Monday, July 31, 2006

FREI BETTO

Privatização da liberdade por Frei Betto*



Zygmunt Bauman põe o dedo na ferida ao denunciar o limite da liberdade na modernidade capitalista: pode-se tudo(embora a maioria não possa quase nada), exceto imaginar um mundo melhor do que este em que vivemos. Quando muito, fica-se no conserto da casa, a reformado telhado, a pintura das paredes, sem que se questionem a própria arquitetura da casa e, muito menos, o modo de convivência dos que a habitam.


20 de Abril de 2006





Os mais progressistas até admitem que, na reforma, o quarto de empregada seja deslocado do exterior para o interior da casa. Até aqui o limite da lógica capitalista. Além disso, suprime-se a liberdade de quem ousa propor que não haja quarto de empregada nem empregada. No máximo diaristas sindicalizadas e com todos os direitos garantidos por lei. Inclusive o acesso à casa própria.
Segundo Pierre Bourdieu, uns olham a sociedade com olhos cínicos e, outros, com olhos clínicos. Os primeiros julgam inquestionável o atual modelo de sociedade fundado na apropriação privada da riqueza e dele procuram tirar proveito, considerando justo o que reforça seus privilégios e injusto o que os ameaça. Os "clínicos"enxergam um palmo abaixo do chão em que pisamos e reconhecem as intricadas relações sociais que produzem, à superfície, tamanha desigualdade entre os 6,5bilhões de habitantes desta nave espacial chamada Terra.
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O neoliberalismo rompeu a ponte entre a esfera pública e a privada. Outrora, uma constelação de instituições assegurava a ampliação e defesa dos direitos sociais: associações, sindicatos, partidos etc. A privacidade, reduto sagrado, só era devassada à medida que se rompia o contrato social: abandono do lar, homicídio etc. Tudo mais ficava entre quatro paredes ou, quando muito, caía em "domínio público" apenas através de mexericos interpessoais.
Agora, o privado absorve o público, graças à teoria thatcheriana de que a sociedade se reduz ao indivíduo e à família. De um lado, privatizam-se instituições como o Estado (refém de seus credores privados) e os sindicatos, confinados à negociação direta entre empregados e empregadores, desarticulando-se categorias profissionais e solidariedade de classe. De outro, o privado transborda e inunda - e imunda -o público, como no Big Brother.
Rompem-se as quatro paredes e promove-se a inversão dos fatores: o "cínico" anula o "clínico", de modo a desistorizar o tempo e atomizar as relações sociais. Mais importante do que conhecer as causas que impedem o Brasil de crescer além de2,3% ao ano (perde apenas para o Haiti em todo o continente americano), é saber se Mick Jagger arrumou nova namorada no Rio ou quem será o novo milionário da casa alvo do voyeurismo nacional.
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O tecido das relações sociais se esgarça. Crianças e jovens, que deveriam se enfrentar no jogo educativo da sociabilidade propiciada por turmas de rua, clubes, equipes esportivas etc.,agora se refugiam horas e horas diante do monólogo televisivo ou informativo.Nos espaços virtuais de comunicação internáutica, onde não se expõem aos limites exigidos pelo convívio grupal, aprendem a dissimular. Projetam de si mesmos uma imagem idealizada, fantasiosa, como se a vida se desse, de fato, em dois planos, aquele em que os pés pisam e aquele em que a cabeça "navega". O real e o virtual.
A privatização dos bens simbólicos ("a história acabou", apregoava Fukuyama) sonega às novas gerações o sentido histórico da existência. "Consumo, logo existo", afirmam os neocartesianos. Assim, o projeto de vida se reduz às ambições de consumo(ficar rico), beleza (eternamente jovem) e fama (ainda que por cinco minutos,como predisse Andy Warhol).
Eis a liberdade que nos oferecem, a de escolher diferentes marcas do mesmo produto na gôndola do supermercado ou na vitrine das lojas. Jamais escolher um novo modelo de sociedade em que os privilegiados não precisem se confinar em shopping centers para fugir da turba famélica que agride a paisagem e as pessoas…
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Um modelo civilizatório que permita, enfim, a adequação de nossa existência à nossa essência. Nas palavras de Fernando Pessoa, "Ah, quem dera a perfeita concordância/De mim comigo,/O silêncio ulterior sem a distância/Entre mim e o que eu digo." Resgatar o direito político à liberdade, eis o desafio se almejamos que, no futuro, a violência não extrapole do âmbito privado para o público. E imprimir ao exercício coletivo da liberdade um sentido, uma direção, um horizonte capaz de superar a grande antinomia do atual modelo de democracia: em nome da liberdade, a maioria é excluída do direito à justiça.
Frei BettoEscritor e autor, conjuntamente con Luiz Fernando Veríssimo y otros, de “O Desafio Ético” (Garamond),

Poeta Iraquiano

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Poesia Árabe
علي أحمد سعيد - أدونيس
لون الماء *
الوقت *
محمود درويش
السروة إنكسرت*
لي حكمة المحكوم بالإعدام *
عابرون في كلام عابر * أربعة عناوين شخصية *
درس من كاما سوطرا * أنا يوسف يا أبي *
الكَمَنجات*
نزار قباني
كتاب الحب (قطع)*
حقائب البكاء*
بدر شاكر السياب
شباك وفيقة *
جبرا إبراهيم جبرا*
خرزة البئر *
قبية*
قاسم حداد
ظلامٌ عليك أيها الجبل *
معين بسيسو
ثلاثة جدران لحجرة التعذيب *
سعدي يوسف
منطق الطَّيْطَوَى*
أمي، قالت لي يوما *
إلى زوّار غربيين *
سركون بولص
بورتريه للشخص العراقي في آخر الزمن *
مرثية إلى سينما السندباد *
المرأة الجانحة مع الريح *
محلولة، سلفا، كل الأحاجي *
ظبية خميس
طقس أبيض
BADR SHAKIR AL SAYYAB (1926-1964)
Poemário: A CASA DOS ESCRAVOS (1963)

Traduzido do castelhano por Fernando Gregório



TESTAMENTO DE UM AGONIZANTE

Silêncio! O silêncio dos cemitério nas vossas tristes ruas.
Eu clamo, grito, lamento-me nas vossas tristes ruas
a neve solene espalhada pelas sombras,
aí onde se repetem os passos solitários comidos pelos ecos
da cidade, como se fosse uma besta de ferro e de pedra.
Devorada fora a vida e nada restava entre a tarde e o dia.
Onde está, o Iraque? Onde está o sol das manhãs, transportado pelos barcos?
Sobre a água do Tigre e do Eufrates? Onde estão os cantos
que palpitam como se fossem asas de pombas sobre as espigas e as palmeiras,
abraçando cada casa no ar liberto,
em cada colina coberta pelas flores das planícies?
Se agora morro, pátria, não desejo mais que
uma sepultura nos teus tristes cemitérios, mas se me salvo,
não peço à vida nada mais do que uma cabana no campo.
Pelos teus desertos infinitos, para fim das desgraças,
daria eu a ruas e os bairros de Londres.
Talvez morra amanhã: o mal corta sem contemplações
a corda que ata a vida
e os escombros do meu corpo, como uma casa
de muros gastos pelo vento e pelo tecto perfurado pelas goteiras.
Irmãos, dispersos do sul até ao norte
pelos caminhos, planícies e altas montanhas,
filhos do meu povo nas aldeias e amadas cidades,
não esqueçam jamais os dons do nosso Iraque,
haveis habitado o melhor país, entre o verde e a água:
O sol, a luz de Deus, inundam-no de verão e de Inverno,
não o troqueis por outro.
Este é um paraíso: mas cuidado com a víbora que procura a sua fertilidade.
Eu estou morto, e um morto não mente. Renego qualquer pensamento
se não nasce na fonte límpida dos nossos corações.
Resplendor do dia, inunda o Iraque,
porque o barro e a água do Iraque são o mais profundo do meu corpo.
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Sunday, July 30, 2006

NÃO ME É POSSÍVEL...


