Monday, December 26, 2005

PINTURA

Picasso

POESIA










Se houvesse degraus na terra...

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Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

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Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

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Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

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Herberto Helder

Toxicodependência



PJ apreende mais de 4 mil doses de cocaína

Quatro homens e uma mulher foram detidos A Polícia Judiciária, através do Departamento de Investigação Criminal de Portimão, deteve terça-feira três homens e uma mulher suspeitos de tráfico de estupefacientes. Os presumíveis traficantes foram interceptados pelas autoridades Policia na posse de cocaína e haxixe quando desenvolviam aquela actividade criminosa. No decurso de diligências subsequentes foram apreendidas quantidades de produto, devidamente acondicionado e escondido, que davam para cerca de 4 mil doses de cocaína e 400 doses de haxixe Os detidos, sem antecedentes criminais, foram submetidos a primeiro interrogatório judicial, ficando um deles obrigado a apresentar-se periodicamente às autoridades e os restantes sujeitos a prisão domiciliária.
in;Região-Sul, on-line


As novas apreensões de cocaína, marcam uma viragem no que diz respeito à variação quanto à procura das drogas que estão “in”.
Hoje em dia o heroinómano é visto pelos jovens como um “vencido da vida “, um “fim de linha” sem glamour, um ser enquadrado no estereótipo do “Loser”anglo-saxão.
O extasy e a coca pertencem aos potenciais “vencedores”, à rapaziada que circula entre gente “bonita”, muitas das vezes em discotecas muito “in”.Assim qualquer nova abordagem do fenómeno tem de ser claramente diferenciada relativamente ao que se passava à 10 ou 15 anos a trás.
O consumidor de coca/extasy, circula aparentemente integrado,,…não é o arrumador de automóveis.
Passamos desde agora a lidar com gente que muitas vezes vai aguentando um trabalho e relações familiares quase sempre perclitantes…mas que vão aguentando as aparências.
O cocainómano espanca alguém com alguma facilidade (em situações de sobredose),não tem a postura passiva/vencida do heroinómano, mas apesar disso as mais das vezes é um “integrado” ao contrário do heroinómano.
Enfim gente doente que para viver (E apesar de ser apenas um consumidor), tem de comprar alguma coca por atacado, para em seguida proceder ao “corte”, assim vai snifar a sua dose e vai pagá-la com a venda do “produto” anteriormaente, “cortado”. Esta gente não pode ser vista como o “Grande Dealer”. Enviá-la para a prisão, isso sim pode transformar essa rapaziada em dealers ligados a redes que muitas vezes se formam dentro das prisões.
É necessário que se continue a considerar o consumidor um doente e que se questione as quantidades de “produto”que são o sufeciente para transformar um doente num criminoso. Sabemos que a grande maioria dos consumidores têm de recorrer ao processo Compra/Corte, este processo repete-se 3 ou 4 vezes ao longo de todo o pequeno sistema de distribuição de rua. Sendo que quase sempre a coca chega ao nariz de fim da linha, com alguma coisa como 35% de pureza.


fernando gregorio

Muro da Cijordânia

Para ter acesso ao dossier de "EL Mundo"sobre o muro da Cijordânia:



http://www.elmundo.es/elmundo/2002/graficos/nov/s1/muro.html

Saturday, December 24, 2005

BELÉM

Se Cristo nascesse em 2005, por causa do muro Israelita,
só assim os reis magos chegariam a Belém.

PALESTINA


PALESTINA
Temen que Gaza se convierta en una gran prisión a cielo abierto


Departamento de PrensaComité Democrático
Palestino - Chile http://www.palestinalibre.org aislada del mundo, luego de la retirada de colonos


Aplaudida por toda la comunidad internacional, por los palestinos, la histórica retirada de las colonias ilegales de la Franja de Gaza plantea grandes interrogantes en cuestiones como la seguridad, la economía o la estabilidad política de la región.

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La evacuación significa que por primera vez Israel va a entregar territorios ocupados en la Guerra de 1967.
La inicial euforia palestina dejó paso al temor de que Gaza, una franja de 360 kilómetros cuadrados enclavada en el Mediterráneo, quede incomunicada del resto del mundo mientras Israel sigue controlando el acceso a su territorio por aire, tierra y mar.


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Según señala literalmente el Plan de Desconexión de Gaza, “Israel conservará y controlará el perímetro externo de la Franja de Gaza, mantendrá su autoridad exclusiva sobre el espacio aéreo de Gaza y conseguirá sus actividades de mantenimiento de la seguridad a lo largo del litoral de la franja.“Sin control de las fronteras y sin circulación entre Cisjordania y Gaza, ésta se convertirá en una gran prisión a cielo abierto”, no dejan de repetir portavoces de la Autoridad Palestina.

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Al respecto, el enviado especial del Cuarteto para Oriente Medio (EE.UU., Unión Europea, Rusia y la ONU), James Wolfensohn, subrayó recientemente que los palestinos necesitan circular libremente entre Gaza y Cisjordania, pues de lo contrario la primera sería una “gran prisión”.


“La Franja de Gaza debe ser una región de la que sea posible entrar, salir y comerciar libremente, siempre respetando la seguridad de Israel”, manifestó el funcionario.El control israelí del tránsito de personas y mercancías significaría el control de las importaciones y exportaciones palestinas y la economía local nunca podrá despegar.
Desde el estallido de la Intifada en 2000, las finanzas palestinas se han hundido completamente y el desempleo en Gaza afecta al 70% de la población, según la ONU.

FOTO

Jean Philippe poli

POEMA




Foi então que a luz vacilou numa
trégua indiferente,
posso esperar perpetuamente
e esta a casa permanecerá despojada.
...

Porque o vento derrotou as candeias,
sobre os sorrisos depositaram-se cinzas,
e não serão as palavras idóneas
para florescer sobre tal devastação.
...

Não serão igualmente as primaveras,
nem o fogo redentor sobre os ombros,

pois este é o mês em que toda a luz
foi ferida pelo negro punhal do tempo.
...

E em que o sangue se questionou demandando
a sua fonte primeira onde a dor superou a luz,
sobre o vazio que me habitou as mãos.



Fernando Gregório
Em memória de minha mãe.


Friday, December 23, 2005

Miguel Portas em Silves

Cavaco gera expectativa sob imagem de D.Sebastião, diz Miguel Portas




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Miguel Portas em Silves

O eurodeputado do Bloco de Esquerda Miguel Portas relacionou o aumento da influência de Cavaco S ilva perante o eleitorado com a imagem de «D. Sebastião» conquistada pelo candidato e construída sobre o silêncio a que se remete.
TEMAS: Presidenciais


«Boa parte do eleitorado espera de Cavaco que este seja uma espécie de salvador da pátria em manhã de nevoeiro e é essa expectativa que tem aumentado a influência do candidato de direita», afirmou.O deputado europeu eleito pelo Bloco de Esquerda falava sábado à noite em Vila Real de Santo António, após um jantar que reuniu mais de meia centena de apoiantes de Francisco Louçã, evento que encerrou o primeiro dia de pré-campanha no Algarve.

