerra, morreram centenas de milhar de pessoas. No campo, exércitos e paramilitares usam a habitual táctica da contra-guerrilha, se os guerrilheiros vivem no meio da população, dizia Mao, como “peixe na água”, então é necessário secar esta corrente.

Estive em aldeias em que os paramilitares entraram e mataram à frente de toda a gente dezenas de pessoas. Houve homens que foram serrados com moto-serras, mulheres violadas em frente dos filhos. A impunidade destes grupos é tão grande, que a jornalista Jineth Bedoya, de um dos maiores jornais Colombianos (“El Espectador”), foi raptada, agredida e violada por dezenas de presos paramilitares, durante uma visita que fazia a uma cadeia de “alta-segurança” de Bogotá.Grande parte destes crimes continuam a acontecer durante o mandato do actual presidente colombiano Uribe, que acabou com as negociações de paz iniciadas pelo anterior presidente Pastrana. Conversações difíceis, até porque a desconfiança impera nos dois lados. Na última vez que a guerrilha abandonou as armas, no ano de 1984, e acreditou nas promessas de democratização do governo da Colômbia, foram assassinados, pelos esquadrões da morte, 3000 militantes da Frente Patriótica (partido criado pelas FARC), entre os quais vários senadores, deputados e dois candidatos presidenciais.

Costuma-se acusar a guerrilha colombiana de não passar de um bando de traficantes de droga. Sobre a cocaína na Colômbia é preciso esclarecer que ela atinge toda a sociedade. Durante a presidência de Gavíria (1990-94), foi encontrada droga no avião oficial que aterrou nos Estados Unidos; os colombianos chamam, por piada, à Força Aérea de “Cartel Azul”, porque quando dois aviões militares foram fazer manutenção a Miami, encontraram-se duas toneladas de coca; recentemente os paramilitares liquidaram o seu antigo chefe Carlos Castaño, devido a uma divergência de negócios.Sobre a guerrilha e a droga, a relação é igualmente complicada. Uma vez perguntei a um comandante das FARC, o comandante Jairo, sobre a relação entre a guerrilha e os traficantes. Ele respondeu-me que “a guerrilha existia muito antes da droga e que a sua razão de vida não é o tráfico, mas que a guerrilha sobrevive com o apoio dos camponeses e, como tal, não vai impedir os camponeses de cultivar a coca”. Embora, as FARC afirmem ser favoráveis a uma política de substituição de culturas, é também verdade que os guerrilheiros cobram uma taxa sobre o negócio da droga. Uma das experiências mais impressionantes que vivi foi uma ida a uma plantação e laboratório de coca. Durante um dia inteiro, desci de barco um afluente do Amazonas, andei durante uma tarde pela selva e cheguei a uma plantação. Aí, uma família de cinco pessoas produzia três quilos de pasta de coca, de dois em dois meses. Isso dava-lhe menos de 100 contos por mês, centenas de vezes menos que o valor da droga nas ruas dos states.

À sua volta trabalhavam dezenas de raspatchines , jovens, muitas vezes miúdos, que recolhiam as folhas verdes da coca. De puxar as plantas, tinham as mãos negras e calejadas nessa zona. Enquanto colhiam, cantavam uma música sobre jovens raspatchines que enriqueciam, compravam carros e viviam com belas mulheres meio nuas em piscinas… tudo isto, era o sonho MTV destes jovens, em plena zona da guerrilha.É verdade que a droga não fez a guerrilha, mas também é verdade que o pó e o seu dinheiro corrompe tudo o que toca. Esta guerra sem fim que se vive na Colômbia tornou a luta armada dos camponeses numa guerrilha sem revolução, em que o desespero os leva a considerar qualquer forma de luta. Se em 1984, o líder guerrilheiro Marulanda condenava os sequestros como contrários à luta política, hoje, os raptos normalmente chamados “pescas milagrosas” são consideradas formas normais de luta.

Como a esquerda aprendeu à sua custa há muito tempo, os fins não justificam os meios e o facto do governo da Colômbia ter presos em condições inumanas milhares de militantes de esquerda não pode justificar raptos como a da candidata presidencial Ingrid Betancourt.
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Friday, September 22, 2006

COMÉRCIO JUSTO



Comércio Justo

Quando tomamos uma “bica”, talvez não tenhamos consciência que, dos cerca de 50 cêntimos que pagamos, menos de 1 cêntimo (menos de 2%) reverte a favor do produtor, na América Latina ou em África. Será isto justo?
Obviamente que não. Trata-­se, apenas, de um entre os milhares de exemplos que explicam a continuada transferência de riqueza dos países do sul (subdesenvolvido) para os do norte (industrializado).
Há muito que se sabe que estas relações injustas não se resolvem com ajudas pois elas não incidem sobre as causas da miséria.
Foi, a partir desta ideia que se começou a organizar o Comércio Justo na Europa, como resposta a um apelo dos países do Sul, na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, em 1964.
O Comércio Justo (CJ) é definido pela Rede Europeia de Comércio Justo como:

“uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar o seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentado. O Comércio Justo procura criar os meios e oportunidades para melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos. A sua missão é a de promover a equidade social, a protecção do ambiente e a segurança económica através do comércio e da promoção de campanhas de consciencialização”.

