Wednesday, November 30, 2005

POETA


Foi hoje atribuida por Jorge Sampaio a Grã-Cruz da ordem da Liberdade (melhor seria da libertinagem...) ao poeta Mário Cesariny


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Entre nós e as palavras há metal fundente
Entre nós e as palavras há hélices que andam
E podem dar-nos morte violar-nos tirar
E o mais fundo de nós o mais útil segredo
Entre nós e as palavras há perfis ardentes
Espaços cheios de gente de costas
Altas flores venenosas portas por abrir
E escadas e ponteiros e crianças sentadas
À espera do seu tempo e do seu precipício
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Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras, frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição
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Entre nós e as palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além do azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmo só amor só solidão desfeita
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Entre nós e as palavras, os emparedadose entre nós e as palavras,
o nosso dever falar
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Mário Cesariny

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