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Referindo-se ao silêncio do candidato apoiado pelo PSD/CDS-PP, Miguel Portas disse ainda que Cavaco Silva evita falar sob pena «de se revelar o mistério», já que é a sua postura do «não digo e não faço nada porque assim é que posso ganhar» que lhe confere a imagem de D. Sebastião.Miguel Portas aproveitou também para criticar Manuel Alegre, sugerindo que, apesar do candidato se ter apresentado como uma alternativa ao que chama de «poder bicéfalo», o seu discurso não tem «sumo» e reduz-se cada vez mais à «vitimação» e à ideia do «ainda estou aqui e não desisto».

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Referindo-se à demarcação de Cavaco Silva da eventualidade de alterar os poderes presidenciais, Francisco Louçã encerrou os discursos da noite sugerindo que existe uma espécie de «contaminação cavaquista» nesta campanha eleitoral.«Existe uma forma cavaquista de organizar o debate eleitoral que consiste em discutir intensamente aquilo sobre o qual nada há a fazer e não se preocupar com aquilo que se pode modificar», disse, observando que esta concepção «é uma forma de diminuir a democracia».



In: Barlavento
18 de Dezembro de 2005 09:13lusa









Discurso de aceitação do Prémio Nobel da Literatura 2005

Harold Pinter
Nobelprize.org

Em 1958, escrevi o seguinte:

«Não há grandes diferenças entre a realidade e a ficção, nem entre o verdadeiro e o falso. Uma coisa não é necessariamente ou verdadeira ou falsa; pode ser ao mesmo tempo verdade e mentira».

Creio que estas afirmações ainda fazem sentido, e ainda se aplicam à exploração da realidade através da arte. Assim, como escritor, mantenho-as, mas como cidadão não posso; como cidadão tenho de perguntar: Que é verdade? Que é mentira?

A verdade na arte dramática é sempre esquiva. Nunca a encontramos completamente, mas a busca por ela é compulsiva. A busca é claramente o que motiva o empenho. A busca é a tua tarefa. Muitas vezes, tropeçamos com a verdade na escuridão, chocando com ela ou vislumbrando uma imagem ou uma forma que parece corresponder à verdade, frequentemente sem nos darmos conta disso. Mas a verdade real é que na arte dramática não há tal coisa como uma verdade única. Há muitas. Estas verdades desafiam­‑se mutuamente, recusam­‑se mutuamente, reflectem-se mutuamente, ignoram-se mutuamente, provocam­‑se mutuamente, são cegas umas em relação às outras. Às vezes, sentimos que temos a verdade de um momento na mão, então escapa­‑se entre os nossos dedos e perde­‑se.

Perguntaram-me com frequência como nascem as minhas peças. Não sei dizê­‑lo. Como também não posso resumir as minhas peças, a não ser para dizer que foi isto o que aconteceu. Isso é o que elas dizem. Isso é o que elas fizeram.

A maior parte das peças são geradas por uma frase, uma palavra ou uma imagem. A palavra é com frequência rapidamente seguida pela imagem. Darei dois exemplos de duas frases que apareceram na minha cabeça do nada, seguidas por uma imagem, seguidas por mim.

As peças são The homecoming e Old times. A primeira frase de The homecoming é «Que fizeste com a tesoura?» A primeira frase de Old times é «Escuro».

Em ambos os casos, não tinha mais informação.

No primeiro caso alguém estava, obviamente, à procura de uma tesoura e perguntava pelo seu paradeiro a alguém de quem suspeitava que provavelmente a tinha roubado. Mas eu, de alguma maneira, sabia que à pessoa interrogada pouco lhe importava a tesoura ou, já agora, o interrogador.

“Escuro”, tomei como a descrição do cabelo de alguém, o cabelo de uma mulher, e era a resposta a uma pergunta. Em ambos os casos vi­‑me compelido a dedicar­‑me ao assunto. Isto ocorreu visualmente, numa muito lenta graduação, da sombra para a luz.

Sempre começo uma obra chamando aos personagens A, B e C.

Na peça que se tornou The Homecoming, vi um homem entrar numa sala austera e fazer a sua pergunta a um homem mais jovem sentado num sofá feio a ler um jornal de corridas de cavalos. De alguma forma suspeitava que A era um pai e que B era seu filho, mas não tinha provas. Isto foi, no entanto, confirmado pouco depois quando B (que depois seria Lenny ) disse a A (que depois seria Max), «Pai, importas­‑te que mude de assunto? Quero perguntar­‑te uma coisa. O jantar que tivemos antes, como se chama? Como o chamas tu? Por que não compras um cão? És um cozinheiro de cães. A sério. Pensas que estás a cozinhar para cães». Assim, como B chama “Pai” a A, pareceu­‑me razoável assumir que eram pai e filho. E havia também claramente o cozinheiro e a sua comida não parecia ser muito valorizada. Queria isto dizer que não havia uma mãe? Não sabia. Mas, como disse a mim mesmo então, os nossos princípios nunca sabem os nossos fins.

“Escuro”. Uma grande janela. Um céu ao entardecer. Um homem, A (que depois seria Deeley) e uma mulher, B (que depois seria Kate) sentados com bebidas. «Gorda ou magra», pergunta o homem. De quem falam? Mas então vejo, de pé junto à janela, uma mulher, C (que depois seria Anna), alumiada por uma luz diferente, de costas para eles, com o cabelo escuro.

É um momento estranho, o momento de criar personagens que até esse momento não tinham tido existência. O que se segue é irregular, vacilante, mesmo alucinatório, ainda que por vezes possa ser uma avalanche imparável. A posição do autor é esquisita. Em certo sentido, não é bem-vindo pelas personagens. As personagens resistem­‑lhe, não é fácil conviver com elas, são impossíveis de definir. Certamente não podemos dar­‑lhes ordens. Até certo ponto, jogamos um jogo interminável com elas, ao gato e ao rato, ao adivinha quem é [blind man’s buff], às escondidas. Mas finalmente descobrimos que temos pessoas de carne e osso nas nossas mãos, pessoas com uma vontade e com uma sensibilidade individual próprias, feitas de partes componentes que somos incapazes de mudar, manipular ou distorcer.

Assim, a linguagem na arte continua a ser uma ambiciosa transação, umas areias movediças, um trampolim, uma poça gelada que pode ceder sob os pés, os do autor, em qualquer momento.

Mas, como disse, a busca da verdade nunca pode parar. Não pode ser suspensa, não pode ser adiada. Tem que ser enfrentada, ali mesmo, no acto.

O teatro político apresenta uma variedade totalmente diferente de problemas. Há que evitar os sermões a todo o custo. A objectividade é essencial. Deve­‑se deixar que as personagens respirem por sua própria conta. O autor não pode confiná­‑las nem constringi­‑las para satisfazer o seu próprio gosto, disposição ou preconceitos. Tem de estar preparado para se aproximar delas de uma variedade de ângulos, de um sortido amplo e desinibido de perspectivas, talvez, ocasionalmente, tomá-las de surpresa, mas apesar de tudo, dando-lhes a liberdade para ir aonde desejem. Isto nem sempre funciona. E a sátira política, evidentemente, não adere a nenhum destes preceitos, na verdade, faz precisamente o contrário, o que é a sua autêntica função.

Na minha peça The birthday party creio que permito o funcionamento de um amplo leque de opções numa densa floresta de possibilidades antes de finalmente me concentrar num acto de subjugação.

