Friday, November 11, 2005

UM HOMEM DE CULTURA



Jaime Palhinha
Para além da homenagem

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Jaime Palhinha

Escola D. Martinho de Castelo Branco atribuiu nome do professor e investigador a Biblioteca. Esta foi, até agora, a única homenagem prestada pela cidade de Portimão a Jaime Palhinha, desde a sua morte

TEMAS: História e histórias do Algarve



Portimão tem, desde o dia 19 de Setembro, uma nova biblioteca, a Biblioteca Escolar Jaime Palhinha, situada no piso superior da Escola E.B. 2,3 D. Martinho de Castelo Branco.
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É uma despretensiosa homenagem, que pretende reconhecer um homem que, além de ter sido um distinto docente desta instituição escolar, foi também um cidadão consciente e interveniente nas questões do património e da história desta cidade.
A cerimónia de homenagem ao professor Jaime Aschemann Bispo Palhinha, realizada naquele mesmo dia, constou de uma sessão solene no auditório da escola, onde foi feita a projecção da sua fotobiografia e alguns depoimentos de pessoas que com ele conviveram e trabalharam.
Seguiu-se a inauguração de uma exposição fotobiográfica, a qual ficará patente no hall da secretaria da escola e depois o descerramento da placa que dá o seu nome à biblioteca, por dois dos seus netos. O acto de homenagem terminaria com um convívio na sala de professores.
Por iniciativa da escola e do seu Departamento de História, foi editado um desdobrável fotobiográfico e ainda um marcador de livros.
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Para além da família, estiveram presentes antigos colegas, amigos, alunos e alguns representantes de organismos públicos.Falecido repentinamente no Dia de Natal de 2001, com 76 anos de idade, o professor Jaime Palhinha foi uma figura ilustre, dessas de que o Algarve tanto se orgulha e que marcou de forma incomensurável a cidade de Portimão, onde viveu e trabalhou muitos anos.
Lagos, a sua terra natal, vai homenageá-lo brevemente, dando o seu nome a uma rua. Personalidade extremamente rica e multifacetada, Jaime Palhinha repartiu as suas actividades, de mais de 50 anos, pela Construção Civil e o desenho técnico, o Ensino, a Arqueologia, a História local, o Associativismo, o Coleccionismo e a Bibliofilia.
A biblioteca que foi constituindo ao longo dos anos contém livros raros sobre o Algarve e as áreas científicas que mais o apaixonavam. Personalidade afável, simples e bondosa, Jaime Palhinha marcou muitos dos que com ele conviveram, trabalharam ou simplesmente necessitaram das suas imprescindíveis informações, sendo mais do que um exemplo para as gerações futuras.
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Tendo nascido em Lagos, aí fez a escola primária e cursou a escola técnica Vitorino Damásio. Mais tarde, foi para Lisboa frequentar a Escola Machado de Castro, onde tirou o curso de Mestre-de-obras e Construção Civil, regressando ainda a esta escola em 1949 para tirar o Curso de Auxiliar de Obras Públicas. Durante os anos que permaneceu na capital, Jaime Palhinha exerceu em simultâneo actividade profissional na firma Amadeu Gaudêncio e chegou a jogar futebol nos juniores do Benfica.
Entre 1950 e 1966, Jaime Palhinha radicou-se no Brasil, que nesse tempo era um rincão de prosperidade e desenvolvimento económico, trabalhando inicialmente como técnico e desenhador-técnico na área da Construção Civil e depois criando a sua própria firma, também na mesma área. Neste país, casou por procuração com Emília Laura Viegas Cardoso, que dois anos depois se lhe irá juntar e aí também nascerão as suas filhas Maria Emília e Maria Helena. Regressado a Portugal, Jaime Palhinha estabeleceu-se de novo em Lagos, onde continuou a trabalhar como desenhador técnico de Construção Civil, por conta própria.
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Em 1972, iniciou a carreira de professor, leccionando a disciplina de Desenho de Construção Civil, na Escola Industrial e Comercial de Lagos, por convite do seu director. O contacto com os alunos e o acto de ensinar torna-se uma verdadeira paixão para Jaime Palhinha, o que o levou a optar em definitivo pela carreira docente. Encontrava-se nesta escola quando se deu a Revolução do 25 de Abril de 1974, acabando assim por fazer parte do seu órgão de gestão, em 1975. Nesta função, se deparou com vários problemas, fruto da época conturbada que então se vivia e que teve reflexos particulares no Ensino, problemas que só a sua enorme coragem e espírito diplomático permitiram resolver, tendo conseguido levar a bom termo todos os desafios que lhe foram surgindo no exercício do seu cargo. Nos anos seguintes, passou pela Escola Preparatória de Montalegre (onde fez a profissionalização em exercício), pela Escola Preparatória de Portimão e pela Escola Preparatória de Mértola (onde se efectivou), permanecendo, no entanto, na Preparatória de Portimão, visto ser membro do seu Conselho Directivo.
