Sunday, July 23, 2006

OPINIÃO




Procriação Medicamente Assistida






Em mais uma deriva “esquerdista”, o Presidente Cavaco Silva acaba de promulgar a lei sobre Procriação Medicamente Assistida (PMA).
Como é costume, em Portugal, esta lei chega com 20 anos de atraso, numa altura em que a maioria dos países da União Europeia já a têm juridicamente regulamentada.
Entre a esquerda, apenas três deputados do PS votaram contra e da direita vieram oito votos favoráveis e 21 abstenções do PSD. A restante direita votou contra, como seria de esperar. A deputada do BE, Ana Drago, classificou a lei de “equilibrada”, embora o Bloco tenha criticado o facto de a mesma não se aplicar a pessoas sós, num claro acto de discriminação.
Os chamados “movimentos pró-vida” tentaram meter uma pedra na engrenagem, ao defenderem a realização de um referendo para aprovação desta lei mas manifestaram algum recuo depois da promulgação da mesma. Tal como acontece em relação à despenalização do aborto, estes movimentos fundamentalistas e retrógrados voltam a revelar-se incomodados por mostrarem tão curtas vistas. Ainda bem que assim é porque acabam por se desmascarar, perante a opinião pública, em situações praticamente consensuais.
O que causa alguma admiração neste processo é a posição da Igreja Católica, através da Conferência Episcopal Portuguesa, ao declarar, através do seu porta-voz, que “cada órgão de soberania exerce a sua acção e os cristãos terão de se adaptar à realidade legislativa sem se socorrer daquilo que vai contra a dignidade humana”. De acordo com o mesmo porta-voz, vão ser publicadas “linhas de orientação”, instruções e recomendações para comportamento dos cristãos nesta área.
Esta posição da Igreja Católica sobre PMA revela uma postura diferente da que vem tendo relativamente à interrupção voluntária da gravidez, em que pretende acorrentar um país inteiro às suas convicções. Ao não pretender influenciar a lei, para além dos limites do razoável, adaptando-se às circunstâncias, revela uma inteligência e noção da realidade em que os defensores de um injustificado referendo deviam pôr os olhos.
Afinal de contas, o Prof. Cavaco é um fervoroso católico…

Luís Moleiro Santos, aderente do BE

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