Porque me é impossível fazer um poema sobre a barbárie do Líbano?
Porque um poema não é um grito, mas sim um eco
E esse eco pode resultar de um peito que antes esteve em chamas
Mas que depois entendeu o incompreensível e o descreveu com serenidade
Porque a raiva é como uma tempestade, porque ela emite sinais contraditórios
Porque a raiva impede a visão das árvores ao vento, que na sua serenidade tudo podem revelar
O fatídico e o penetrante de cada frase, a agitação da mais rigorosa denúncia

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E assim hoje, é me impossível falar das mais de vinte crianças libanesas
Que morreram com o beneplácito da comunidade internacional
E nenhum poema me é agora praticável, porque as árvores acusam
os lugares onde as palavras dançam enlouquecidas
E assim os sinais resultam entorpecidos pela devastação que me atravessa
Bloqueio-me no interior da raiva de um fogo só meu,
e grito enlouquecido para todas as coordenadas da revolta

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E isto que agora faço nunca poderá ser um poema, porque as bombas que caem sobre Beirute e todo o sul do Líbano, transformaram-me num archote
Deixei assim de ser um poeta, espero-me agora nas cinzas que resultarão dessa nefasta realidade
Como quem espera a bonança para enviar uma garrafa ao mar, contando uma história de ignominia
Para poder dizer que ontem Zaida e as amigas brincavam com os seus ursos de peluche e que hoje elas são só mais uns números nas páginas dos jornais
Não, não me é possível fazer agora um poema que descreva a insanidade de tanta violência
Porque as palavras são-me insuficientes defronte da extensão do incêndio da minha indignação.




Fernando Gregório

Saturday, July 29, 2006

A Barbárie, continua!!



Enquanto as bombas caem no Líbano sobre civis e elementos da ONU e da Cruz vermelha assim como de Jornalistas, somando crime de guerra um após o outro.
Mais uma vez os Sionistas, impunemente esmagam e destroem as infra estruturas de um país soberano, perante uma comunidade internacional que incrivelmente já se habituou a achar isto tudo normal.

F gregorio




Fernando Gregório

Atentado ambiental no Mediterâneo


Raides israelitas causam derrame de crude no Mediterrâneo
29.07.2006 - 09h14 (in: Público) AFP




Um bombardeamento da aviação israelita atingiu os reservatórios de petróleo da central eléctrica de Jiyeh, no Líbano, derramando milhares de toneladas de crude no Mar Mediterrâneo. O ministro libanês do Ambiente diz que esta é "a maior catástrofe ecológica no Mediterrâneo". Durante a manhã continuaram os raides israelitas sobre locais que albergarão militantes ou serviços do movimento xiita Hezbollah.
"Até agora, entre dez mil e 15 mil toneladas de crude foram derramadas no mar e esta é a maior catástrofe ecológica que o Mediterrâneo conheceu e arrica-se a ter consequências terríveis não só para o nosso país mas para todos os países do mediterrâneo oriental", avisou Yacoub Sarraf. Entretanto, desde ontem já ocorreram 60 raides da aviação de Israel, segundo um porta-voz do Exército de Telavive, dos quais resultaram seis soldados feridos após combates em Bint Jbeil. Esses combates causaram a morte a 26 militantes do Hezbollah, diz o Exército israelita.Entre os alvos visados por Israel estão 37 edifícios utilizados pelo Partido de Deus e o local de lançamento a partir do qual os xiitas dispararam pela primeira vez, ontem, um míssil, de tipo desconhecido, contra uma cidade no norte de Israel.
O disparo do engenho contra Afoula levou a nova escalada e avanço para os libaneses neste conflito com Israel, que dura desde 12 de Julho.Nos combates em Bint Jbeil, no sul do Líbano, seis soldados israelitas ficaram feridos, um dos quais com gravidade, tendo sido mortos 26 militantes do Hezbollah. Não foi indicado se foram feitos prisioneiros.
Hoje, as unidades do Exército israelita continuam as operações em Bint Jbeil.

A ESTRATÉGIA DA ARANHA



A verdadeira meta




Uri Avnery


A verdadeira meta é mudar o regime no Líbano e instalar um governo fantoche.