O CJ é uma alternativa ao comércio tradicional, regendo-se por valores éticos em vez de critérios económicos. Entre esses valores há que salientar, entre outros, a rejeição do trabalho infantil, o respeito pelos direitos humanos e pelo ambiente, a promoção do desenvolvimento sustentável, a valorização das mulheres e o pagamento de um preço justo.
Os protagonistas desta forma de comércio alternativo são:
Produtores - envolvem cerca de um milhão de trabalhadores, em mais de 800 cooperativas de 45 países do Sul do Planeta.
Importadores – são cerca de 50 organizações que se situam, principalmente, na UE mas também na América do Norte, Japão e Austrália. Os produtos envolvidos são alimentos, têxteis e artesanato.
Lojas do Mundo – na Europa contam-se perto de 3000 Lojas do Comércio Justo, tendo a Alemanha o maior número.
O conceito de CJ entrou em Portugal, em 1995 por iniciativa do CIDAC (Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral) mas a primeira loja só abriu em Agosto de 1999. Daí para cá, este movimento foi crescendo com lojas já abertas em vários pontos do país e outras em vias de inauguração. No Algarve, por enquanto, existe, apenas, uma em Faro.


Luís Moleiro aderente do BE


Wednesday, September 20, 2006

Apareceu na blogosfera portimonense um novo blog.
http://fala-portimao.blogspot.com , o referido blog indicia a existência de um núcleo de jovens anticapitalistas e libertários na nossa cidade.
Desde já o blocoemportimão saúda os camaradas libertários, com a certeza de que apesar das nossas diferenças poderemos num futuro próximo participar conjuntamente e no terreno em algumas lutas comuns.

Hannah Arendt



A Pluralidade Humana






A pluridade humana, condição básica da acção e do discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus antepassados, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras.

Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da acção para se fazerem entender. Com simples sinais e sons poderiam comunicar as suas necessidades imediatas e idênticas.
Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o que existe e que, para a filosofia medieval, é uma das quatro características básicas e universais que transcendem todas as qualidades particulares. A alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela qual todas as nossas definições são distinções e o motivo pelo qual não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra.

Na sua forma mais abstracta, a alteridade está apenas presente na mera multiplicação de objectos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome, afecto, hostilidade ou medo.

No homem, a alteridade, que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres singulares.

Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'

Tuesday, September 19, 2006

Noham Chomsky

O Conselho de Segurança da ONU actua dentro
de limites impostos pelas grandes potências
– Entrevista a Noam Chomsky –

Nermeen Al Mufti
The New Anatolian - link

A Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU chegou muito tarde e estabeleceu um cessar­‑fogo frágil, contudo haverá outra guerra enquanto Israel, apoiado por Bush, tiver o pretexto das “fronteiras seguras”, e o próprio Bush insistir em ir mais além na sua guerra contra o terrorismo.

O eminente Professor Noam Chomsky, nesta entrevista para o The New Anatolian, fala sobre a guerra israelo­‑libanesa e o Conselho de Segurança da ONU.

A primeira pergunta é muito simples e no entanto nunca foi respondida: Por que tem Israel o direito de autodefesa, enquanto os países árabes não? Os EUA têm o mesmo direito, enquanto o Iraque não!

A resposta foi dada há muito tempo por Tucídides (“Diálogo dos Mélios” in História da Guerra do Peloponeso, Livro V): Os fortes fazem o que podem, e os fracos sofrem como devem. É um dos princípios mais importantes das relações internacionais. Muitos estados árabes declararam que não iam cortar relações com Israel; ao mesmo tempo (respire) declararam que a guerra era uma guerra do Hezbollah e da sua culpa.

Acha que houve e ainda há uma pressão americana por trás disto, ou os regimes árabes têm medo da “mudança de regime” e fazem o seu melhor para satisfazer a Casa Branca?

Numa reunião de emergência da Liga Árabe, a maioria dos estados árabes (tirando a Argélia, o Líbano, a Síria e o Iémen) condenaram o Hezbollah. Ao fazê-lo, estavam dispostos a «desafiar abertamente a opinião pública», como relatou o New York Times. Mais tarde tiveram de recuar, incluindo o mais antigo e mais importante aliado de Washington na região, a Arábia Saudita: o rei Abdullah disse que «se a opção de paz for rejeitada devido à arrogância israelita, então só resta a opção da guerra, e ninguém sabe que repercussões vai ter na região, incluindo guerras e conflitos que não vão poupar ninguém, incluindo aqueles cujo poder militar os está a tentar a brincar com o fogo».

A maioria dos analistas assume – plausivelmente, penso – que a sua principal preocupação é a influência crescente do Irão, e o embaraço causado pelo facto de, no mundo árabe, apenas o Hezbollah ter oferecido apoio aos palestinianos que sofriam um ataque brutal nos territórios ocupados.

Houve alguma justificação moral ou legal para esta guerra, como o Presidente George W. Bush, a Secretária de Estado Condoleeza Rice e os média ocidentais insistiram?