Mountain Language não aspira a essa amplitude de funcionamento. Permanece brutal, curta e feia. Mas os soldados na peça sim divertem­‑se com aquilo. Um por vezes esquece­‑se que os torturadores se aborrecem facilmente. Precisam de se rir de vez em quando para manter o ânimo. Isto foi, evidentemente, confirmado pelos acontecimentos em Abu Ghraib em Bagdade. Mountain language dura só 20 minutos, mas poderia continuar hora após hora, uma e outra e outra vez, o mesmo padrão repetido de novo e de novo, uma e outra vez, hora após hora.

Ashes to ashes, por outro lado, dá-me a impressão de ter lugar debaixo de água. Uma mulher que se afoga, a sua mão que emerge das ondas, que se afunda e desaparece, procurando outras, mas não encontrando ali ninguém, seja acima seja debaixo de água, encontrando unicamente sombras, reflexos, boiando; a mulher uma figura perdida numa paisagem de naufrágio, uma mulher incapaz de escapar do destino que parecia pertencer apenas a outros.

Mas, como eles morreram, ela também deve morrer.

A linguagem política, tal como é usada pelos políticos, não se adentra em nenhum destes territórios dado que a maioria dos políticos, segundo a evidência disponível, não estão interessados na verdade mas no poder e na manutenção desse poder. Para manter esse poder é essencial que as pessoas permaneçam na ignorância, que vivam na ignorância da verdade, mesmo da verdade sobre as suas próprias vidas. O que nos rodeia é portanto um enorme entrelaçado de mentiras, das quais nos alimentamos.

Como cada indivíduo aqui sabe, a justificação para a invasão do Iraque era que Saddam Hussein possuía um perigosíssimo arsenal de armas de destruição em massa, algumas das quais podiam ser lançadas em 45 minutos, provocando uma apavorante devastação. Asseguraram-nos que isso era verdadeiro. Não era verdadeiro. Disseram-nos que o Iraque tinha uma relação com a Al Qaeda e que partilhava a responsabilidade pela atrocidade de 11 de Setembro de 2001 em Nova York. Asseguraram-nos que isto era verdadeiro. Não era verdadeiro. Disseram-nos que o Iraque ameaçava a segurança do mundo. Asseguraram-nos que era verdadeiro. Não era verdadeiro.

A verdade é algo totalmente diferente. A verdade tem a ver com a forma como os Estados Unidos entendem o seu papel no mundo e como decide encarná-lo.

Mas antes de voltar ao presente, gostaria de olhar o passado recente, refiro-me à política externa dos Estados Unidos desde o final da Segunda Guerra Mundial. Creio que é nossa obrigação submeter este período a pelo menos algum tipo de escrutínio, ainda que limitado, que é tudo o que o tempo nos permitirá aqui.

Todos sabem o que aconteceu na União Soviética e por toda a Europa de Leste durante o período do pós­‑guerra: a brutalidade sistemática, as múltiplas atrocidades, a implacável supressão do pensamento independente. Tudo isto foi amplamente documentado e verificado.

Mas a minha contenda aqui é que os crimes dos EUA no mesmo período só foram registrados de forma superficial, não digamos já documentados, ou admitidos, ou reconhecidos sequer como crimes. Creio que isto deve ser encarado e que a verdade [sobre este assunto] tem muito a ver com a situação em que se encontra o mundo actualmente. Embora limitadas, até certo ponto, pela existência da União Soviética, as acções dos Estados Unidos por todo o mundo deixaram claro que tinham concluído que tinham carta branca para fazer o que quisessem.

A invasão directa de um estado soberano nunca foi, na verdade. o método favorito dos Estados Unidos. Na maioria dos casos, preferiram o que descreveram como “conflito de baixa intensidade”. Conflito de baixa intensidade significa que milhares de pessoas morrem, mas mais lentamente do que se lançássemos uma bomba sobre eles de um só golpe. Significa que infectamos o coração do país, que estabelecemos um tumor maligno e observamos o desenvolvimento da gangrena. Quando o povo foi submetido – ou moido a paus – o que vem a ser o mesmo – e os nossos próprios amigos, os militares e as grandes corporações, se sentam confortavelmente no poder, vamos à frente da câmara e dizemos que a democracia triunfou. Isto foi um lugar comum na política externa dos Estados Unidos durante os anos a que me refiro.

A tragédia da Nicarágua foi um caso muito significativo. Escolhi­ apresentá­­­‑lo aqui como um exemplo potente de como os Estados Unidos vêem o seu papel no mundo, tanto então como agora.

Estive presente numa reunião na embaixada dos EUA em Londres no final dos anos oitenta.

O Congresso de Estados Unidos estava prestes a decidir se dar mais dinheiro aos Contras para a sua campanha contra o estado da Nicarágua. Eu era um membro de uma delegação que vinha falar em nome da Nicarágua, mas a pessoa mais importante nesta delegação era o Padre John Metcalf. O líder do grupo dos EUA era Raymond Seitz (então número dois do embaixador, mais tarde embaixador ele mesmo). O Padre Metcalf disse: «Senhor, dirijo uma paróquia no norte da Nicarágua. Os meus paroquianos construíram uma escola, um centro de saúde, um centro cultural. Vivíamos em paz. Há alguns meses uma força dos Contra atacou a paróquia. Destruíram tudo: a escola, o centro de saúde, o centro cultural. Violaram as enfermeiras e as professoras, assassinaram os médicos, da forma mais brutal. Comportaram-se como selvagens. Por favor, peça que o governo dos EUA retire o seu apoio a esta revoltante actividade terrorista».

Raymond Seitz tinha muito boa reputação como homem racional, responsável e altamente sofisticado. Era grandemente respeitado nos círculos diplomáticos. Escutou, fez uma pausa, e depois falou com alguma gravidade. «Pai», disse, «deixe-me dizer-lhe algo. Na guerra, as pessoas inocentes sofrem sempre». Houve um frio silêncio. Olhamos para ele. Ele não piscou.

As pessoas inocentes, de facto, sempre sofrem.

Finalmente, alguém disse: «Mas neste caso as “pessoas inocentes” foram vítimas de uma horrível atrocidade subvencionada pelo seu governo, uma entre muitas. Se o Congresso concede aos Contras mais dinheiro, mais atrocidades desta tipo terão lugar. Não é assim? Não é, portanto, o seu governo culpado de apoiar actos de assassinato e destruição contra os cidadãos de um estado soberano?»

Seitz manteve­‑se imperturbável. «Não estou de acordo que os factos, tal como foram apresentados, apoiem as suas afirmações», disse.

Enquanto abandonávamos a embaixada, um assessor estado­‑unidense disse­‑me que apreciava as minhas peças. Não respondi.

Devo recordar-lhes que o então presidente, Reagan, fez a seguinte declaração: «Os Contras são o equivalente moral dos nossos Pais Fundadores».

Os Estados Unidos apoiaram a brutal ditadura de Somoza na Nicarágua durante 40 anos. O povo nicaraguano, liderado pelos sandinistas, derrocou este regime em 1979, uma impressionante revolução popular.

Os sandinistas não eram perfeitos. Tinham a sua quota parte de arrogância e a sua filosofia política continha um certo número de elementos contraditórios. Mas eram inteligentes, racionais e civilizados. Propuseram-se estabelecer uma sociedade estável, decente e plural. A pena de morta foi abolida. Centenas de milhares de camponeses acometidos pela pobreza foram resgatados dos mortos. Mais de 100.000 famílias receberam títulos de propriedade sobre terras. Foram construídas duas mil escolas. Uma notável campanha educativa reduziu o analfabetismo no país a menos de um sétimo. Foram estabelecidos uma educação e um serviço de saúde gratuitos. A mortalidade infantil foi reduziu em um terço. A poliomielite foi erradicada.

