Wednesday, July 19, 2006

Guantanamo: Poemas escritos por reclusos vão ser publicados
Por Agência Lusa [18/7/2006]




Advogados de presumíveis terroristas detidos pelos Estados Unidos na base militar de Guantanamo, Cuba, planeiam publicar em breve um livro de poemas escritos por alguns dos seus constituintes.

Numa entrevista dada à revista norte-americana de literatura "Book Forum", o advogado Marc Falkoff esclareceu que, logo que houver "30 ou 35" poemas de qualidade, tenciona publicá-los "nas línguas árabe ou pastune originais, com uma tradução inglesa na página oposta".

"A nossa intenção é que quaisquer lucros obtidos com isso sejam doados a uma organização de direitos humanos", disse.

Referindo-se aos poemas que tem já em seu poder, Falkoff confessou ter-se "apaixonado por alguns deles".

A revista, que sai três vezes ao ano, publica na sua última edição sete dos poemas à guarda do advogado e ainda um oitavo poema enviado pelo irmão de dois dos detidos.

O poema favorito de Falkoff foi escrito por um preso iemenita Imad Abdulah Hassan, descrevendo-o o advogado como sendo uma reflexão "sobre o que é estar na prisão e como um poeta encontra contentamento nessa situação".

Falkoff aprecia também particularmente um poema de apenas quatro versos escrito por Saddiq Turkestani, um cidadão chinês muçulmano da etnia uigure.

Turkestani e outros oito membros da mesma etnia já foram declarados pelas autoridades militares norte-americanas como não sendo "combatentes inimigos".

Contudo, os nove continuam em Guantanamo porque não podem ser entregues à China, por se temer que sejam torturados e mortos, e nenhum país os quis até agora aceitar como refugiados. Os Estados Unidos recusam-se a permitir a entrada de qualquer deles no seu território.

O poema intitulado "Mesmo se a dor", escrito sobre o desenho de um barco no alto mar, reza assim:

"Mesmo se a dor da ferida aumentar Tem de haver um remédio para tratá-la Mesmo se os dias na prisão continuarem Tem de haver um dia em que sairemos".

Na entrevista à "Book Forum" o advogado assinalou que, durante o primeiro ano de detenção, as autoridades se recusaram a fornecer canetas e papel aos detidos.

Apesar disso ter mudado, toda a poesia é lida por "uma equipa do departamento de Defesa", que se "tem recusado a permitir a saída da maioria dos poemas, em parte porque não é permitida qualquer comunicação feita com a intenção de alcançar uma terceira parte que não o advogado".

"Essa equipa - disse Falkoff - tem uma compreensão muito literal da língua e, portanto, quando um dos nossos clientes escreveu num poema 'perdoa-me, minha querida mulher' todo o poema foi considerado de imediato uma comunicação e o Departamento de Defesa recusou-se a revê-lo".

"Isto é triste porque todo esse poema está ainda num lugar seguro, intocável. Não o posso publicar, não posso fazer o que quiser com ele e não o posso usar", lamentou o advogado.

Ainda segundo este, dois irmãos paquistaneses conhecidos como poetas antes de terem sido levados para Guantanmo escreveram "milhares de versos" enquanto estiveram detidos na base e a maior parte deles foi confiscada.

"Foi-lhes prometido que (os versos) seriam entregues quando fossem devolvidos ao Paquistão. Foram libertados há cerca de um ano e os militares nunca lhes devolveram os poemas", disse ainda o advogado.

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