Podemos ignorar Bush e Rice, que são participantes na invasão israelo-americana do Líbano. Sabemos muito bem que, pelos padrões ocidentais não há justificação moral ou legal para a guerra. Prova suficiente é o facto de que, por muitos anos, Israel raptou libaneses regularmente, enviando-os para prisões em Israel, incluindo prisões secretas como o famoso Campo 1391, que foi descoberto por acaso e rapidamente esquecido (e, nos EUA, nunca sequer relatado pelos média de referência). Ninguém sugeriu que o Líbano, ou outro qualquer, tinha o direito de invadir e destruir grande parte de Israel em retaliação. Como este feio e longo registo torna claro, o rapto de civis – um crime muito pior do que a captura de soldados – é considerado insignificante pelos EUA, o Reino Unido e outros estados ocidentais, e pela opinião articulada em geral no seu interior, quando é feito pelo “nosso lado”. Este facto foi revelado dramaticamente uma vez mais no início da actual explosão de violência, depois do Hamas ter capturado um soldado israelita, o cabo Gilad Shalit, em 25 de Junho. Essa acção suscitou uma grande demonstração de indignação no Ocidente, e apoio à intensa escalada dos ataques de Israel em Gaza. Um dia antes, a 24 de Junho, forças israelitas tinham raptado dois civis em Gaza, um médico e o seu irmão, enviando-os para algum lugar do sistema prisional israelita. O acontecimento mal foi relatado, e suscitou pouco, se algum, comentário nos média de referência. A sequência dos acontecimentos por si só revela com vívida clareza que a demonstração de indignação devido à captura de soldados israelitas é uma fraude cínica, e mina quaisquer réstias de legitimidade moral pelas acções que lhe sucederam.

Há algum pretexto que poderia justificar os massacres diários no Líbano e em Gaza?

Com uma vívida imaginação, pode-se pensar em muitos pretextos. No mundo real, não há nenhum. E podemos acrescentar a esquecida Cisjordânia, onde os EUA e Israel estão a prosseguir com os seus planos de pregar os últimos pregos no caixão dos direitos nacionais palestinianos, através dos seus programas de anexação, cantonização e aprisionamento (pela apropriação do Vale do Jordão). Estes planos são executados no quadro de outra cínica fraude: a “convergência” (a “hitkansut” israelita), retratada nos EUA como “retirada”, num notável triunfo de relações públicas. Também há muito esquecidos estão os ocupados Montes Golã, praticamente anexados por Israel em violação às ordens unânimes do Conselho de Segurança (mas com o apoio tácito dos EUA).

Não consigo entender a arrogância israelita. Consegue?

Mais uma vez, a máxima de Tucídides. E vale a pena ter em mente que Israel pode ir tão longe quanto o seu protector em Washington permitir e apoiar.

Como iraquiano, penso que a actual guerra contra o Líbano e Gaza é uma parte essencial do esquema de Bush para mudar a região – quero dizer, redesenhar as fronteiras estabelecidas pelo acordo de Sykes-Picot de 1916.

Duvido que a maior parte deles alguma vez tenha sequer ouvido falar de Sykes-Picot. Eles têm os seus próprios planos para a região. O mais importante deles é o empenho tradicional de controlar os principais recursos mundiais de energia. Os que não alinham podem esperar ser alvos de subversão ou de agressão. Isso não deveria surpreender, pelo menos os que conhecem a história do século passado (na verdade, muito anterior).

Como podemos explicar o papel do Conselho de Segurança da ONU na destruição do Líbano e de Gaza agora, e do Iraque antes?

O Conselho de Segurança actua dentro de limites impostos pelas grandes potências, principalmente os Estados Unidos, em virtude do seu enorme poder. Podem geralmente contar com a Grã­‑Bretanha, particularmente a Grã­‑Bretanha de Blair, que é descrito de modo sardónico no principal jornal britânico de assuntos internacionais como o «estafeta da Pax Americana». Nos primeiros anos do pós-guerra, por razões óbvias, a ONU estava em geral sob o domínio dos EUA, e era muito popular entre as elites estadunidenses. Em meados dos anos 60, estava a deixar de o ser, com a descolonização e a recuperação das sociedades industriais da devastação dos tempos de guerra. Desde essa data, os EUA têm estado na liderança dos vetos a resoluções do Conselho de Segurança numa ampla gama de assuntos, com a Grã­‑Bretanha em segundo lugar, e nenhum dos outros sequer perto. Concomitantemente, o apoio da elite à ONU caiu acentuadamente nos EUA – apesar de, interessantemente, o apoio popular à ONU ter permanecido notavelmente alto, um dos muitos exemplos do enorme fosso entre a opinião pública e a política pública dos EUA. Acima e sobre este limite crucial, o poderio dos EUA permite-lhe moldar as resoluções e acções que está disposto a aceitar. Outras potências têm os seus próprios motivos cínicos para o que fazem, mas a sua influência é naturalmente menor – de novo, a máxima de Tucídides. As forças populares poderiam fazer uma diferença substancial, e às vezes fazem, mas até que o prevalecente “défice democrático” seja reduzido, esse efeito será limitado.

Pensa que o Irão e a Síria estiveram por trás desta guerra, como disse Bush?

Assume­‑se geralmente que eles pelo menos deram autorização ao Hezbollah para o ataque de 12 de Julho às forças militares israelitas na fronteira. Contudo, muitos dos mais sérios analistas do Hezbollah, e do Irão, exprimiram a sua conclusão de que as acções do Hezbollah são de sua própria iniciativa.