Os Estados Unidos denunciaram estas realizações como subversão marxista/leninista. Do ponto de vista do governo dos EUA, estava-se a estabelecer um exemplo perigoso. Se fosse permitido à Nicarágua estabelecer normas básicas de justiça social e económica, se lhe fosse permitido subir os níveis de saúde e educação e alcançar a unidade social e o auto­‑respeito nacional, os países vizinhos poriam as mesmas questões e fariam o mesmo. Havia evidentemente nessa época uma feroz resistência ao status quo em El Salvador.

Falei anteriormente sobre “um entrelaçado de mentiras” que nos rodeia. O presidente Reagan descrevia habitualmente a Nicarágua como um “calaboiço totalitário”. Isto foi tomado de forma geral pelos meios de comunicação, e certamente pelo governo britânico, como um comentário correcto e justo. Mas, na verdade, não havia registro de esquadrões da morte sob o governo sandinista. Não havia registro de torturas. Não havia registro de uma brutalidade sistemática ou oficial por parte dos militares. Nenhum sacerdote foi jamais assassinado na Nicarágua. Havia, na veradde, três sacerdotes no governo, dois jesuítas e um missionário Maryknoll. Os calaboiços totalitários estavam na realidade ao lado, em El Salvador e na Guatemala. Os Estados Unidos tinham feito cair o governo democraticamente eleito da Guatemala em 1954 e estima­‑se que mais de 200.000 pessoas tinham sido vítimas das sucessivas ditaduras militares.

Seis dos mais eminentes jesuítas do mundo foram brutalmente assassinados na Universidade da América Central em San Salvador em 1989 por um batalhão do regimento Alcatl treinado em Fort Benning, Geórgia, EUA. Esse homem extremamente corajoso, o Arcebispo Romero, foi assassinado enquanto dizia a missa. Estima-se que morreram 75.000 pessoas. Por que foram assassinadas? Foram assassinadas porque acreditavam que uma vida melhor era possível e que devia ser realizada. Essa crença qualificava­‑os imediatamente como comunistas. Morreram porque se atreveram a questionar o status quo, a interminável situação de pobreza, a doença, a degradação e a opressão que tinham recebido como herança.

Os Estados Unidos finalmente fizeram cair o governo sandinista. Levou alguns anos e uma resistência considerável, mas uma perseguição económica implacável e 30.000 mortos finalmente minaram o ânimo do povo nicaraguano. Estavam exaustos e acometidos pela pobreza uma vez mais. Os casinos voltaram ao país. A saúde e a educação gratuitas acabaram. As grandes empresas voltaram para valer. A “democracia” tinha triunfado.

Mas esta “política” não estava, de modo nenhum, restrita à América Central. Foi conduzida por todo o mundo. Era interminável. E é como se nunca se tivesse passado.

Os Estados Unidos apoiaram e em muitos casos engendraram cada ditadura militar de direita no mundo depois do final da Segunda Guerra Mundial. Refiro-me a Indonésia, Grécia, Uruguai, Brasil, Paraguai, Haiti, Turquia, Filipinas, Guatemala, El Salvador, e, claro, Chile. O horror que os Estados Unidos infligiram ao Chile em 1973 não poderá ser nunca purgado nem esquecido.

Centenas de milhares de mortes tiveram lugar em todos estes países. Tiveram lugar? E são elas em todos os casos atribuíveis à política externa dos EUA? A resposta é sim, tiveram lugar e são atribuíveis à política externa dos EUA. Mas vocês não o saberiam.

Nunca aconteceu. Nada alguma vez aconteceu. Mesmo enquanto acontecia não estava a acontecer. Não importava. Não tinha interesse. Os crimes dos Estados Unidos têm sido sistemáticos, constantes, imorais, cruéis, mas muito poucas pessoas falaram efectivamente deles. É preciso reconhecer isto aos Estados Unidos. Exerceram uma manipulação bastante clínica do poder em todo o mundo enquanto se disfarçavam como uma força ao serviço do bem universal. É um exercício de hipnose brilhante, até espirituoso, altamente bem sucedido.

Digo-vos que os Estados Unidos são sem dúvida o maior espectáculo ambulante. Por brutais, indiferentes, desdenhosos e implacáveis que sejam, são também muito inteligentes. Como vendedores não têm rival, e a mercadoria que melhor vendem é o amor próprio. Trata­‑se de um vencedor. Escutem todos os presidentes dos Estados Unidos na televisão dizer as palavras, “o povo americano”, como na frase “digo ao povo americano que é hora de rezar e defender os direitos do povo americano e peço ao povo americano que confie no seu presidente na acção que vai empreender em benefício do povo americano”.

É uma estratagema brilhante. A linguagem é efectivamente utilizada para manter o pensamento descansado. As palavras “o povo americano” produzem uma almofada de tranquilidade verdadeiramente voluptuosa. Não precisamos de pensar. Simplesmente recostemo­‑nos na almofada. A almofada pode estar a sufocar a nossa inteligência e as nossas capacidades críticas mas é muito confortável. Isto não se aplica, evidentemente, aos 40 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza e aos 2 milhões de homens e mulheres prisioneiros no vasto gulag de prisões, que se estende ao longo dos Estados Unidos.

Estados Unidos já não se incomodam com os conflitos de baixa intensidade. Não vêem nenhum interesse em ser reticente ou dissimulado. Põem as suas cartas na mesa sem medo nem favor. Simplesmente está­‑se marimbando para as Nações Unidas, para a lei internacional ou a discordância crítica, que encara como impotente e irrelevante. Também tem o seu próprio cãozinho que ladra seguindo atrás pela trela, a patética e indolente Grã-Bretanha.

O que aconteceu à nossa sensibilidade moral? Chegamos a ter alguma? O que significam estas palavras? Será que se referem a um termo muito raramente utilizado nestes dias – consciência? Uma consciência que tem a ver não só com os nossos próprios actos, mas também com a nossa responsabilidade partilhada nos actos dos outros? Está tudo isto morto? Olhem para a Baía de Guantánamo. Centenas de pessoas detidas sem acusação durante três anos, sem representação legal ou o devido processo, tecnicamente detidos para sempre. Esta estrutura totalmente ilegítima é mantida em desafio à Convenção de Genebra. Não só é tolerada, mas mal é considerada pelo que se chama a “comunidade internacional”. Esta ultraje criminoso está a ser cometido por um país, que se declara a si mesmo como “o líder do mundo livre”. Será que pensamos nos habitantes da Baía de Guantánamo? O que dizem os meios de comunicação sobre eles? Aparecem ocasionalmente – uma pequena menção na página seis. Eles foram consignados a uma terra de ninguém da qual, na verdade, podem nunca mais voltar. No momento, muitos estão em greve de fome, a ser alimentados à força, incluídos os residentes britânicos. Não há subtilezas nestes procedimentos de alimentação. Nem sedativos nem anestésicos. Só um tubo inserido no teu nariz e dentro da tua garganta. Tu vomitas sangue. Isto é tortura. Que disse o secretário britânico dos negócios estrangeiros sobre isto? Nada. Que disse o primeiro­‑ministro britânico sobre isto? Nada. Por que não? Porque os Estados Unidos disseram: criticar a nossa conduta na Baía de Guantánamo constitui um acto pouco amistoso. Ou estais connosco ou contra nós. Assim, Blair cala­‑se.