Nesta escola, onde granjeou tantas amizades entre alunos, colegas e funcionários, continuará até à aposentação por idade, no ano lectivo de 1994/95. Paralelamente, Jaime Palhinha leccionava a disciplina de «Estudos Portimonenses», na recém formada Academia de Cultura de Portimão (actualmente Instituto de Cultura de Portimão), a título benemérito. Mais tarde seria convidado pela Assembleia da sua antiga escola para integrar aquele órgão de gestão escolar, em representação das associações culturais e ambientais do concelho, cargo que assumiu até à sua morte.
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Foi profícua a ligação do professor Jaime Palhinha ao Associativismo. Em Lagos, no conturbado período de 1974/1975, teve a sua mais importante experiência associativa ao assumir, a 2 de Julho de 1974, a provedoria da Santa Casa da Misericórdia desta cidade. Os tempos eram de agitação e esta instituição ressentia-se com isso. Mais uma vez, Jaime Palhinha, com coragem e diplomacia, conseguiu gerir os problemas que se foram pondo. A 8 de Março de 1975, liderando uma equipa, reabriu o Hospital da Misericórdia desta cidade, que se encontrava encerado há imenso tempo, com graves inconvenientes para a população. Como provedor, manteve-se na instituição até 1978.
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Mais tarde, já em Portimão, foi presidente da direcção do Grupo de Amigos de Portimão (GAP), associação que desenvolveu várias actividades culturais nesta terra. Em entrevista ao jornal barlavento, de 17 de Julho de 1982, referiu-se a uma Associação de Defesa e Investigação do Património Cultural de Portimão, que se encontrava então em formação.Tendo sido um dos pioneiros da ideia de criar, em Portimão, um museu que guardasse a memória local, fez parte da primeira comissão que se formou para o efeito, em 1977, da qual faziam também parte Mário Ferro e João Tavares.
A partir de 1983, foi co-fundador da Comissão Instaladora do Museu Municipal de Portimão, com José Gameiro, Alberto Piscarreta. Ao longo de vários anos, Jaime Palhinha irá trabalhar com afinco na concretização deste seu grande sonho. Desenvolveu então vários trabalhos, nomeadamente estudos, levantamentos e investigações de campo.
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Também concebeu e montou diversas exposições. Com João Velhinho, desenvolvia ultimamente tentativas no sentido da criação do Núcleo Museológico de Vila do Bispo, vila onde pensava depositar o seu imenso espólio museológico, que foi reunindo ao longo dos anos, motivado pelo gosto da recolha e investigação. Deste rico espólio, fazem parte alfaias agrícolas, objectos diversos, moedas, livros, postais e documentos antigos, todos eles com inestimável valor etnográfico e antropológico.
Os contributos de Jaime Palhinha para a História local de Portimão são preciosos. Publicou, em 1974, em co-autoria com Francisco José Carrapiço e José Manuel Brázio, As Muralhas de Portimão: Subsídios para o Estudo da História Local, obra editada pela Câmara Municipal de Portimão. A suas expensas, editou, em 1992, a obra Convento de S. Francisco: Estudo para a sua Recuperação e Reabilitação.
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Em colaboração com Francisco José Carrapiço, tinha em vias de publicação, pela editora Suledita, de Aljezur, o estudo «A Antiga Misericórdia de Portimão: Subsídios para o estudo da História local». Para publicação, estavam ainda trabalhos sobre a Igreja Matriz de Portimão e sobre os Brasões desta cidade. Foram também abundantes as suas colaborações em livros e trabalhos de âmbito académico, em muitas das quais aparece citado.Com a generosidade, a humildade e a carolice desinteressada que deve pautar o verdadeiro investigador, concedeu informações raras; com o espírito de autêntico pesquisador arrancou dos alfarrabistas de todo o país preciosidades bibliográficas raras, as quais recheavam a sua biblioteca. Da sua faceta de arqueólogo amador, resultaram levantamentos e trabalhos de campo, que passava a esboço ou a desenho.
Entre estes estão os levantamentos ao convento de S. Francisco (o seu cavalo de batalha), sobre a antiga paróquia da extinta freguesia da Senhora do Verde, os moinhos de maré do rio Arade e outros. Reconhecendo o enorme valor de todo o trabalho de investigação desenvolvido por Jaime Palhinha, a Câmara de Portimão concedeu-lhe, em 1993, a 11 de Dezembro, dia da cidade, o Diploma de Mérito Municipal e no ano de 1997, também no dia do município, a Medalha de Mérito Municipal, grau prata.
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A atribuição do seu nome à escola onde tantos anos leccionou foi, até agora, a única homenagem prestada pela cidade de Portimão a Jaime Palhinha, desde a sua morte. *professor e ensaísta


2 de Outubro de 2003 09:00José Rosa Sampaio*


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