Lá vai a marcha



Lá vai a Marcha…




No passado fim-de-semana, integrado numa “coluna” vinda do Alentejo e do Algarve, participei na Marcha do Emprego promovida pelo BE. Com partida às 10 da manhã do Largo Catarina Eufémia, junto ao velhinho mercado municipal do Barreiro, a Marcha percorreu as principais artérias da cidade, rumando à estação do Lavradio, com chegada à Baixa da Banheira um pouco antes da hora do merecido almoço. Com o toque de alegria, dado por uma charanga popular da Moita, sucediam-se os contactos com mulheres e homens duma terra sofrida pelo desemprego, mas orgulhosa do seu lugar ímpar na história do movimento operário. E não surpreenderam as atenções despertadas por um cartaz com os dizeres “Alentejo Presente”, numa zona de migração de tantos alentejanos.

Retemperadas forças, a Marcha atravessou Alhos Vedros, recebendo a saudação do vereador do BE, Joaquim Raminhos e dirigindo-se depois à sede do concelho da Moita, onde decorriam as festas tradicionais. No Domingo, partindo de Corroios, passando pelo Laranjeiro e pela Cova da Piedade, a marcha atravessou a cidade de Almada e embarcou em Cacilhas até Lisboa. Na Mãe de Água das Amoreiras deu-se o encontro memorável das “colunas” Norte e Sul, com centenas de activistas a rumarem à Estufa-Fria, completamente lotada, no encerramento da Marcha.

Afinal o que levou mais de um milhar de pessoas percorrerem, ao longo de 17 dias, 300 quilómetros e muitas outras a participarem em 50 sessões públicas, nas principais cidades e vilas do litoral, onde se concentra a população… e o desemprego? Tratou-se duma iniciativa inédita em Portugal que reproduz, de certa forma, as marchas dos desempregados que têm percorrido a Europa a caminho de Bruxelas. Mas, além de uma iniciativa contra o desemprego, esta Marcha pelo Emprego assumiu, até no nome, o carácter alternativo das propostas que foram sendo apresentadas e pretendem ajudar a traçar um rumo distinto da cavalgada neoliberal que semeia o desemprego e ataca a dignidade do trabalho como valor estruturante da vida em sociedade.

Entre inúmeras propostas, destaco: a proibição dos despedimentos e falsas rescisões “voluntárias” em empresas lucrativas; a criação de um contrato-emprego de pelo menos três anos para quem está em formação; o desenvolvimento de serviços públicos como a saúde, onde é flagrante a falta de profissionais; a igualdade efectiva entre homens e mulheres, no salário e nos direitos; o combate à precariedade, com a proibição das empresas de pseudo trabalho temporário e a passagem a efectivos de todos os trabalhadores, ao fim de um ano de contrato.

A proposta mais destacada pela imprensa foi, sem dúvida, a redução da semana de trabalho para 36 horas, podendo o trabalhador optar por mais um dia de descanso semanal, fazendo 9 horas diárias. Alguns tentam ridicularizar esta proposta que, em minha opinião, é a mais fracturante: “lá estão eles, não querem é trabalhar”. Quantitativamente, nem é ousado propor 36 horas numa Europa onde vários países baixaram das 35 horas semanais, embora se verifique hoje uma tendência regressiva; e a redução de um dia de trabalho tem sido adoptada parcialmente em situações de crise da produção, por exemplo no acordo da Autoeuropa que permitiu salvaguardar centenas de postos de trabalho.

Além disso a redução da jornada de trabalho é uma velha luta do movimento operário, desde o tempo em que se trabalhava de sol a sol, também aqui no Alentejo. Numa altura em que o trabalho é “um bem escasso que tem de ser partilhado”, o maior alcance desta proposta é o salto qualitativo de mais um dia livre para a actividade social, para a família e para o lazer: é aqui que se entrelaçam o direito ao trabalho e o exercício da cidadania activa e se rasgam caminhos de futuro.

E a provar que o flagelo do desemprego não se limita ao litoral, um caso exemplar de chantagem patronal: os trabalhadores (docentes e não só) do Instituto Superior de Serviço Social de Beja e de Lisboa estão a ser alvo de uma pressão inqualificável para a “rescisão voluntária” dos contratos sem termo (isto é, efectivos) com a CESDET – titular deste Instituto que já formou centenas de técnicos sociais no nosso distrito. Em troca, acenam-lhes com um contrato a prazo com a Fundação Minerva (proprietária da U. Lusíada), sem garantia sequer de receberem centenas de contos de salários que têm em atraso. Trata-se de pura chantagem, pois a Fundação Minerva é obrigada por lei a respeitar todos os contratos da CESDET, em primeiro lugar com os seus trabalhadores. O ministro Mariano Gago já foi chamado ao parlamento para explicar todos os contornos desta “operação inédita”.