Esse era a meta de invasão das tropas de Ariel Sharon no país em 1982. Ela falhou, mas Sharon e seus pupilos nos meios militar e político nunca desistiram da idéia.Como em 1982, a atual operação israelense foi planejada e está sendo feita em coordenação completa com os Estados Unidos. E também não há dúvidas que, como naquela época, também está sendo coordenada com uma parte da elite libanesa.Isso é o principal.
Qualquer outra coisa é barulho e propaganda.Nas vésperas da invasão de 1982, o secretário de Estado Alexander Haig disse a Ariel Sharon que, antes de iniciá-la, era necessário uma “provocação clara”, que fosse aceita pelo mundo.
E essa provocação aconteceu realmente – e exatamente no momento apropriado – quando a gangue terrorista de Abu-Nidal tentou assassinar o embaixador israelita em Londres. Não havia conexão alguma com o Líbano, muito menos com a OLP (inimigos de Abu-Nidal), mas serviu aos propósitos.Desta vez, a provocação necessária foi a captura de dois soldados israelenses pelo Hizbollah. Todos sabem que eles não podem ser libertados exceto por uma troca de prisioneiros. Mas a gigantesca campanha militar que estava pronta para ser deslanchada há meses foi vendida para o público de Israel e do mundo como uma operação de resgate.
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Estranhamente, a mesma coisa aconteceu duas semanas antes na Faixa de Gaza. O Hamas e seus parceiros capturaram um soldado, fato que proporcionou uma desculpa para uma operação massiva já preparada há muito tempo e cuja meta é destruir o governo palestino.
A meta declarada da operação Líbano é empurrar o Hizbollah para longe da fronteira, tornando impossível a captura de mais soldados e o lançamento de foguetes contra cidades israelenses. A invasão da Faixa de Gaza é também oficialmente dirigida como uma maneira de tirar as cidades de Ashkelon e Sderot do alcance de mísseis Qassams.I
sso lembra a operação “Paz na Galiléia” de 1982. Então, foi dito ao público e ao Knesset que seu principal objetivo era “empurrar os Katyushas a 40 km de distância da fronteira”. Era uma mentira deliberada. Nos onze meses anteriores à guerra, nenhum foguete Katyusha (ou um tiro sequer) havia sido disparado além da fronteira. Desde o início, o objetivo da operação era alcançar Beirute e instalar um ditador Quisling*. Como já havia dito mais de uma vez anteriormente, o próprio Sharon me disse isso nove meses antes da guerra, e assim o publiquei na ocasião (embora sem revelar a fonte).
É claro, a operação presente tem diversos objetivos secundários, que não incluem a libertação de prisioneiros. Todos sabem que isso não pode ser conseguido por meios militares. Porém, é provavelmente possível destruir alguns dos milhares de mísseis que o Hizbollah acumulou ao longo dos anos. Para isso, os líderes do Exército estão preparados para deixar em perigo os habitantes das cidades israelenses que estão expostas aos foguetes. Acreditam que isso é um risco justo, assim como uma troca de peças de xadrez.Outra meta secundária é reabilitar o “poder de dissuasão” do Exército.
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Isso é um código para a restauração do orgulho ferido das tropas, que sofreu um abalo grave devido às operações audaciosas do Hamas no sul e do Hizbollah no norte.
Oficialmente, o governo de Israel exige que o governo libanês desarme o Hizbollah e o remova da região fronteiriça. Isso é claramente impossível sob o atual regime no Líbano, um tecido delicado de comunidades etno-religiosas. O mais leve abalo pode levar a estrutura social abaixo e levar o Estado à anarquia completa – especialmente após os Estados Unidos conseguiram expulsar do país as tropas sírias, o único elemento que proporcionou estabilidade por alguns anos.
A idéia de instalar um Quisling no Líbano não é nova. Em 1955, David Ben-Gurion propôs arranjar um “militar cristão” e instala-lo como um ditador. Moshe Sharet mostrou que essa idéia era baseada na ignorância completa de assuntos libaneses e torpedeou-a. Mas, 27 anos depois, Ariel Sharon tentou efetivá-la. Bashir Gemayel foi mesmo colocado como presidente do país, somente para ser assassinado logo depois. Seu irmão Amin o sucedeu e assinou um tratado de paz com Israel, mas foi retirado do governo. O mesmo irmão hoje apóia publicamente a operação israelense em seu país.
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O calculo que está sendo feito é que, se a Força Aérea israelense abalar fortemente a população libanesa, paralisando os portos e aeroportos, destruindo a infra-estrutura, bombardeando áreas residenciais e acabando com a estrada Beirute – Damasco, o público ficará furioso com o Hizbollah e irá pressionar o governo libanês para cumprir as exigências de Israel. Como o governo atual não pode sequer sonhar com isso, uma ditadura será instalada com o apoio israelense.Essa é a lógica militar. Eu tenho minhas dúvidas. Pode-se assumir que a maioria dos libaneses vai reagir como qualquer outro povo do mundo: com fúria e ódio contra os invasores. Isso aconteceu em 1982, quando os xiitas no sul do Líbano, até então dóceis como um capacho, se levantaram contra Israel e criaram o Hizbollah, que se transformou na maior força do país. Se a elite libanesa se macular como colaboradores com Israel, será tirada do mapa. Por acaso, os Qassams e os Katyushas fizeram com que a população de Israel pressionasse nosso governo para que desistissem? Pelo contrário.A política norte-americana é cheia de contradições.
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O presidente Bush quer uma “mudança de regimes” no Oriente Médio, mas o atual governo libanês foi montado recentemente sobre pressão dos EUA. Nesse meio tempo, Bush só teve sucesso em demolir o Iraque e lá causar uma guerra civil. Poderá conseguir o mesmo no Líbano, se ele não brecar o Exército israelense a tempo.
Além disso, um golpe devastador contra o Hizbollah pode despertar a fúria não só no Irã mas também entre os xiitas no Iraque, cujo suporte é a essência da construção de um regime pró-EUA no país.Então, qual a resposta? Não por acidente, o Hizbollah realizou sua missão de captura de soldados num período em que os palestinos gritavam por apoio. A causa palestina é popular em todo o mundo árabe. Ao demonstrarem que são sim um amigo, enquanto todos os outros árabes se calam, o Hizbollah aproveita para aumentar a sua popularidade. Se um acordo entre israelenses e palestinos já houvesse sido alcançado, o Hizbollah não seria nada além de um fenômeno local, irrelevante à situação.Menos de três meses após a sua formação, o governo Olmert – Peretz obteve sucesso em levar Israel a uma guerra de dois fronts, cujo objetivo é irreal e cujos resultados não se pode prever.
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Se Olmert espera ser visto como o Senhor Macho - Macho, como um Sharon II, ele ficará decepcionado. O mesmo serve para as tentativas desesperadas de Peretz de ser levado a sério como o Senhor Segurança. Todos sabem que essa campanha de guerra
– tanto em Gaza quanto no Líbano – foi planejada pelo Exército e é ditada pelo Exército. O homem que hoje toma as decisões em Israel é Dan Halutz. Não é um acidente que o trabalho no Líbano foi dado à Força Aérea.A população de Israel não é entusiasta da guerra. Estão resignados a ela, num fatalismo estóico, pois para essa mesma população dizem que não há alternativa. E, verdade, quem pode ser contra ela? Quem não quer libertar os “soldados seqüestrados”?
Quem não quer remover os Katyushas e reabilitar a dissuasão? Nenhum político se atreve a criticar a operação – exceto os deputados árabes, que são ignorados pela população judaica. Na mídia, os generais reinam de maneira suprema, e não somente aqueles de uniforme. Praticamente não há um general aposentado que não está sendo convidado por jornalistas para comentar, explicar e justificar as ações, todos falando em coro.
Como ilustração, o canal mais popular de Israel me convidou para uma entrevista sobre a guerra, após terem ouvido que participei de uma demonstração contra ela. Fiquei surpreso. Mas não por muito tempo: uma hora antes do programa ir ao ar, o host do talk-show me telefonou e disse que tudo foi um terrível engano – na verdade, queriam convidar o professor Shlomo Avineri, ex-diretor geral do Ministério de Relações Exterior que pode-se contar com para justificar qualquer ato do governo numa linguagem acadêmica. “Inter arma silent Musae” – quando as armas falam, as musas se calam. Ou, melhor dizendo, quando os canhões rugem, o cérebro pára de funcionar.Tenho mais um breve pensamento. Quando o Estado de Israel foi fundado, no meio de uma guerra cruel, um pôster era colocado nos muros: “Todo o país, um front! Todas as pessoas, um Exército!”.
58 anos se passaram, e o slogan é hoje tão válido quanto na época. O que isso diz sobre gerações de políticos e generais?
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*Quisling, termo oriundo a partir do fascista norueguês Vidkun Quisling, é utilizado para denominar um político-fantoche, “colaboracionista” e “traidor”.
Artigo publicado originalmente pela Gush Shalom.
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Uri Avnery é ativista, jornalista e ex-militar israelense, fundador da organização Gush Shalom (http://gush-shalom.org).

Wednesday, July 26, 2006

RIMBAUDMANIA

Rimbaudmania


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Incapaz...aqui...onde parece não existir saída...
O que fazer?... Para onde?...O Quê?
Talvez os orientes distantes e as vidas imprevisíveis do outro lado dos oceanos.
Sonhar algo de novo no interior desta decisão,
deste instante puro imaculado.
Deuses onde não se encontram portas, esmolando pequenos paraísos
e tudo, tudo no centro do que jamais serei.



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Entretanto sou o que sou, e nada a fazer...
fabricado no inacabado.
E alguém que não atinge o ancoradouro...
sonâmbulos que não encontram retorno...
avançando por caminhos desconhecidos.
Procurando os rios de água límpida,
e o peixe de ouro que nos encaminhará
até aos oceanos esquecidos de Aden.



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Buscar as terras distantes!
Entoar cânticos finais
...oh, oh, aí sim serei o desertor estático da distância
fugindo, amando, celebrando a ausência,
o esquecimento, o silêncio, o silêncio mais puro.
Aquele silêncio sagrado filho das pedras e do céu...filho de tempos perdidos.
O silêncio onde se encontram as cidades de Sabá aí paradas,
edificadas pelas águias...encontrando caminhos,
todos os caminhos que se perdem no esquecimento.


