Monday, June 04, 2007

Intervenção do camarada João Vasconcelos.


V Convenção do Bloco de Esquerda – 6/2007
(João Vasconcelos)

Camaradas e amigos:
Sócrates e o seu governo social liberal, a coberto de uma demagogia e de um populismo sem limites e, de uma manipulação monstruosa e sem precedentes, declararam uma guerra aberta aos trabalhadores deste país, aos jovens, aos funcionários públicos, ao povo português. Há dois anos atrás, a direita desastrosa e trauliteira do PSD e do CDS foi desapossada do poder e substituída por um PS que tudo prometeu – até o céu! Assim se explica a sua maioria absoluta. Sócrates e o PS prometeram tudo, mas assim que se alcandoraram no poder, fizeram exactamente o contrário e enganaram, defraudaram as expectativas do povo português.
Aumentaram os impostos; iniciou-se a destruição do regime de segurança social com o agravamento do tempo de trabalho para a aposentação e diminuição do valor das reformas; foi destruído o Estatuto da Carreira Docente impondo-se um novo, de carácter fascizante; o Código de Bagão é para continuar; assiste-se ao maior ataque contra os funcionários e os serviços públicos, encerrando-se maternidades, escolas, serviços de urgência, estações dos CTT e da CP, postos das forças de segurança, tribunais, notários e outros serviços; o aumento do custo de vida é o maior nos últimos 22 anos; o Serviço Nacional de Saúde está a ser destruído e substituído pelos prestadores de saúde privados; o número de desempregados já ultrapassou a fasquia dos 500 mil, sem contar com o sub-emprego visível e os inactivos disponíveis; cerca de 3 milhões de portugueses continuam a viver abaixo do limiar de pobreza e mais de 200 mil passam fome todos os dias; a arrogância e a prepotência deste governo são bem visíveis, um exemplo recente foi a sua actuação aquando da greve geral – estes apenas alguns exemplos para não ir mais longe.
Tudo em nome da obsessão em reduzir o malfadado défice, do cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento e da crise! Crise que os trabalhadores, os cidadãos estão a pagar e pela qual não têm qualquer responsabilidade.
Em contrapartida, o regabofe, os lucros chorudos, os privilégios e as prebendas não param de aumentar para a banca, os grandes grupos económicos, os administradores e acessores das empresas públicas e privadas, os governantes e aparelho do Estado.
Não admira que o PSD e o CDS não subam nas sondagens – Sócrates está a fazer o trabalho que a direita bem gostaria de ter implementado mas que não se atreveu em pôr em marcha. E o mais caricato, para não dizer trágico, é que este 1º Ministro diz-se socialista e encontra-se à frente de um governo que ainda se intitula socialista. Afinal, os socialismos, como todos nós sabemos, dão para todos os gostos. Não se intitulava o partido de Adolfo Hitler de Nacional Socialista? E não aprendemos muitos de nós, lemos ou ouvimos falar noutros tipos de socialismo – feudal, pequeno burguês, conservador, utópico, anarquista, científico, real? Mas isto são contas de outros rosários!
Camaradas e amigos:
Uma coisa é certa – Sócrates, o seu governo e os dirigentes do Partido Socialista não fazem parte da esquerda moderna, socialista e popular deste país, esse papel é protagonizado pelo Bloco de Esquerda. Este apresenta-se como uma “esquerda socialista” que terá de se empenhar e afirmar “como uma alternativa ao governo Sócrates”. Esta é a nossa prioridade e também a nossa responsabilidade, através do reforço da luta social para enfrentar, com determinação e êxito, a ofensiva neo-liberal deste governo.
De que forma será construída esta alternativa? Tal como aponta a Moção A, “procurando mobilizar respostas coerentes na oposição ao governo”, em torno principalmente das “grandes questões sociais”, como a defesa e o reforço do Serviço Nacional de Saúde, o combate ao desemprego e à precaridade, rejeição da flexisegurança e do Código de Trabalho de Bagão Félix, o desenvolvimento de políticas de educação, saúde, segurança social e redução da pobreza, rejeição dos despedimentos na Função Pública, o combate ao abandono escolar e à corrupção e, a defesa de um processo constituinte europeu em que participem os cidadãos e os Estados a favor de uma União que privilegie as políticas sociais. Tal como as respostas às alterações climáticas, novas questões que estão presentes cada vez mais entre nós.