A Marcha pelo Emprego, tal como na letra da canção, já “vem de longe e vai para muito longe”…


Alberto Matos – Crónica semanal na Rádio Pax – 19/09/2006

Wednesday, September 13, 2006

ELEIÇÕES NO BRASIL


HELOÍSA HELENA DEFENDE ALTERAÇÕES NA POLITICA ECONÓMICA




Heloísa Helena defendeu mudanças na política econômica brasileira, que não podem prescindir de redução na taxa de juros e revisão na tributação imposta à classe média. Convencida de que é possível conciliar desenvolvimento econômico com inclusão social, a presidenciável afirmou que a queda dos juros poderá viabilizar a liberação de R$ 160 bilhões para investimentos públicos na geração de emprego e renda, saúde, educação e segurança pública. Ouça o pronunciamento.
Ao tratar dos juros, Heloísa observou que a definição dessa política não cabe ao Comitê de Política Monetária (COPOM) - que realiza reuniões regulares para decidir a manutenção ou revisão da taxa básica adotada pelo país -, mas ao Conselho Monetário Nacional (CMN). Embora sustente que mudanças nos juros podem ser feitas por meio de decreto presidencial, a senadora afirma que o Banco Central poderia adotar medidas para reduzi-lo se não atuasse "como serviçal do capital financeiro".
Em relação à reforma tributária, disse que ela não é feita "porque o governo não quer". Heloísa reconhece que a redução na carga tributária imposta à classe média pode diminuir a arrecadação no curto prazo - fator que desestimularia o governo a encampá-la -, mas ponderou que essa perda seria compensada com a queda na taxa de juros.

Tuesday, September 12, 2006

Prémio - O cara de pau...!!


Líbano




12/09/06
PROTESTOS CONTRA A VISITA DE BLAIR



Blair foi recebido em Beirute por protestos e por um clima generalizado de hostilidade. Milhares de pessoas juntaram-se numa manifestação de protesto contra a visita do primeiro-ministro britânico. A conferência de imprensa, que dava em conjunto com o primeiro-ministro libanês, foi interrompida por uma mulher com uma faixa dizendo “Boicotem o apartheid de Israel”. Diversos ministros do governo libanês não aceitaram recebê-lo.
Fouad Siniora, primeiro-ministro do Líbano, tinha convidado Blair a visitar Beirute quando o país ainda estava a ser bombardeado, mas só depois do cessar-fogo é que ele aceitou o convite.
Blair foi recebido num clima generalizado de hostilidade, visível desde logo na imprensa. O Daily Star apelava a que o primeiro-ministro britânico tivesse uma recepção "glacial".
Nas ruas milhares de pessoas fizeram um cordão humano no centro de Beirute e manifestaram-se com cartazes dizendo "Blair you are not welcome in Lebanon" ("Blair não és bem-vindo ao Líbano"), "Assassino" e "Vai para o inferno"
O presidente do parlamento não se encontrava em Beirute para não receber Blair e quatro ministros, dois do Hezbollah e dois do Amal, não o receberam.

11 de Setembro



11 de Setembro






Há cinco anos vivemos um dos momentos de maior perplexidade e de horror, em directo, em cadeia de televisão global. Por mais que essas imagens sejam repetidas – centenas, milhares de vezes, até com o risco de banalização – não se apaga essa sensação estranha de estarmos a assistir a um filme, ao mesmo tempo que algo desperta a emoção própria de quem vive um drama bem real, pior do que a pior das ficções. É assim, no presente, que vivo o 11 de Setembro, em catadupa de imagens, sobrepostas com milhares de reportagens e comentários. Não proclamei “somos todos americanos” mas interiorizei, mais fortemente do que nunca: somos todos seres humanos!
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As vítimas do 11 de Setembro não se reduzem, infelizmente, aos perto de três milhares de homens e mulheres encurralados nas torres: empregados de mesa e de cozinha, escriturários, canalizadores, executivos, polícias e bombeiros. É com particular emoção que vejo desfilar as boinas e as saias, ao som de gaitas de foles escocesas e irlandesas, características das primeiras comunidades imigrantes, humildes e sofridas, que construíram os alicerces da coesão social da América e lhes permitiram resistir aos ventos da violência e do liberalismo selvagem que quase tudo levou…
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Sem invocar nenhuma “teoria da conspiração”, a verdade é que os acontecimentos do 11 de Setembro foram aproveitados a fundo pela equipa de neocons que rodeia George W. Bush. E os primeiros “danos colaterais”, que já causaram milhões de vítimas por esse mundo fora, começaram nos próprios EUA: o "Patriot Act" impôs o estado de excepção permanente, suspendeu direitos tão básicos como a garantia de um julgamento justo a qualquer cidadão, considerado suspeito pela Casa Branca ou pelo Pentágono; instituiu as prisões especiais e a tortura como prática corrente, em especial fora das fronteiras dos EUA – Guantanamo e Abu Ghraib são a ponta visível de um imenso iceberg, interligado pelos famigerados “voos da CIA”, com cumplicidade europeias.
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O próprio conceito da América como “pátria de imigrantes” está ferido de morte: para além das discriminações tradicionais dos negros e dos hispânicos, pejorativamente chamados de “chicanos”, George W. Bush promoveu a aprovação no Senado de uma lei de imigração que se propõe erguer mais 1600 quilómetros de muros na fronteira do México, patrulhada por 6 mil soldados da Guarda Nacional, por cães, polícias, helicópteros e sensores electrónicos. Será que tudo isto aumentou a segurança, mesmo com restrições às liberdades? A grande maioria dos cidadãos norte-americanos considera que não e a popularidade do seu presidente nunca foi tão baixa.
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Mas as piores consequências do 11 de Setembro foram globais e atingiram toda a humanidade, em nome da “guerra contra o terrorismo” que, tomando como sérios os objectivos por ela proclamados, representa um fracasso absoluto. Basta citar, sem mais comentários, os títulos de alguns artigos do insuspeito “Público” de 11 de Setembro de 2006: “Iraque – um beco sem saída”; “Afeganistão – uma causa perdida”; “Paquistão – meio aliado, meio rival”; ou, ainda, o artigo de opinião de João César das Neves, no “DN”: “Como perdemos o 11 de Setembro”.
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A guerra contra o terrorismo tem associados dois conceitos particularmente nocivos: a “guerra preventiva” e a “guerra infinita” que, de mera teoria neocom, se tornou uma realidade, com curtos intervalos: Afeganistão, Iraque, Líbano, fronteiras do Paquistão – e onde mais Irão, se não forem travados? As pulsões bélicas constituem hoje um traço estrutural deste imperialismo global em que as diversas potências, mesmo com remoques, vão atrás dos tambores de guerra norte-americanos. A guerra, mais do que a continuação da política, tornou-se o alfa e o ómega duma economia de casino que entrelaça o tráfico de armas e de droga, os paraísos fiscais, as bolhas especulativas (das bolsas ao imobiliário), os negócios do petróleo ou da água e as agressões ambientais como ameaça global.
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Quanto ao terrorismo, estamos bem pior do que há cinco anos. Não falo já do terrorismo de Estado e dos seus cabecilhas: o próprio Bush, os seus émulos de Israel e outros aprendizes de feiticeiros. Falo do terrorismo fundamentalista que, a coberto da cor da pele ou da religião (há neonazis e outros fanáticos no Ocidente) se alimenta do desespero de multidões que perderam toda a esperança dum futuro melhor. E é criminoso deitar gasolina na fogueira, como fazem os arautos de uma pretensa “guerra de civilizações”, de culturas ou religiões. Lá bem no fundo, a luta continua a ser entre opressores e oprimidos: só a união destes é capaz de evitar a catástrofe e lançar a Humanidade numa guerra vitoriosa contra a pobreza, a doença, o atraso, a ignorância e todos os fanatismos.
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Alberto Matos – Crónica semanal na Rádio Pax – 12/09/2006