Fernando Gregório

Tuesday, July 25, 2006

DEBATE ABERTO
Carta a Frank
A invasão e destruição do Líbano em 1982 ocorreram no momento em que Arafat dava sinais de querer iniciar negociações, tal como a de agora ocorre pouco depois de o Hamas e a Fatah terem acordado em propor negociações. Tal como naquela época, foram forjados os pretextos para a guerra.
Boaventura de Sousa Santos
Escrevo-te esta carta com o coração apertado. Deixo a análise fria para a razão cínica que domina o comentário político ocidental. És um dos intelectuais judeus israelitas – como te costumas classificar para não esquecer que um quinto dos cidadãos de Israel são árabes – mais progressistas que conheço.
Aceitei com gosto o convite que me fizeste para participar no Congresso que estás a organizar na Universidade de Telavive. Sensibilizou-me sobretudo o entusiasmo com que acolheste a minha sugestão de realizarmos algumas sessões do Congresso em Ramalah.
Escrevo-te hoje para te dizer que, em consciência, não poderei participar no congresso.
Defendo, como sabes, que Israel tem direito a existir como país livre e democrático, o mesmo direito que defendo para o povo palestino.
“Esqueço” com alguma má consciência que a Resolução 181 da ONU, de 1947, decidiu a partilha da Palestina entre um Estado judaico (55% do território) e um Estado palestino (44%) e uma zona internacional (os lugares santos: Jerusalém e Belém) para que os europeus expiassem o crime hediondo que tinham cometido contra o povo judaico.
“Esqueço” também que, logo em 1948, a parcela do Estado árabe diminuiu quando 700.000 palestinianos foram expulsos das suas terras e casas (levando consigo as chaves que muitos ainda conservam) e continuou a diminuir nas décadas seguintes, não sendo hoje mais de 20% do território.
Ao longo dos anos tenho vindo a acumular dúvidas de que Israel aceite, de fato, a solução dos dois Estados: a proliferação dos colonatos, a construção de infra-estruturas (estradas, redes de água e de electricidade), retalhando o território palestiniano para servir os colonatos, os check points e, finalmente, a construção do Muro de Sharon a partir de 2002 (desenhado para roubar mais território aos palestinianos, os privar do acesso à água e, de fato, os meter num vasto campo de concentração).
As dúvidas estão agora dissipadas depois dos mais recentes ataques na faixa de Gaza e da invasão do Líbano. E agora tudo faz sentido. A invasão e destruição do Líbano em 1982 ocorreram no momento em que Arafat dava sinais de querer iniciar negociações, tal como a de agora ocorre pouco depois do Hamas e da Fatah terem acordado em propor negociações. Tal como naquela época, foram forjados os pretextos para a guerra.
Para além de haver milhares de palestinianos raptados por Israel (incluindo ministros de um governo democraticamente eleito), quantas vezes no passado se negociou a troca de prisioneiros?
Meu Caro Frank, o teu país não quer a paz, quer a guerra porque não quer dois Estados.
Quer a destruição do povo palestino ou, o que é o mesmo, quer reduzi-lo a grupos dispersos de servos politicamente desarticulados, vagueando como apátridas desenraizados em quadrículos de terreno bem vigiados.
Para isso dá-se ao luxo de destruir, pela segunda vez, um país inteiro e cometer impunemente crimes de guerra contra populações civis.
Depois do Líbano, seguir-se-á a Síria e o Irã.
E depois, fatalmente, virar-se-á o feitiço contra o feiticeiro e será a vez do teu Israel.
Por agora, o teu país é o novo Estado pária, exímio em terrorismo de Estado, apoiado por um imenso lobby comunicacional – que sufocantemente domina os jornais do meu país – com a bênção dos neoconservadores de Washington e a vergonhosa passividade a União Européia.
Sei que partilhas muito do que penso e espero que compreendas que a minha solidariedade para com a tua luta passa pelo boicote ao teu país. Não é uma decisão fácil. Mas creio que, ao pisar a terra de Israel, sentiria o sangue das crianças de Gaza e do Líbano (um terço das vítimas) enlamear os meus passos e embargar-me a voz.
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
ENTREVISTA - MICHAEL WARSHAWSKI
Arrogância de Israel não permite o óbvio: trocar prisioneiros árabes pelos israelenses
Um dos mais respeitados analistas políticos da esquerda israelense, o escritor Michael Warshawski critica a subserviência de Israel ao projeto dos EUA de guerra preventiva e teme regionalização do conflito com entrada de Síria e Irã se comunidade internacional não intervier.
Verena Glass e Marcelo Netto Rodrigues*
SÃO PAULO - As incursões cada vez mais violentas do exército israelense sobre o território libanês no último final de semana foram destaque sem concorrência das manchetes e fotografias na imprensa internacional, ao mesmo tempo em que impulsionaram no mundo todo manifestações antiguerra, pelo cessar-fogo e contra o governo israelense.
Também no próprio coração de Israel a condenação aos ataques ao Líbano tomou as ruas, em uma manifestação que, segundo os organizadores, reuniu cerca de 5 mil manifestantes na capital Tel Aviv, no último sábado (22).
Segundo o jornal local Haaretz, o protesto teve, ao lado da “familiar exigência de demissão do primeiro-ministro e do ministro da Defesa”, um claro caráter antiamericano. Junto às palavras de ordem “nós não vamos matar, nós não vamos morrer em nome do Sionismo”, os manifestantes também repetiam “nós não vamos matar, nós não vamos morrer a serviço dos EUA”.O aumento do número de protestos internos contra a ação das forças armadas israelenses em Gaza e no Líbano tem fortalecido as campanhas de grandes nomes do movimento pacifista israelense, como o escritor e diretor do Centro de Informação Alternativa (www.alternativenews.org) de Jerusalém, Michael Warshawski.
“Apesar de repetir insistentemente as falas sobre ‘a ameaça árabe’, ‘o inimigo árabe’, ‘a ameaça muçulmana’ etc, os israelenses não entendem a ligação óbvia entre os massacres cometidos pelo exército israelense em Gaza e o contra-ataque dos ativistas libaneses. Assim, em quase sua totalidade eles ficaram surpresos e profundamente ofendidos: como as organizações libanesas se atrevem a atacar cidadãos israelenses sem nenhuma razão ou provocação da nossa parte? Viciados no uso unilateral da violência, os cidadãos do Estado de Israel estão estes dias totalmente desorientados e, como sempre, se abandonando a um forte sentimento de vitimização, como as vítimas do ódio global aos judeus”, escreveu Warshawski na última semana, em uma ácida critica à prepotência do unilateralismo israelense.
Em entrevista à Carta Maior e ao jornal Brasil de Fato por correio eletrônico, Warshawski, pedindo desculpas pela pressa
Warshawski
– “vocês vão entender, eu e meus camaradas estamos ocupadíssimos com a construção do movimento antiguerra” - comentou rapidamente o conflito a partir da perspectiva do movimento pacifista israelense.
Pergunta
- Qual é, na sua opinião, o objetivo primeiro da campanha militar israelense no Líbano, e em que grau os Estados Unidos estariam envolvidos?
Warshawski
- Israel se considera ponta de lança da Guerra global sem fim contra o terrorismo, à medida que o terrorismo vem sendo mais e mais identificado com islamismo.
O caso dos prisioneiros de guerra ou as operações militares do Hezbollah são apenas pretextos. O total apoio do governo americano, ou mais, o “conselho” aberto de George Bush a Israel para “não parar no meio” confirmam o fato de que essa guerra de Israel é, de fato, parte da interminável guerra preventiva dos EUA, com Israel assumindo servilmente o papel de linha-de-frente.
Pergunta
- Qual a sua avaliação sobre a demanda da resistência libanesa de negociar a libertação de seus prisioneiros em troca dos dois soldados israelenses feitos reféns pelo Hezbollah?
Warshawski
– O fato de que numa Guerra – e Israel afirma estar em Guerra com “os árabes” – existam prisioneiros de guerra é natural.
No passado, Israel estava aberto à troca de prisioneiros. Mas agora a arrogância israelense é tão grande que eles têm reais dificuldades para não fazer o óbvio, que seria soltar prisioneiros palestinos e libaneses em troca dos três soldados israelenses nas mãos do Hezbollah e do comando palestino.
De fato, no momento eles estão prontos a sacrificar seus próprios prisioneiros de guerra para não se comprometer com “terroristas”.
Pergunta
- Em Israel, como a população está se posicionando frente os ataques ao Líbano? Existe uma divisão na opinião pública?
Warshawski
- A grande maioria da população israelense infelizmente acredita que Israel foi atacado sem nenhuma razão, e que a ofensiva sobre o Líbano tem como objetivo proteger os israelenses da ameaça Hezbollah.
Não mais de 5% da população judia de Israel se opôs à guerra na primeira semana. Mas parece, no entanto, que lentamente mais e mais pessoas estão se perguntando: por quanto tempo? O que é o objetivo concreto desta guerra etc.
O fato de que o Hezbollah conseguiu dificultar a vida de centenas de israelenses e de provocar o medo, no entanto, acabou reduzindo a brutal arrogância de parte importante da população israelense.
Pergunta
- Como, a seu ver, o movimento pacifista poderia mudar ou influenciar a opinião pública em Israel?
Warshawski
– Temos que explicar que esta guerra nada tem a ver com a segurança de Israel ou com os prisioneiros de guerra, e que a sua base teórica/ideológica é suicida: uma guerra interminável com o Islã e com todo o mundo árabe.
Quem acredita que, pelo menos a longo prazo, Israel poderá sobreviver?
Calcado nisso, temos que construir o movimento antiguerra mais forte possível. O ato que realizamos neste sábado foi um primeiro sucesso nesse sentido: 5 mil manifestantes, árabes e judeus em Tel Aviv dizendo não à guerra no Líbano e em Gaza, aos crimes de guerra, e não à tomada de civis como reféns.
Pergunta
- Na sua avaliação, qual seria a melhor solução para o fim deste conflito?
Warshawski
Essa guerra continuará indefinidamente, com alguns cessar-fogo de tempos em tempos.
Neste caso específico, existem duas alternativas: ou uma intervenção internacional nos próximos dez dias, ou corremos o rico de uma regionalização do conflito com o envolvimento da Síria e do Irã.
*Marcelo Netto Rodrigues é repórter do Brasil de Fato

