Wednesday, November 30, 2005

Cultura



O meu deserto



Tenho um deserto preso na ponta da caneta, não é um facto surpreendente pois já vi os melhores oradores exibindo magníficos territórios por desbravar no interior das suas bocas. Não se tratam de fenómenos mas sim de velhos hábitos. Como aquele que recusava qualquer tipo de viajem porque via permanentemente o Kilimanjaro projectado sobre a porta de casa. Coisas assim são o dia a dia de bastantes anónimos, não se tratam de videntes ou adivinhos. Conheci igualmente uma criança que transportava permanentemente um rio na extremidade do olhar. Na escola ela podia ouvir em permanência cachoeiras que eram de todos desconhecidas. Na minha rua habita uma senhora que traz ocasionalmente pela mão o Oceano Atlântico, podendo desta maneira visitar com alguma frequência a sua filha que vive em Nova Iorque. Cá por mim fico contente pelo meu deserto, pois sempre que fico retido demasiado tempo no trânsito, puxo da caneta e escrevo uma carta sem endereço. Nesses dias deito-me com a certeza de acordar senhor do titulo de propriedade do mais belo oasis das redondezas.
f gregorio



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