A construção desta alternativa ao governo Sócrates, só será possível, tal como igualmente aponta a Moção “A Esquerda Socialista como Alternativa ao Governo Sócrates”, através dos “diálogos e convergências das esquerdas sociais”. Nestas convergências, cabem todos aqueles que, fazendo parte das esquerdas sociais e políticas, inclusive e muito particularmente dentro do próprio Partido Socialista e dos movimentos sociais e que se opõem às políticas de desastre nacional deste governo. Este é o caminho, a orientação, a questão nodal, que permitirá passar da defensiva à ofensiva, da resistência ao ataque, enfrentando com êxito as políticas governamentais.
De que servirá fazer apelos públicos ao PCP e à CGTP para a criação de uma plataforma que se oponha às políticas neoliberais deste governo? Quanto à luta em conjunto com a CGTP, basta querermos lutar, basta estarmos dispostos a ir para o combate e a porta ser-nos-á franqueada. Aliás, muitos de nós estamos lá dentro, somos dirigentes, delegados sindicais e associados em muitos sindicatos filiados na CGTP, logo, só não actuamos, só não lutamos contra o governo e por melhores condições se não quisermos e, para isso, não é necessário qualquer apelo público.
E que mais esquerda, se somará à esquerda, tornando a esquerda mais forte, fazendo apelos públicos ao PC? Será uma perda de tempo e uma inutilidade e que não dará mais força à luta contra Sócrates. O PCP é uma força importante, uma força anti-neoliberal na nossa sociedade e com a qual o Bloco de Esquerda não quer competir, não deverá concorrer na actual conjuntura. Não nos interessa disputar e enfraquecer quem apenas dispõe de 7 ou 8% em termos eleitorais. Onde temos de assestar o nosso enfoque é na imensa massa de esquerda que votou e ainda continua iludida no Partido Socialista, permitindo sondagens a este partido na ordem dos 40 e 45%. Imensa maioria que, deverá opor-se cada vez mais às políticas do governo Sócrates, que deverá juntar-se cada vez mais às aspirações e forças bloquistas, ajudando a derrotar as medidas social-liberais de direita. A esta imensa gente deverão juntar-se muitos outros, inclusive no vasto campo dos abstencionistas mas que aspiram a mudanças de rumo, a alternativas realmente de esquerda.
É esta forma de actuar, plural, aberta, sem complexos e despida de sectarismos que se encontra na génese da formação do Bloco e que foi reafirmada na I Convenção, no ano de 2000. Aqui foi reafirmado que “o caminho do diálogo à esquerda é o que dá força às convergências de quantos desejam, em Portugal, uma esquerda de sociedade, que seja plural desde a sua génese, democrática nos propósitos, ambiciosa no projecto e clara nos objectivos: impor mudanças de rumo substantivas ao país do rotativismo ao centro”. Os tais apelos públicos que alguns defendem, apimentados com algumas doses de sectarismo à mistura – pois não se esperará uma reacção cordial e positiva de quem é acusado de ser a “principal força do governo” – esses apelos públicos, dizia, mais parecem outros apelos, velhos e gastos de 30 anos, à Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues (sem desprimor para estes autênticos lutadores), mas que ficaram sozinhos e isolados, sem qualquer apoio e sem qualquer eco na sociedade.
Mas a nossa luta na CGTP, ou em qualquer Sindicato, terá de ser pelo reforço da sua democratização, da sua pluralidade, rejeitando toda e qualquer partidarização sindical. As centrais sindicais ou os sindicatos ao actuarem como correias de transmissão de determinados partidos, em vez de ampliarem a mobilização para as lutas, em vez de congregarem mais vozes e forças para a acção, afunilam, estiolam e enfraquecem essas mesmas lutas e levam à derrota do movimento sindical. Esta será a disputa do Bloco com o PCP, ou com qualquer outro partido, recusando sindicatos e movimentos partidarizados.
Viva o Bloco de Esquerda!






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