Sunday, July 23, 2006

Bombas de fósforo - made in Israel...



Sidon, Libano.

Criança libanesa queimada por bomba de fósforo israelita.

ISRAEL USA GASES LETAIS...!!


Israel lança gases venenosos sobre aldeias no sul do Líbano

por Wayne Madsen Report.com




Os militares israelenses estão a utilizar gases venenosos em aldeias no sul do Líbano. De acordo com um antigo perito americano em armas que serviu no Iraque, a bomba de artilharia desta foto tirada no Líbano (ao lado) é uma arma para a entrega de produtos químicos. Ela está a ser manuseada por um soldado israelense. Sobre o tanque podem ser vistas letras em hebraico. Outra arma química do mesmo tipo pode ser vista no chão, à direita. Não se sabe que tipo de produto químico contem o reservatório da bomba.
Contudo, o gás lançado pelos israelenses sobre aldeias no sul do Líbano resultou em vómitos severos entre a população civil. Peritos americanos acreditam que a facilidade com que o soldado israelense manuseia a bomba é uma indicação de que a sua carga útil é um gás com pouco peso e não uma mistura combustível e ar ou componentes de bombas termobáricas. Este tipo de bombas também pode entregar fósforo branco, uma substância que literalmente se funde através da pele mas deixa o vestuário relativamente intacto. Em Faluja e em outros lados, as forças americanas utilizaram fósforo branco sobre civis. Esta foto de Sidon, no Líbano, de uma jovem queimada e desfigurada, é um sinal revelador de que as forças armadas israelenses estão a utilizar fósforo branco.
Esquema de arma química apresentado pela Organization for the Prohibition of Chemical Weapons
21/Julho/2006 O original encontra-se em
http://www.waynemadsenreport.com e http://www.globalresearch.ca/ Esta notícia encontra-se em http://resistir.info/ .
23/Jul/06

Israel...um país que se rege pelos códigos de pirataria.


Bombardeamentos israelitas podem levar à escalada da guerra no Médio Oriente

por Michel Chossudovsky


A seguir aos bombardeamentos de Beirute por Israel há o perigo de que a guerra patrocinada pelos EUA no Médio Oriente, que actualmente se caracteriza por três teatros de guerra distintos (Afeganistão, Palestina e Iraque) venha a escalar e estender a toda a região Médio Oriente - Ásia Central. Os bombardeamentos do Líbano fazem parte de uma agenda militar cuidadosamente planeada. Eles não são actos espontâneos de represália da parte de Israel. São actos de provocação. Os ataques podiam na verdade ser utilizados como pretexto para disparar uma operação militar muito mais vasta, a qual já está no estágio de planeamento activo. Com toda a probabilidade, os bombardeamentos foram efectuados com a aprovação de Washington.
O período destes bombardeamentos coincide com o confronto como o Irão quanto ao alegado programa de armas nucleares. Eles deveriam ser encarados e analisados em relação com os interesses geopolíticos e estratégicos americanos-israelenses em toda a região. Os bombardeamentos de Beirute também deveriam ser entendidos em relação à retirada de tropas sírias do Líbano, o qual abriu um novo espaço para a instalação de forças israelenses. Desde 2004, os EUA, Israel e Turquia têm formulado planos de guerra concretos envolvendo ataques aéreos a sítios nucleares no Irão. Israel está destinado a desempenhar um papel directo na operação militar patrocinada pelos EUA contra o Irão, a qual também é objecto de consultas na reunião do G8 em S. Petesburgo, dias 15-17 de Julho. Desde o fim de 2004 Israel tem estado a acumular sistemas de armadas fabricadas nos EUA na previsão de um ataque ao Irão. Esta acumulação, que é financiada pela ajuda militar americana, foi em grande parte completada em Junho de 2005. Israel recebeu dos EUA vários milhares de "armas inteligentes lançadas do ar" incluindo umas 500 bombas 'bunker-buster', as quais também podem ser usadas para entregar bombas nucleares tácticas. As armas nucleares tácticas americanas tem sido instaladas pelos EUA e vários dos seus aliados e poderiam ser utilizadas contra o Irão. Os mísseis termonucleares de Israel estão apontados para Teerão. A participação da Turquia na operação militar americano-israelense é também um factor a considerar, na sequência do acordo alcançado entre Ancara e Tel Aviv. EXTENSÃO DA GUERRA Teerão confirmou que retaliará se for atacado, na forma de ataques de mísseis balísticos dirigidos contra Israel.
Estes ataques também poderiam alvejar instalações militares americanas no Iraque e no Golfo Pérsico, o que imediatamente conduziria a um cenário de escalada militar e à guerra geral. G8 Na agenda do G8 está uma minuta de resolução do Conselho de Segurança da ONU relativo ao alegado (não existente) programa de armas nucleares do Irão, o qual, de acordo com o noticiário, foi tacitamente aprovado pela Rússia e pela China. Esta resolução, se adoptada, poderia abrir o caminho a bombardeamentos punitivos ao Irão, com o apoio pleno dos aliados europeus da América. Israel agora é parte da coligação militar anglo-americana. Se estes ataques de bombardeamento forem executados, com a participação activa de Israel, tanto o Líbano como a Síria tornar-se-iam parte de uma zona de guerra extensa.
TODA A REGIÃO INCENDIAR-SE-IA É portanto essencial que movimentos de cidadãos de todo o mundo actuem firmemente para confrontar seus respectivos governos e reverter e desmantelar esta agenda militar que ameaça o futuro da humanidade. O presidente iraniano afirma que o ataque israelense à Síria encontrará "forte resposta".
15/Julho/2006
Texto de notícia datada de 14 de Julho da rádio iraniana Numa conversação telefónica na noite passada, os presidentes iraniano e sírio condenaram os ataques do regime sionista ao Líbano e a Gaza. Eles apelaram às nações islâmicas para mostrar seu apoio aos povos palestino e libanês. O sr. [Mahmud] Ahmadinezhad exprimiu graves preocupações acerca dos ataques sionistas contra civis palestinos e libaneses. Descreveu as agressões como sinal de fraqueza da parte de um regime ilegítimo. Afirmou que apesar dos que os responsáveis sionistas possam pensar, tais acções não podem salvar o regime. Comentando as recentes ameaças israelenses contra a Síria, o presidente afirmou que as medidas cada vez mais agressivas do regime seriam interpretadas como um ataque a todo o mundo islâmico, acrescentando que ele encontraria uma forte resposta. Por sua vez, o presidente sírio, Bashar al-Asad, disse que ao atacar Gaza o regime sionista havia rompido o cessar fogo que durara um ano, e havia criado uma nova crise. Acrescentou que a corajosa, atempada e decisiva resposta do Hezbollah havia surpreendido e encolerizado os líderes do regime.
Destacando que muitos grupos populares de vários países islâmicos haviam exprimido sua disposição para combater os ocupantes nas áreas perturbadas, o sr. Asad afirmou que Israel enfrentaria uma dura resposta se decidisse cometer outro erro e atacar a Síria. Acrescentou que a Síria não tinha medo de quaisquer ameaças. Fonte: Voice of the Islamic Republic of Iran, Tehran, in Persian 0430 gmt 14 Jul 06 O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