Monday, September 11, 2006

Professor

O Professor é um segredo... (1)

O professor compra uma agenda nova, um caderno
bonito, uma caneta verde.
Prepara-se com expectativa (com esperança?) para
o que o novo ano lhe trará.
O Professor é um aluno que não quis deixar a escola.
O professor zanga-se, "congelado", longe da
família, horário mau, vida difícil.
Faz promessas e juras: não gasta nem mais um
minuto no fim-de-semana, nada de projectos loucos, nem
mais um tostão do bolso, nem mais um tinteiro, uma
folha de papel, gota de tinta, gota de sangue, gota de suor.
Espreitem uns dias depois.
O professor está, outra vez, a fazer a festa comos alunos.
A festa é, quase sempre, muito maior.
O Professor tem forma de coração com memória fraca.
O professor não tem endereço electrónico.
Não escreve textos no computador.
Não quer.
Diz que não,que não gosta, que não percebe.
O professor insiste que prefere lápis e papel.
Nunca, nunca conseguirá.
Diz quenão vale a pena.
E depois...O professor pede ajuda ao filho.
O professor faz formação. Aceita a mão de outro professor.
O professor dá mais um passo.
O Professor é um caderno já muito cheio,
onde encontramos sempre muitas folhas brancas.
O professor fala de saúde, futuro, matemática,inglês, poesia,
estudo, música, informática, livros.
Sabe fazer projectos, jornais, cartazes, desenhos,receitas, teatro.
Cura feridas, ampara tristezas,acalma medos.
Escuta segredos, dá conselhos, conta anedotas, prepara passeios,
monta exposições.
Dirige a escola, dirige um grupo, escreve regulamentos, prepara oficinas,
constrói materiais.
O Professor não sabe o que quer ser quando crescer.
O professor faz muitas perguntas, por dentro e por fora dele.
O professor gosta que lhe façam perguntas.
O professor ensina que as perguntas são a melhor maneira de aprender.
O professor acha mais difícil fazer uma boa pergunta do que dar uma má resposta.
O professor ensina a perguntar.
O professor não sabe todas as respostas.
O Professor é um ponto de interrogação com muitas respostas possíveis.
O professor tem medo. De não conseguir, de não ser capaz, de errar,
de acertar, de se perder, de perder alguém.
Tem medo de ter medo.
Medo de não ter medo. Medo de avançar depressa,
de avançar devagar.
Medo de ficar parado.
O professor tem medo que não aconteça nada.
O Professor usa o medo como meio de transporte.
O professor chora, ri.
O professor sofre, mastiga desgostos,
partilha-os se forem maiores do que ele próprio.
Tem sonhos, tem desejos. Às vezes pinta, às vezes canta, outras escreve.
Planta flores, cria borboletas,
namora, ama, tem filhos, não tem filhos,representa, dança,
vai ao cinema.
O professor é feliz, é menos feliz,
é feliz outra vez.
O professor fica parado a pensar no que sente.
O professor é de todas as cores por dentro e por fora.
Mais do que o arco-íris.
Mais do que a maior caixa de lápis de cor do mundo.
Mais do que todas as cores que se podem imaginar.
O Professor do avesso é tão colorido como do direito.
O professor recomeça tantas tantas vezes, que desiste do prefixo "re".
O professor caminha numa estrada que dá voltas evoltas e voltas...
Não se lembra de ontem. Não sabe o amanhã.
Oferece o tempo que tem.
O Professor não tem princípio nem fim.
O professor tem uma magia só dele.
Um feitiço que lhe foi lançado, não se sabe quando nem por que fada.
Ele é Bela ou Monstro, Princesa Adormecida, GataBorralheira, Capuchinho Vermelho,
Branca de Neve. As madrastas, os lobos, as bruxas,
as trevas vão andar sempre por aí.
Ele luta, história a história, contra todos eles.
O Professor tem de ser o final feliz de todas as histórias,
para que o mundo se salve.
Por entre o som das palavras, o professor é cheio de silêncios
que poucos conhecem.
Silêncios que falam, muitas vezes, uma língua que quase ninguém se lembra de ter ouvido.
O Professor é um segredo que se deve contar em voz alta, para toda a gente ouvir.
(1)Texto publicado no Correio da Educação, CRIAP ASA, nº232, 3 de Outubro 2005.
Autora: Teresa Marques, Escola Básica 2,3 de Azeitão.