A invasão de Iraque foi um acto bandido, um acto de evidente terrorismo de estado, demonstrando um desprezo absoluto pelo conceito de lei internacional. A invasão foi uma acção militar arbitrária baseada numa série de mentiras atrás de mentiras e numa grosseira manipulação dos meios de comunicação e, portanto, do publico; um acto visando consolidar o controle militar e económico dos Estados Unidos sobre o Médio Oriente disfarçado – como último recurso – tendo todas as outras justificações caído por si mesmas – de libertação. Uma formidável afirmação de força militar responsável pela morte e mutilação de milhares e milhares de pessoas inocentes.

Levámos tortura, bombas de fragmentação, urânio empobrecido, inumeráveis actos de assassinato aleatório, miséria, degradação e morte ao povo iraquiano e chamamos a isso “levar a liberdade e a democracia ao Médio Oriente”.

Quantas pessoas é preciso matar antes de se estar qualificado para ser descrito como um assassino em massa e um criminoso de guerra? Cem mil? Mais do que suficiente, pensaria eu. Por isso, é justo que Bush e Blair sejam levados perante o Tribunal Penal Internacional de Justiça. Mas Bush foi esperto. Não ratificou o Tribunal Penal Internacional de Justiça. Por isso, se algum soldado ou, já agora, político americano se achar no banco dos réus, Bush avisou que enviará os marines. Mas Tony Blair ratificou o Tribunal e está portanto disponível para a acusação. Podemos proporcionar ao Tribunal o seu endereço se estiver interessado. É o número 10 de Downing Street, Londres.

A morte neste contexto é irrelevante. Ambos, Bush e Blair colocam a morte bem longe, nas contas atrasadas. Pelo menos 100.000 iraquianos foram mortos pelas bombas e mísseis americanos antes de a insurgência iraquiana ter começado. Estas pessoas não têm importância. As suas mortes não existem. São vazios. Nem sequer estão registradas como estando mortas. «Não fazemos contagem de corpos», disse o general americano Tommy Franks.

No início da invasão foi publicada na primeira página dos jornais britânicos uma fotografia de Tony Blair beijando a bochecha de um rapazinho iraquiano. «Um criança agradecida» dizia a legenda. Uns dias depois apareceu uma história com uma fotografia, numa página interior, de outro rapaz de quatro anos sem braços. A sua família tinha sido explodida por um míssil. Ele foi o único sobrevivente. «Quando terei os meus braços de volta?» perguntou. A história foi deixada cair. Bem, Tony Blair não o segurava nos seus braços, nem o corpo de qualquer outra criança mutilada, nem corpo de qualquer cadáver ensanguentado. O sangue é sujo. Suja a tua camisa e a tua gravata quando estás a fazer um discurso sincero na televisão.

Os 2.000 americanos mortos são um embaraço. São transportados para as suas tumbas na escuridão. Os funerais são discretos, a salvo. Os mutilados apodrecem nas suas camas, alguns para o resto das suas vidas. Assim, os mortos e os mutilados apodrecem ambos, em diferentes tipos de tumbas.

Eis um extracto de um poema de Pablo Neruda: Explico Algumas Coisas:

E uma manhã tudo estava ardendo
e uma manhã as fogueiras
saíam da terra
devorando seres,
e desde então fogo,
pólvora desde então,
e desde então sangue.
Bandidos com aviões e com mouros,
bandidos com alianças e duquesas,
bandidos com frades negros abençoando
vinham pelo céu a matar crianças,
e pelas ruas o sangue das crianças
corria simplesmente, como sangue de crianças

Chacais que o chacal recusaria,
pedras que o cardo seco morderia cuspindo,
víboras que as víboras odiariam!

Frente a vós vi o sangue
de Espanha levantar-se
para afogar-vos numa só onda
de orgulho e de facas!

Generais
traidores:
olhai a minha casa morta,
olhai a Espanha quebrada:
mas de cada casa morta sai metal ardendo
em vez de flores,
mas de cada vão de Espanha
sai a Espanha,
mas de cada criança morta sai uma espingarda com olhos,
mas de cada crime nascem balas
que vos acharão um dia o lugar
do coração.

Perguntareis por que a sua poesia
não nos fala do sonho, das folhas,
dos grandes vulcões do seu país natal?

Vinde ver o sangue pelas ruas,
vinde ver
o sangue pelas ruas,
vinde ver o sangue
pelas ruas!

Deixem­‑me tornar claro que citando o poema de Neruda não estou de modo nenhum a comparar a República Espanhola com o Iraque de Saddam Hussein. Cito Neruda porque em nenhum outro lugar da lírica contemporânea li uma descrição tão visceral e poderosa do bombardeamento de civis.

Disse antes que os Estados Unidos estão agora a ser totalmente francos ao pôr as suas cartas na mesa. Esse é o caso. A sua política oficial declarada é agora definida como “domínio de espectro total”. Este não é o meu termo, é o deles. “Domínio de espectro total” quer dizer controle da terra, mar, ar e espaço e todos os seus recursos.

Os Estados Unidos ocupam agora 702 bases militares por todo o mundo em 132 países, com a honrosa excepção da Suíça, claro. Não sabemos muito bem como chegaram lá, mas o facto é que estão lá.

Os Estados Unidos possuem 8.000 cabeças nucleares activas e operacionais. Duas mil estão em alerta permanente, prontas a serem lançadas 15 minutos após aviso. Estão a desenvolver novos sistemas de força nuclear, conhecidos como destruidores de bunkeres [bunk busters]. Os britânicos, sempre cooperativos, estão a planear substituir o seu próprio míssil nuclear, o Trident. A quem, pergunto-me, estão a apontar? A Osama Bin Laden? A ti? A mim? A Joe Dokes? China? Paris? Quem sabe? O que sim sabemos é que esta loucura infantil – a posse e a ameaça de uso de armas nucleares – está no cerne da actual filosofia política dos Estados Unidos. Devemos recordar a nós mesmos que os Estados Unidos estão numa permanente postura militar e não mostram sinais de a relaxar.

Muitos milhares, se não milhões, de pessoas nos próprios Estados Unidos estão manifestamente enojados, envergonhados e zangados pelas acções do seu governo, mas tal como estão as coisas não são uma força política coerente – ainda. Mas a ansiedade, a incerteza e o medo que podemos ver a crescer diariamente nos Estados Unidos não é provável que diminua.

Sei que o presidente Bush tem muitos escritores de discursos competentes, mas gostaria de oferecer­‑me como voluntário para o emprego. Proponho o seguinte breve discurso que ele pode fazer na televisão à nação. Vejo­‑o solene, com o cabelo cuidadosamente penteado, sério, confiante, sincero, frequentemente sedutor, por vezes empregando um sorriso irónico, curiosamente atraente, um autêntico macho.

“Deus é bom. Deus é grande. Deus é bom. O meu Deus é bom. O Deus de Bin Laden é mau. O seu é um mau Deus. O Deus de Saddam era mau, só que ele não tinha um. Ele era um bárbaro. Nós não somos bárbaros. Nós não cortamos as cabeças das pessoas. Nós acreditamos na liberdade. Deus também. Eu não sou bárbaro. Eu sou o líder democraticamente eleito de uma democracia amante da liberdade. Somos uma sociedade compassiva. Ministramos uma electrocução compassiva e uma compassiva injecção letal. Somos uma grande nação. Eu não sou um ditador. Ele é. Eu não sou um bárbaro. Ele é. E ele é. Todos eles são. Eu possuo autoridade moral. Vêem este punho? Esta é a minha autoridade moral. E não o esqueçam”.