OPINIÃO




Procriação Medicamente Assistida






Em mais uma deriva “esquerdista”, o Presidente Cavaco Silva acaba de promulgar a lei sobre Procriação Medicamente Assistida (PMA).
Como é costume, em Portugal, esta lei chega com 20 anos de atraso, numa altura em que a maioria dos países da União Europeia já a têm juridicamente regulamentada.
Entre a esquerda, apenas três deputados do PS votaram contra e da direita vieram oito votos favoráveis e 21 abstenções do PSD. A restante direita votou contra, como seria de esperar. A deputada do BE, Ana Drago, classificou a lei de “equilibrada”, embora o Bloco tenha criticado o facto de a mesma não se aplicar a pessoas sós, num claro acto de discriminação.
Os chamados “movimentos pró-vida” tentaram meter uma pedra na engrenagem, ao defenderem a realização de um referendo para aprovação desta lei mas manifestaram algum recuo depois da promulgação da mesma. Tal como acontece em relação à despenalização do aborto, estes movimentos fundamentalistas e retrógrados voltam a revelar-se incomodados por mostrarem tão curtas vistas. Ainda bem que assim é porque acabam por se desmascarar, perante a opinião pública, em situações praticamente consensuais.
O que causa alguma admiração neste processo é a posição da Igreja Católica, através da Conferência Episcopal Portuguesa, ao declarar, através do seu porta-voz, que “cada órgão de soberania exerce a sua acção e os cristãos terão de se adaptar à realidade legislativa sem se socorrer daquilo que vai contra a dignidade humana”. De acordo com o mesmo porta-voz, vão ser publicadas “linhas de orientação”, instruções e recomendações para comportamento dos cristãos nesta área.
Esta posição da Igreja Católica sobre PMA revela uma postura diferente da que vem tendo relativamente à interrupção voluntária da gravidez, em que pretende acorrentar um país inteiro às suas convicções. Ao não pretender influenciar a lei, para além dos limites do razoável, adaptando-se às circunstâncias, revela uma inteligência e noção da realidade em que os defensores de um injustificado referendo deviam pôr os olhos.
Afinal de contas, o Prof. Cavaco é um fervoroso católico…

Luís Moleiro Santos, aderente do BE
A lei que ninguém quer

De tempos a tempos lá aparecem pela enésima vez, na comunicação social, referências a mais um julgamento devido à prática de um aborto clandestino. Repetem-se argumentos e contra-argumentos mas nada de importante se altera. A verdade é que toda a discussão sobre este tema está feita e a única coisa que é decisiva e que falta é a tomada de decisões do poder político. De uma vez por todas há que produzir legislação por aqueles que têm obrigação de responder aos anseios das populações que os elegeram. O que não podemos é esperar eternamente que uma lei completamente desactualizada em termos históricos, sociais e culturais, fundamentalista, hipócrita – há que repetir esta designação até à exaustão - intolerante e castradora das liberdades individuais não seja aplicada devido a uma interpretação benévola dos tribunais. Se uma lei existe e os tribunais a aplicam, não estão mais que a cumprir o seu dever, quer façam ou não uma interpretação justa da mesma.
É revoltante ouvir dos auto-intitulados “defensores da vida”, afirmações tais como: “continuamos a condenar e a achar condenável o acto do aborto mas mantendo todo o respeito e a máxima tolerância pelas pessoas envolvidas”. Ou seja: a lei tem de continuar a existir mas que não seja aplicada. O que é mais significativo nesta tomada de posição é que estes fanáticos da intolerância nem sequer dão a cara pela lei em vigor e as implicações que poderá ter, em especial, em termos de aplicação de penas de prisão. Por mais que o neguem.
O caso do chamado “julgamento de Aveiro” é paradigmático. As averiguações sobre prática de aborto clandestino iniciaram-se em 1995, passaram pela absolvição de três mulheres pelo tribunal de Aveiro, em Fevereiro de 2004, sentença essa que acabou por ser refeita, recentemente, por decisão do Tribunal da Relação de Coimbra para onde havia recorrido a acusação. Desta vez, como é do domínio público, aquelas mulheres foram condenadas a 6 meses de prisão com pena suspensa por 2 anos. Também se sabe que os seus advogados vão recorrer da decisão o que nada altera em relação ao cômputo geral da situação, qualquer que seja o resultado final. Com tudo isto já se passaram mais de 10 anos em que, periodicamente, estas mulheres são sujeitas a humilhações, carregando um estigma de que, dificilmente alguma vez se verão livres. E a saga ainda não acabou…
Para o cidadão comum é incompreensível que, numa altura em que o país tem tantos problemas para resolver, estejamos ainda a gastar tempo e energias à procura de uma solução que, no fundo da consciência de cada um, é consensual.
Já se tornou evidente o incómodo que sentem as elites políticas da direita e uma parte do PS sempre que vem à baila a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG). O aparente distanciamento que revelam tem a ver com um colossal pavor de desagradar à igreja católica cujo apoio é, muitas vezes, fundamental para mobilizar votos nos actos eleitorais. E este é um ponto-chave nesta problemática. Para além disso, sabemos o que aconteceu em 1998, aquando do referendo em que o líder socialista da altura – António Guterres – colocou as suas convicções morais e religiosas à frente dos interesses de uma parte significativa da população portuguesa, contribuindo para a desmobilização de sectores significativos de potenciais apoiantes da despenalização do aborto. O que parecia uma vitória certa acabou por se transformar numa derrota por falta de comparência. Esta lição deve ser recordada àqueles que agora defendem a solução parlamentar deste caso, até porque, tratando-se de uma problemática muito sensível, o referendo confere-lhe uma força suplementar.
Finalmente, a acrescentar a tudo isto está o facto de o actual Presidente de República, um claro opositor da despenalização da IVG, ser tentado a vetar uma resolução proveniente da Assembleia da República. A menos que o Prof. Cavaco tenha alguma deriva “esquerdista” em mais um elo na preparação para a recandidatura a um próximo mandato presidencial…
O que é, desde já, importante é que todas as forças da tolerância e do progresso se mobilizem, sem equívocos nem hesitações, para acabar, de uma vez por todas, com a vergonha que é termos uma lei com um cunho taliban em plena Europa do século XXI.