Sunday, September 10, 2006


Malhas do Império (*)



Na sua edição do passado dia 19 de Agosto, o insuspeito Expresso publicava uma reportagem sobre a Base das Lages, instalada na Ilha Terceira, tendo como pano de fundo os voos secretos da CIA e, mais recentemente, a passagem de cargueiros com “material bélico não ofensivo” – talvez espingardas de pressão de ar – destinado ao estado de Israel.
Numa altura em que aquele estado se encontrava empenhado numa forte ofensiva contra um país vizinho, onde estava a causar destruição e morte em grande escala, como bem se percebe através da comunicação social, entende-se, através da análise da reportagem, não só nas linhas como nas entrelinhas, quão difícil está a ser para os governantes portugueses explicarem a utilização da Base das Lages, como ponto de apoio de um país envolvido numa guerra que não nos diz respeito.
Na reportagem afirma-se que terão passado “na base açoreana, quatro a seis voos de cargueiros de Israel cuja carga não foi inspeccionada pelos militares portugueses”. Então como se sebe que se tratava de “material bélico não ofensivo”? Pela declaração dos passivos agentes israelitas? E se as autoridades portuguesas não autorizassem a utilização daquela base o que aconteceria? Pelo desenvolvimento da reportagem, ficamos, claramente, a perceber que tudo aconteceria como, na realidade, aconteceu.
É que, quem, de facto, põe e dispõe na Base das Lages é o governo dos EUA que não nos dá a mais pequena satisfação sobre o que lá se passa. Vejamos três exemplos mencionados:
1) Os tribunais portugueses estão totalmente impossibilitados de “fazerem aplicar e respeitar as sentenças de condenação da entidade patronal norte-americana em conflitos com trabalhadores ao serviço da Base”.
2) A autarquia da Praia da Vitória não consegue “exercer o seu poder político e administrativo sobre os espaços da cidade norte-americana que nasceu e cresceu nos últimos 20 anos”.
3) A arrogância e o abuso da força, que o Império detém, culminam com a “ausência, desde 1991, de quaisquer contrapartidas financeiras para a Região Autónoma”.
Há, como se vê, uma situação inequívoca de uma potência estrangeira que ocupa uma parte do território nacional, onde exerce plena soberania, ainda por cima, sem quaisquer compensações financeiras para a região ocupada e com a total aquiescência de vários governos que não mexeram uma palha para repor a legalidade. Não é por acaso que um especialista na matéria afirma: “Foi celebrado um Acordo Luso-Americano, mas está feito para não existir…” Significa isto que agrada a todas as partes? Porquê?
Pelo que ficou exposto e pela notória atrapalhação do governo, somos levados, facilmente, às seguintes conclusões: 1) A Base Aérea nº 4 da Força Aérea Portuguesa só existe no papel;2) Nas Lages está, de facto, instalada a 65 th Air Base Wing cujo “major comand” é a US Air Force Europe. São os EUA que concedem a Portugal algumas facilidades para poder lá estacionar dois helicópteros e um aviocar.
Como português, para além de repudiar completamente a complacência dos nossos governantes, nesta situação, também não posso deixar de criticar a oposição à esquerda do PS que tem revelado alguma moleza na sua denúncia.

Luís Moleiro Santos

(*) Texto publicado na edição de 7/9/06 do jornal “BARLAVENTO”

PABLO NERUDA - HOMENAGEM


Recordar Pablo Neruda



Faz, dentro de dias, 33 anos que faleceu o poeta chileno Pablo Neruda.
Ele sobreviveu pouco tempo ao golpe pinochetista de 11 de Setembro de 1973, patrocinado pelos EUA. Não chegou a ver os efeitos dramáticos provocados pela ditadura de Pinichet.
Pablo Neruda é o pseudónimo de Naftali Ricardo Reys que nasceu em 1904, filho de um ferroviário.
O seu vasto trabalho poético iniciou-se muito cedo – aos 16 anos – quando se tornou colaborador da revista literária “Selva Austra”l. Alguns poemas dessa época foram reunidos em edição do autor, no livro “Crepusculo” (1923). Em 1968, as suas “Obras Completas” já tinham 3237 páginas, divididas por dois volumes.
Foi prémio Nobel da Literatura em 1971.
Para além da actividade literária, também representou o seu país, na qualidade de cônsul honorário, entre 1927 e 1835. Esteve na Birmânia, Ceilão, Java, Singapura, Buenos Aires, Barcelona e Madrid.
Mas a melhor maneira de recordar um poeta é evocar a sua obra.