A vida de um escritor é extremamente vulnerável, quase uma actividade nua. Não temos que chorar por isso. O escritor faz a sua eleição e fica colado a ela. Mas é verdadeiro dizer que estamos expostos a todos os ventos, algum deles certamente gelados. Estás por tua conta, sobre uma perna. Não encontras refúgio, nem protecção – a não ser que mintas – em cujo caso, evidentemente, terás construído a tua própria protecção e, poderia argumentar-se, ter­‑te­‑ás transformado num político.

Referi-me à morte bastantes vezes esta tarde. Vou citar agora um poema meu chamado Morte

Onde foi o cadáver encontrado?
Quem encontrou o cadáver?
Estava o cadáver morto quando o encontraram?
Como estava o cadáver encontrado?

Quem era o cadáver?

Quem era o pai ou filha ou irmão
ou tio ou irmã ou mãe ou filho
do morto e abandonado cadáver?

Estava o cadáver morto quando foi abandonado?
Foi o cadáver abandonado?
Por quem tinha sido abandonado?

O cadáver estava nu ou vestido para uma viagem?

O que o fez declarar morto o cadáver?
Declarou morto o cadáver?
Quão bem conheceu o cadáver?
Como soube que o cadáver estava morto?

Lavou o cadáver?
Fechou ambos os seus olhos?
Enterrou o corpo?
Deixou­‑o abandonado?
Beijou o cadáver?

Quando olhamos para um espelho pensamos que a imagem que nos enfrenta é exacta. Mas se nos movemos um milímetro a imagem muda. Estamos na verdade a olhar para um interminável leque de reflexos. Mas algumas vezes o escritor tem que estilhaçar o espelho – pois é do outro lado do espelho que a verdade nos olha.

Creio que, apesar das enormes dificuldades que existem, uma firme, inquebrantável, feroz determinação intelectual, como cidadãos, para definir a autêntica verdade das nossas vidas e das nossas sociedades é uma obrigação crucial que nos diz respeito a todos. É, realmente, obrigatório.

Se tal determinação não estiver incorporada na nossa visão política, não temos esperança de restaurar o que está quase perdido para nós – a dignidade do ser humano.

__________O vídeo da gravação deste discurso pode ser visualizado aqui (n. IA).

Greenpeace

Thursday, December 22, 2005

Presidenciais














Louçã acusa Cavaco de abrir caminho aos «jobs for the boys»

barlavento Ver Fotos »
Francisco Louçã no comício em Portimão
O candidato presidencial Francisco Louçã acusou Cavaco Silva de abrir caminho aos «jobs for the boys» ainda antes da realização das eleições, aludindo ao seu comportamento durante um jantar onde se reuniu com jovens de sucesso.


Afirmando ter sabido pela Imprensa que Cavaco Silva percorreu, durante um jantar de pré-campanha realizado no sábado, as mesas dos presentes perguntando qual era a sua área, Louçã aproveitou para lançar críticas ao comportamento do candidato de direita.«Ainda não houve as eleições, mas os 'jobs for the boys' já vão abrindo caminho», disse, acrescentando que quem quer fazer campanha sabe que as perguntas rigorosas não são sobre empregos e sucesso, mas sobre dificuldades.

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O candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda falava em Silves, após um almoço onde reuniu cerca de uma centena de apoiantes e ao qual se seguiu uma festa-comício em Portimão.«A área de grande parte deste país é a pobreza, o desemprego, e a disparidade entre homens e mulheres», exclamou, lembrando as muitas pessoas cuja área «é bater à porta dos centros de emprego e ficar à espera».Aludindo às mais recentes sondagens sobre as presidenciais, que dão a vitória a Cavaco Silva, afirmou não estar entre aqueles que ficam «aborrecidos» quando as sondagens dizem aquilo de que não gosta, porque está aqui «para mudar as sondagens».

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19 de Dezembro de 2005 09:31lusa

Ocupação do Iraque!


Os USA usam de novo o "fósforo branco"em Al Anbar e atacam pela segunda vez o Hospital de Al Qaim.



Algumas testemunhas afirmaram "Quando se enterraram os cadáveres as suas roupas estavam intactas, mas quando se tocava os corpos, estes desfaziam-se como cinzas".
No dia 15 de Novembro em Ebedy, os soldados americanos obrigaram as familias a passar a noita ao relento (as temperaturas eram muito baixas), dois bébés de meses morreram durante a noite com frio.

LINK :Operación "Telón de Acero": El verdadero rostro de la ocupación

Wednesday, December 21, 2005

Fotos

Vale do Draa, Marrocos / Magnum Photos

JAPONESES INSISTEM NA PESCA DA BALEIA

David contra Golias.
Baleeiro Japonês tenta afastar com jorros de água, as
lanchas do Greenpeace que impedem a sua laboração.

Poema




Não te grito, nem te cheiro
Quando as águas correm desabadas
Do alto do teu corpo
Feito cimento cru, feito osso.
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Se fosse real teu inimigo
Haveria de pendurar laranjas
No limoeiro do quintal em frente
Poderia dizer-te as estrelas todas do caminho feito regresso
Morte


Poema de William Junqueira - Jovem poeta portimonense.

Editado na Revista Literária http://www.storm-magazine.com

Uma proposta



Uma proposta de presente! (Para si ou para terceiros)


Diário de uma Adolescente em Moscovo, anos 30: Nina Lugovskaya
Eu Quero Viver !

Nina Lugovskaya

A Anne Frank russa. Encontrado nos arquivos da NKVD, o diário agora editado revela o dia-a-dia, os dilemas e problemáticas de uma adolescente moscovita. De 1932 a 1937, Nina revela, na intimidade do seu diário, a clima de medo e opressão vivida sob o regime estalinista. Confiscado o seu diário quando tinha apenas 18 anos, Nina e a família são enviados para o campo prisional de Kolima. Dos primeiros amores a uma agudo desejo de liberdade, o diário desta adolescente é um valioso documento histórico e humano.

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Ter um diário era por si um perigo, um segredo. A intimidade do pensamento e a liberdade de expressão não combinavam com o regime totalitarista de Estaline. Quando em 1932, com 14 anos, Nina inicia o seu diário, atormentavam-na os problemas de qualquer adolescente. Rapazes, amores, amigos, a solidão. Com a prisão do pai, um conhecido anti-bolchevique, Nina desenvolve contudo uma consciência política que tornam o seu diário um documento único. Encontrado por uma investigadora nos arquivos da NKVD, o diário de Nina Lugovskaya serviu de prova contra a jovem, acusada em 1937 de “contra revolucionária”.

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No diário manifestava os seus medos e anseios, a revolta contra Estaline e contra o regime. Ao ver os seus escritos confiscados condenou-se, e condenou toda família, a cinco anos de prisão em Kolima. Tendo acabado por casar com Victor Templin, um preso político que conheceu nos tempos de exílio, Nina acabou por se tornar pintora conseguindo assim sobreviver aos horrores da prisão e do estalinismo.