Luís Moleiro Santos, aderente do BE

Wednesday, July 19, 2006

Guantanamo: Poemas escritos por reclusos vão ser publicados
Por Agência Lusa [18/7/2006]




Advogados de presumíveis terroristas detidos pelos Estados Unidos na base militar de Guantanamo, Cuba, planeiam publicar em breve um livro de poemas escritos por alguns dos seus constituintes.

Numa entrevista dada à revista norte-americana de literatura "Book Forum", o advogado Marc Falkoff esclareceu que, logo que houver "30 ou 35" poemas de qualidade, tenciona publicá-los "nas línguas árabe ou pastune originais, com uma tradução inglesa na página oposta".

"A nossa intenção é que quaisquer lucros obtidos com isso sejam doados a uma organização de direitos humanos", disse.

Referindo-se aos poemas que tem já em seu poder, Falkoff confessou ter-se "apaixonado por alguns deles".

A revista, que sai três vezes ao ano, publica na sua última edição sete dos poemas à guarda do advogado e ainda um oitavo poema enviado pelo irmão de dois dos detidos.

O poema favorito de Falkoff foi escrito por um preso iemenita Imad Abdulah Hassan, descrevendo-o o advogado como sendo uma reflexão "sobre o que é estar na prisão e como um poeta encontra contentamento nessa situação".

Falkoff aprecia também particularmente um poema de apenas quatro versos escrito por Saddiq Turkestani, um cidadão chinês muçulmano da etnia uigure.

Turkestani e outros oito membros da mesma etnia já foram declarados pelas autoridades militares norte-americanas como não sendo "combatentes inimigos".

Contudo, os nove continuam em Guantanamo porque não podem ser entregues à China, por se temer que sejam torturados e mortos, e nenhum país os quis até agora aceitar como refugiados. Os Estados Unidos recusam-se a permitir a entrada de qualquer deles no seu território.

O poema intitulado "Mesmo se a dor", escrito sobre o desenho de um barco no alto mar, reza assim:

"Mesmo se a dor da ferida aumentar Tem de haver um remédio para tratá-la Mesmo se os dias na prisão continuarem Tem de haver um dia em que sairemos".

Na entrevista à "Book Forum" o advogado assinalou que, durante o primeiro ano de detenção, as autoridades se recusaram a fornecer canetas e papel aos detidos.

Apesar disso ter mudado, toda a poesia é lida por "uma equipa do departamento de Defesa", que se "tem recusado a permitir a saída da maioria dos poemas, em parte porque não é permitida qualquer comunicação feita com a intenção de alcançar uma terceira parte que não o advogado".

"Essa equipa - disse Falkoff - tem uma compreensão muito literal da língua e, portanto, quando um dos nossos clientes escreveu num poema 'perdoa-me, minha querida mulher' todo o poema foi considerado de imediato uma comunicação e o Departamento de Defesa recusou-se a revê-lo".

"Isto é triste porque todo esse poema está ainda num lugar seguro, intocável. Não o posso publicar, não posso fazer o que quiser com ele e não o posso usar", lamentou o advogado.

Ainda segundo este, dois irmãos paquistaneses conhecidos como poetas antes de terem sido levados para Guantanmo escreveram "milhares de versos" enquanto estiveram detidos na base e a maior parte deles foi confiscada.

"Foi-lhes prometido que (os versos) seriam entregues quando fossem devolvidos ao Paquistão. Foram libertados há cerca de um ano e os militares nunca lhes devolveram os poemas", disse ainda o advogado.

Direito de defesa ou acto bárbaro de Pirataria!?

Guerra total no Médio Oriente

Horrorizado e impotente, o mundo assiste à barbárie de uma guerra total na Palestina, de Gaza e da Cisjordânia, estendendo-se ao Líbano e ameaçando a Síria. Com a mortandade e o caos à solta no Iraque e o Irão debaixo da mira dos EUA, é fácil perceber o perigo de contágio global do conflito. Entretanto as labaredas da guerra se crepitam no Afeganistão, numa vasta zona fronteiriça com o Paquistão; sem esquecer o conflito latente deste pais com a Índia, a propósito de Caxemira e não só: o governo indiano já responsabilizou o Paquistão pela actuação de grupos islamistas, alegadamente envolvidos no recente atentado de 11/7 – no qual, implacavelmente, em 11 minutos, sete bombas provocaram mais de 160 mortos em Bombaim.

Olhando para este tsunami do terror e unindo os seus pontos – Telavive, Jerusalém, Gaza, Belém, Beirute, Damasco, Amã, Bagdad, Teerão, Kabul, Islamabad, Nova Deli, Bombaim… – eis o Grande Médio Oriente, a “visão genial” do não menos genial presidente G. W. Bush. O Grande Médio Oriente que ele, o cúmplice Blair e outros de quem não reza a história quiseram democratizar à bomba…. Os resultados estão à vista!

Ninguém de bom senso acreditará que Israel alguma vez pretendeu resgatar, pelo menos com vida, os soldados raptados pelo Hezbollah. E o que representam três vidas para os estrategas sionistas, num rol que, só desde o início da actual ofensiva, já vitimou mais de vinte israelitas e centenas de palestinianos e libaneses? A invasão dum país soberano, como o Líbano, o bombardeamento das suas cidades, da capital e do aeroporto, configura uma violação flagrante do direito internacional. Mas a ONU e o G8 assistem como cúmplices, sem uma admoestação sequer ao invasor, a quem ainda é reconhecido “o direito de defesa”… E às suas vítimas?

No Líbano, o criminoso voltou ao local do crime: em 1982, as tropas comandadas por Ariel Sharon invadiram Beirute e consentiram o massacre de mais de um milhar de idosos, mulheres e crianças nos campos de refugiados de Sabra e Shatila. Cercada a resistência palestiniana e imposta a retirada de Yasser Arafat de Beirute, iniciou-se um prolongado processo de isolamento político que visava a capitulação da OLP. Após a criação da Autoridade Palestiniana, debaixo de fogo permanente, Arafat foi um resistente até ao fim mas confinado à célebre Muqata, onde se esfumou o sonho dum Estado palestiniano democrático, laico e tolerante. Israel tudo fez para facilitar a ascensão de grupos fundamentalistas, como Hamas e o Hezbollah – o pretexto ideal para o seu belicismo. E Sharon, mesmo em coma profundo, pode sorrir: tem como sucessores assassinos à sua altura.