LUÍS MOLEIRO
SE EU MORRER...
Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue os teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que o teu riso ou que os teus passos hesitem.
Não quero que a minha herança de alegria morra.
Não me chames. Pois estou ausente.
Vive em mim a ausência como numa casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.

Pablo Neruda

Saturday, September 09, 2006

MARCHA PELO EMPRGO




A Marcha em Aveiro



09/09/06

ESTE É O NOSSO MANIFESTO DO DESASSOSSEGO

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Luís Fazenda, criticou ontem, durante comício-festa no Furadouro, as novas alterações ao subsídio do desemprego aprovadas em Conselho de Ministros, dizendo que a Marcha pelo Emprego é uma demonstração do desassossego do Bloco diante de medidas que querem poupar dinheiro à custa dos desempregados. No seu oitavo dia, a marcha visitou fábricas do distrito de Aveiro.
À porta da Rohde, uma multinacional alemã do calçado, em Santa Maria da Feira, a Marcha deteve-se para denunciar a desigualdade praticada pela administração entre homens e mulheres, que fazem o mesmo trabalho mas têm salários diferenciados: as mulheres ganham até dez contos menos que os homens. Para piorar, o salário deste mês foi pago com sete dias de atraso. "Quando a administração pediu, as trabalhadoras vieram trabalhar aos sábados, fazendo horas extra para que a empresa conseguisse cumprir as encomendas no prazo. Mas depois pagam o salário com atraso e foi preciso que as delegadas sindicais fossem puxar as orelhas da administração para que os pagamentos acabassem por ser feitos", disse Francisco Louçã numa intervenção à porta da fábrica. Os atrasos são também uma forma de chantagear as trabalhadoras. A Rohde já teve 2200 trabalhadores, agora são 1100 e sempre sob a ameaça de deslocalização.
Outra empresa do mesmo concelho visitada pela Marcha foi a Cifial, que produz torneiras e material para casas de banho, e que é propriedade do "patrão dos patrões" Ludgero Marques, presidente da Associação Empresarial Portuguesa. Com uma pequena encenação, a Marcha denunciou a prática comum na empresa de fazer contratos de 3 meses e manter os trabalhadores "saltando" de contrato em contrato. Por isso, algumas caminhantes da Marcha saltaram de corda em corda.
No comício do Furadouro, à noite, o deputado Luís Fazenda insurgiu-se contra as alterações ao subsídio de desemprego aprovadas pelo Conselho de Ministros. Criticando o facto de as alterações prejudicarem os desempregados mais jovens e de as centrais sindicais terem concordado com elas, Luís Fazenda assinalou que o mais grave é que o governo não se lembra que a maior parte dos desempregados não têm sequer acesso ao subsídio de desemprego. No comício actou o grupo Skareta.




Monday, September 04, 2006

Coisas extraordinárias














Coisas extraordinárias





“Há coisas extraordinárias” conclui um spot publicitário muito divulgado, agora, na nossa televisão.
De facto, seria extraordinário que uma carta, de cidadão para cidadão, dentro do nosso país, demorasse dois meses a chegar ao seu destino… Mas, mais extraordinário, ainda, é que o remetente seja o Ministro dos Negócios Estrangeiros e a destinatária deputada do Parlamento Europeu. Mas aconteceu. E não era uma carta qualquer com votos de boas férias ou de despedida devido à demissão do cargo que até então exercia.
A missiva do Prof. Freitas do Amaral tinha como fim responder a interpelações da deputada europeia, Ana Gomes, sobre a utilização de Portugal para voos secretos da CIA.
Sem revelar o seu conteúdo, a deputada afirma: “Os dados confirmam as minhas apreensões sobre a forma como Portugal estava a ser utilizado pela CIA”. Acrescenta, ainda, que o então Ministro dos Negócios Estrangeiros reconhecia que o controlo dos voos efectuados pelos serviços secretos norte-americanos estava a falhar.
É bom recordar que, há algum tempo, a opinião pública teve conhecimento da realização de transporte ilegal, por parte da CIA, de suspeitos de terrorismo, muitas vezes, encaminhados para países suspeitos da prática de torturas ou para a prisão de Guantanamo, à margem de todas as convenções internacionais em vigor.
A carta em apreço vem deitar mais uma acha para a fogueira depois da reportagem apresentada pelo Expresso na sua edição de 19 de Agosto último sobre a abusiva utilização da Base das Lages pelos EUA. Já aí se notava um significativo embaraço do Governo português para explicar uma série de casos ocorridos recentemente. Só que, pelos vistos, o passado esconde outras situações ocorridas com um governo de outras cores.
Tem, pois, cabimento concluir que uma carta que “demonstra que há colaboração do Governo português” com os voos ilegais da CIA demore tanto tempo a chegar a um destinatário incómodo…
Depois de, em Dezembro último, o Prof. Freitas do Amaral ter prometido um maior controlo sobre aqueles voos, pelo que nos apercebemos, talvez ele tenha deixado o cargo em boa hora, não se desse o caso de alguma das suas viagens acabar em tragédia…

Luís Moleiro Santos, aderente do BE