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Com a edição dos seus diários, recupera-se um vivo e inteligente testemunho de uma jovem inadaptada ao regime. Registo da sua juventude e inconstância, dos seus sonhos e complexos, revela amiúde um negro período da história da Rússia. Pelo valor histórico e humano do seu testemunho, Nina é por muitos comparada a Anne Frank. A Anne de Estaline. 1024027


À venda nas livrarias.

Feliz Natal e Bom Ano Novo !!

Feliz Natal e Bom Ano Novo
São os votos do blocoemportimão!!

Manuel da Luz (Entrevistado no Jornal do Algarve)


J.A. – Este (O Lisboa – Dakar ) é sem dúvida o maior evento que o município já realizou até ao momento...

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M.L. – Assumimos nos últimos anos a estratégia de acolher grandes manifestações internacionais para promover a cidade, a sua cultura e a sua oferta turística. Hoje, Portimão está na rota dos grandes eventos – Grande Prémio de Moto-náutica, Mundialito de Futebol de Praia, Torneio Internacional de Ginástica Rítmica –, são elementos activos de promoção da imagem de Portimão e que geraram também "know-how" na nossa capacidade de organizar e acolher bem. É uma opção estratégica que certamente nos dotará de uma vantagem competitiva, que assumimos como determinante, sobretudo se considerarmos que a curto prazo entrarão em funcionamento um conjunto de equipamentos âncora para o município e para esta região que exigirão uma dinâmica de programação, de funcionamento e de rentabilização sem precedentes nesta sub-região.

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in; Jornal do Algarve


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Estamos seguros de que Portimão dispõe de bons argumentos para concorrer ao grande prémio do "Desordenamento e caos urbanistico"...,se calhar valia a pena tentar...!?

f.greg.

Tuesday, December 20, 2005

Fotos

Magnum Photos

Escultura

escultura de Bruno Rosalves
Estas formas transportam em si o silêncio.
O silêncio que se entoava no eco dos cantos de estranhos pássaros,
quando as cinzas se quedavam por lavrar no útero dos bosques.

O Silêncio afima-se, e a sombra espera o que restou da luz.
f greg

Francisco Louçã - No Algarve

Francisco Louçã e João Vasconcelos no Comicio Festa em Portimão

Francisco Louçã - No Algarve



Francisco Louçã - No Algarve


Almoço em Silves 18 de Dezembro de 2005

Francisco Louçã - No Algarve



Nas fotos anteriores:Francisco Louçã em Ferragudo 19 de Dezembro

Saturday, December 17, 2005

Crise...qual crise...!?



O luxo e a miséria

A Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA) revelou na semana passada que, apesar de as vendas globais de automóveis continuarem em contínua queda em Portugal, as marcas de luxo e as Premium têm visto as vendas crescer.
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A Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA) revelou na semana passada que, apesar de as vendas globais de automóveis continuarem em contínua queda em Portugal, as marcas de luxo e as Premium têm visto as vendas crescer. Entre as marcas de luxo contam-se a Ferrari, a Bentley, a Porsche ou a Maserati. Mas marcas Premium integram-se a Mercedes, a Audi e a BMW.
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Ou seja: a maioria dos portugueses não tem dinheiro para comprar um carrito barato e por isso as vendas dos automóveis normais baixam, num contexto de crise económica, alta do Imposto Automóvel e do preço dos combustíveis.
Mas há neste país uma imensa minoria cada vez mais endinheirada, que compra automóveis de luxo ou marcas topo de gama, gastando num automóvel aquilo que a maioria das famílias não ganha em 10 anos.
Não vou fazer juízos de valor demagógicos, mas não posso deixar de pensar que é curioso este nosso país. A crise económica está aí, há cada vez mais empresas a falir, a despedir trabalhadores, a deslocalizar-se (como agora é moda dizer) para países onde a mão de obra é mais barata. Mas, como sempre acontece nas crises, há muita gente – a tal imensa minoria – que tem cada vez mais dinheiro e não tem qualquer receio de o ostentar.
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Apesar de tudo, ainda muito nos separa daqueles países ditos de Terceiro Mundo, como Angola, onde a esmagadora maioria da população vive na mais abjecta miséria, mas onde meia dúzia de pessoas enriquecidas sabe-se lá como se passeiam nas ruas pejadas de lixo em autênticas bombas automóveis.
Em Portugal, apesar de tudo, estamos muito longe disso.Mas só espero que esses que por cá compram os Ferraris e os Porsches não sejam os mesmos que deixam as suas empresas ir à falência, que despedem trabalhadores ou que não lhes pagam meses a fio de salário… É que isso era o que acontecia na década de 80, no Vale do Ave, entre os empresários de vão de escada que aproveitavam a maré de vacas gordas dos têxteis. E agora, como é?
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15 de Dezembro de 2005 17:48elisabete rodrigues In: Barlavento

F. LOUÇÃ NO ALGARVE


DIA 18 de Dezembro, pelas 11H, Francisco Louçã em Ferragudo.Feira de artesanato (Largo Rainha Dª Leonor)
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Seguidamente pelas 13H, almoço no Restaurante "Ponte Romana", Silves.
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Às 16H30 do mesmo dia, com Francisco Louçã,Comício - Festa em Portimão
Auditório da Universidade - Portimão (Junto ao largo da estação de caminhos de ferro).

FOTO

JAZZ
f greg.

FOTO




http://www.magnumphotos.com/c/Home_MAG.aspx


MAGNUM - FOTO

DEBATES


Debate Francisco Louçã-Jerónimo de Sousa
16-12-2005
Debate entre Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa. Ouça também os comentários de Francisco Louçã à saída do debate com Jerónimo de Sousa: À RTP e à SIC.
+Ver Vídeo (1)+Ver Vídeo (2)

Controlar o comércio de armas


O Projecto/Petição "Um Milhão de Rostos"





O Projecto "Um Milhão de Rostos" será a maior petição visual alguma vez realizada. A Amnistia Internacional, a OXFAM e a IANSA estão a recolher fotos e auto-retratos de pessoas de todo o mundo para demonstrar aos governos que é preciso uma acção urgente e efectiva para controlar o comércio de armas. A nossa meta é recolher um milhão de rostos até 2006 como uma poderosa mensagem visual de apoio à Campanha "Controlar as Armas". Nessa altura usaremos este movimento maciço de pessoas para persuadir os governos de todo o mundo a assinar um Tratado Global de Comércio de Armas.
Como funcionará a petição:
Todas as pessoas podem colaborar ao:
Enviarem a sua foto digital através de e-mail para o site
Como alcançaremos o pretendido?
Demonstraremos o nosso apoio à campanha de duas maneiras:
Através da galeria on-line "Um Milhão de Rostos" do site
A petição poderá também ser usada de muitas e variadas maneiras off-line. Alguns exemplos serão um muro de rostos em volta das Nações Unidas ou um enorme placard feito da soma dos rostos que juntos formem a imagem do alvo da campanha ou o nome da campanha.
Até hoje, tem-se verificado uma trágica falta de um sentimento de urgência por parte da maioria dos governos do mundo no que concerne ao problema da proliferação das armas. Muitas são as palavras, porém os progressos reais são mínimos. É hora de agir!
A sociedade civil e os governos precisam de trabalhar juntos de modo a acabar com a origem do fornecimento das armas, solucionando na raiz as causas pelas quais as pessoas possuem armas em ambientes inseguros.
A Amnistia Internacional, a OXFAM e a IANSA (International Action Network on Small Arms, que representa mais de 500 ONG's em todo o mundo e da qual a AI é membro fundador) estão empenhadas nesta campanha por um futuro mais seguro para todos nós, através de uma acção vigorosa para reverter os abusos cometidos com as armas. Alguns importantes governos manifestaram já o seu apoio a este trabalho. Apelamos aos outros que se unam a nós nos nossos esforços.
Não há tempo a perder: no mesmo minuto em que uma pessoa morre vítima da violência armada, 15 novas armas são produzidas! Quem será responsável por homens, mulheres e crianças que certamente se tornarão vítimas desta violência nos meses e anos que se seguem? O comércio das armas está fora de controlo, acções urgentes têm de ser tomadas!