A invasão de Gaza, da Cisjordânia e do Líbano não são passos em falso nem uma mera “reacção desproporcionada” de Israel: trata-se de uma estratégia coordenada (pelo menos com os EUA) para o Médio Oriente, em paralelo com a guerra no Iraque e o risco da sua extensão, a prazo, à Síria e ao Irão. Vale a pena observar os argumentos dos analistas de serviço. No “Público” de 8 de Julho, pode ler-se em “Ciclo de Violência”: “A actual crise israelo-palestiniana tem uma origem bem definida: a saída de Israel de Gaza, a entrega de todo o território aos palestinianos; (…) em vez da criação de infra-estruturas, da construção de escolas e de hospitais, o essencial das energias e dos recursos palestinianos esgotam-se no fabrico frenético e no lançamento de mísseis Qassam sobre Israel”. Assina Esther Mucznik, “investigadora em assuntos judaicos” e agente da Mossad, pelo menos desde os tempos de Paris, onde se infiltrou nos meios antifascistas e anticoloniais.

Em directo de Telavive, “a convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita”, escreve o director do “Público”: “Se um dia Israel perdesse pela primeira vez uma guerra, desapareceria do mapa”. Entretanto, os mapas vão sendo engolidos pelas invasões israelitas… Já de regresso, publica o artigo “Uma guerra diferente”. Só que a principal diferença, como José Manuel Fernandes bem sabe, não reside no facto de este ser um conflito religioso e não político: “Era bom que nas capitais europeias, em Washington e em Nova Iorque fosse compreendido depressa que esta nova guerra no Médio Oriente não é uma guerra local, como as anteriores. É porventura muito mais global do que no tempo em que a URSS apoiava um lado e os EUA outro”.

É verdade que a história não se repete. A invasão do Líbano, 24 anos depois, tem um alcance maior: a guerra infinita imposta aos povos, como estratégia global de dominação imperialista. Com uma consequência óbvia: a resistência e a luta pela Paz terão de ser cada vez mais globalizadas.

Alberto Matos – Crónica semanal na Rádio Pax – 18/07/2006


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Saturday, July 08, 2006

Guantânamo



O horror se renova em Guantânamo

William Fisher

www.revistaforum.com.br

A mais antiga das organizações de direitos civis dos Estados Unidos alertou que o governo continua ocultando o resultado das investigações sobre abusos contra prisioneiros no centro de detenção militar de Guantánamo, em Cuba. Os documentos recebidos pela União de Liberdades Civis da América (Aclu) "deixam sem resposta mais perguntas do que respondem", advertiu a organização. Mesmo assim os papéis entregues narram o que mais de um observador denomina de "tratamento não apenas agressivo, mas ofensivo", que inclui deixar prisioneiros acorrentados em posição fetal e cobertos de urina e fezes.

Pressionado pelo Congresso, o Departamento de Defesa anunciou na semana passada que iniciaria sua própria investigação sobre as últimas denúncias de violações de direitos humanos na base que a Marinha norte-americana ocupa em Guantánamo. As informações foram divulgadas pelo Escritório Federal de Investigações (FBI). A investigação do Pentágono será encabeçada pelo brigadeiro John T. Furlow. O comandante-geral de Guantánamo, Jay Hood, disse que seria necessária uma equipe independente de investigadores, alheios à base naval, para que entrevistasse funcionários que deixaram seus postos e que agora estão fora de seu controle. Por sua vez, a Aclu advertiu que "voltará aos tribunais para questionar os registros das agências" governamentais às quais se solicitou informação e "a redação" de alguns dos documentos. "Por que o FBI estreitou sua investigação? O FBI fez alguma entrevista de acompanhamento? O FBI entregou um sumário formal de suas descobertas ao Departamento de Defesa? Se assim foi, por que o FBI não divulgou uma cópia desse informe?", pergunta o advogado da Aclu Jameel Jaffer.

Os documentos foram divulgados depois da ordem judicial ao Departamento de Defesa e outras agências do governo para que cumpram a determinação feita há um ano, com base na Lei de Liberdade de Informação, pela Aclu, pelo Centro de Direitos Constitucionais, Médicos pelos Direitos Humanos, Veteranos pelo Senso Comum e Veteranos pela Paz. Entre os documentos do FBI entregues à Aclu consta um e-mail enviado no dia 9 de dezembro de 2002 referente "ao plano de entrevistas militares" e que inclui o comentário: "Não vão acreditar nisto!".

Outros documentos obtidos pela Aclu incluem um muito editado referente a uma investigação denominada "Corrupção em funcionário federal - Ramo executivo" que parece se referir ao FBI, devido à menção de um "conflito de interesses". Anexo a esse documento consta um sumário do FBI de "estatutos criminais potencialmente relevantes", referentes a crimes de guerra, tortura, abuso sexual agravado e de menores de idade. Os novos documentos evidenciam que muitas das descrições de abusos elaboradas antes pelo FBI foram a resposta a um pedido por e-mail do diretor do Escritório de Inteligência da agência, Steve McCraw, a mais de 50 agentes que estiveram destacados em Guantánamo.

McCraw solicitou a eles informes sobre "tratamentos, interrogatórios ou entrevistas agressivas" que pudessem violar as normas do FBI. Quatrocentos e setenta e oito agentes responderam, dos quais 26 informaram sobre maus-tratos por parte de funcionários de outros organismos. Esses relatórios foram analisados pela assessora-geral do FBI, Valerie Caproni, para quem 17 desses casos de maus-tratos estavam de acordo com "técnicas aprovadas pelo Departamento de Defesa". Assim, observou Jaffer, esses 17 casos não foram alvo de investigação. Por razões desconhecidas, segundo a Aclu, Caproni se recusou a investigar esses abusos. A funcionária "se concentrou em abusos que não estavam ainda aprovados pelas normas permissivas" do Pentágono. Portanto, "somente nove incidentes foram alvo de investigações posteriores", acrescentou Jaffer. A análise feita pela Aclu dos documentos que recebeu demonstra que alguns registros não foram divulgados.

O FBI, por exemplo, reteve a cópia de um "comunicado eletrônico" enviado ao Pentágono no dia 30 de maio de 2003, no qual se queixou formalmente do tratamento dispensado aos prisioneiros. Os últimos documentos foram entregues pelo FBI às vésperas das audiências de confirmação no Congresso do promotor-geral indicado Alberto Gonzales, considerado responsável por um memorando destinado ao presidente George W. Bush contendo justificativas legais para o uso da tortura em bases militares dos Estados Unidos no exterior. Milhares de outros documentos do FBI foram recebidos pela Aclu por uma solicitação feita anteriormente. Além disso, um tribunal federal ordenou à Agência Central de Inteligência (CIA) entregar à organização de direitos civis os registros sobre suas investigações relacionadas com abuso de prisioneiros.

Os novos documentos obtidos pela Aclu indicam que os abusos em Guantánamo vão muito mais além do admitido antes pelo governo. Em um e-mail de 16 de julho de 2004, um agente do FBI cujo nome está apagado informou ter visto um preso em Guantánamo "deitado no chão da sala de interrogatório, envolto em uma bandeira israelense, com música estridente e uma luz estroboscópica". Em outro, do dia 2 de agosto de 2004, outro agente do FBI informa que "em duas oportunidades" entrou nos locais de interrogatório de Guantánamo e encontrou presos "com pés e mãos acorrentados em posição fetal no chão, sem cadeira, alimento ou água. Em certa ocasião o ar-condicionado estava desligado e a temperatura era tão fria que o preso, descalço, tremia. Os policiais militares me contaram que os interrogadores do dia anterior haviam determinado esse tratamento", acrescentava.