Wednesday, December 14, 2005

INSULTOS...

Agressão em Braga contra Mário Soares



12-12-2005
Um defensor da guerra colonial insultou e tentou agredir o candidato Mário Soares quando este estava em campanha na rua de Braga. Esta candidatura condena energicamente este incidente e qualquer outro que possa atingir qualquer candidato sem nenhuma excepção, porque assim se diminuiria a democracia do debate presidencial.

DEBATE; F.LOUÇÃ e MANUEL ALEGRE


Debate entre Francisco Louçã e Manuel Alegre na RTP 1
+Ver Vídeo (Parte 1)
+Ver Vídeo (Parte 2)
Português e Filosofia: filhos de um deus menor? O deputado João Teixeira Lopes afirmou na AR:


'o Governo decidiu dar uma machadada impiedosa na formação dos alunos que se candidatam ao Ensino Superior suprimindo os exames de Português e de Filosofia... Não merecemos esta «educação». Acima de tudo, não merecemos este Governo.'



Intervenção do deputado João Teixeira Lopes




Este Governo está a falhar na educação. Não bastavam os cortes orçamentais. Não bastavam as falsidades reincidentes de um Secretário de Estado que, em vez de ser imediatamente demitido (os exemplos também educam!), foi, ao invés, premiado com a confiança política do Primeiro-Ministro. Não bastava o espanto da Senhora Ministra, visitando uma escola, ao constatar que os professores não tinham gabinetes de trabalho onde lhes fosse possível preparar aulas ou receber alunos. Não bastava a despudorada tentativa do Governo em quebrar o poder sindical, reduzindo-o ao epíteto de mera acção corporativa (não estaremos na altura de questionar se não é este Governo uma mescla de famintas corporações, desejosas de se apoderarem dos bens públicos…). Não bastava a anunciada intenção de desrespeitar o princípio da “melhor graduação/melhor posição” na colocação de professores.
Não bastavam os dados recentes, de um estudo promovido pelo próprio Ministério do Ensino Superior, mostrando, pela crua evidência dos números, que apenas três em cada dez estudantes são provenientes das camadas sociais mais desfavorecidas. Não bastavam os aumentos brutais das propinas, superiores a 140%, fazendo do nosso país uma das sociedades europeias em que o peso com despesas de educação mais desgasta as famílias. Não bastava a revelação de que Portugal despende quase menos de metade com cada aluno do ensino superior do que a média da União Europeia (e no que se refere ao ensino básico e secundário continuar a repetir que gastamos tanto ou mais em termos de PIB é uma torpe falácia, já que não podemos comparar o PIB português com o Espanhol, o alemão ou o sueco!). Sabemos, agora, que o Governo decidiu dar uma machadada impiedosa na formação dos alunos que se candidatam ao Ensino Superior suprimindo os exames de Português e de Filosofia. É toda uma mentalidade que se vai revelando.
O pensamento único, a dominação dita pragmática, a tecnocracia sem alma e sem coração. A mesma que vê nos rankings a revelação do sistema educativo, reduzindo-o a um mercado, promovendo a competição cega em torno dos resultados escolares, favorecendo as práticas cada vez mais frequentes – embora informais ou clandestinas – de selecção social dos alunos pelas escolas, recusando os que provêm, por exemplo, dos bairros ditos «problemáticos» ou dos que possuem necessidades educativas especiais. Ou, ainda, fabricando turmas de excelência expurgadas da «escumalha», dos «resíduos», do «lixo escolar». Os exames nunca foram Alfa e Ómega da educação. Não acreditamos no fétichismo dos exames – a transformação, por magia, de um bárbaro num sabedor, após o acto «sagrado» de passar no exame. Sempre defendemos modalidades diversificadas de avaliação dos alunos: avaliação contínua, em laboratório ou oficina. Mas a desvalorização do português e da filosofia é toda uma ideologia. É a consagração de um saber e de um saber-fazer que despreza duas das fundamentais matrizes da formação humanista e científica. Direi mesmo: da formação ética, da maneira como vemos e organizamos a realidade. O padrão, agora, é uma mesquinha racionalidade técnico-científica. Racionalidade pequenina, apoucada, mutilada.
A língua materna é a pátria – sem fronteiras, sem exclusivismos, aberta à mestiçagem e à contínua (re)invenção. A Filosofia é o pensamento crítico e divergente, a reflexão, a ontologia, o ser e o estar no mundo. Que pessoas formamos, então? Cidadãos e cidadãs unidimensionais? Cómodos, resignados, conformados? Vergados à razão instrumental? Domesticados? Não merecemos esta «educação». Acima de tudo, não merecemos este Governo. Um Governo que aceita um modelo de desenvolvimento e de qualificação rente ao chão de um país que desiste do ensino superior, que desiste da língua portuguesa, que desiste do saber pensar.

Tuesday, December 13, 2005

Confrontos entre a resistência e a Al-Qaeda



Têem- se registado no Iraque confrontos entre as forças obscurantistas da Al Qaeda e os combatentes da resistência laica.


Iraq: enfrentamientos entre la Resistencia y Al Qaeda

Red con Voz, 22-11-05 (2,3 MB)

Peça radiofónica sobre os referidos confrontos (Em espanhol)

Intervenção do camarada João Vasconcelos no dia da Cidade

João Vasconcelos



Sr. Presidente da Câmara Municipal de Portimão
Srs. Vereadores e Srs. Membros da Assembleia Municipal
Excelªs. Autoridades aqui presentes
Excelºs. familiares de Teixeira Gomes
Minhas senhores e meus senhores,








Estamos hoje aqui a comemorar os 81 anos da elevação de Portimão a cidade, que ocorreu no dia 11 de Dezembro de 1924 pela mão do então Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes, distinto democrata e insigne filho desta terra. Viajante famoso, diplomata hábil, político íntegro e apaixonado, Teixeira Gomes ocupou a mais alta magistratura da Nação, há 80 anos atrás, numa época deveras conturbada tanto à escala internacional, como no plano nacional.
Internacionalmente, e após o apocalipse da 1ª Guerra Mundial provocado pelas potências capitalistas, assiste-se às investidas revolucionárias de trabalhadores e vastas camadas populares que aspiravam à liberdade e à dignidade, guiadas pelo exemplo da experiência bolchevique. Mas também se assiste, como resposta às movimentações populares, ao avanço das forças negras e obscurantistas que não queriam perder privilégios e preparavam uma nova barbárie – os fascismos, já implantados na Itália por Mussolini e, em Espanha, por Primo de Rivera.
No plano interno, o Portugal republicano estava a ser consumido por uma das piores crises da sua história e, o mais paradoxal, é que os principais protagonistas dessa crise, foram aqueles que inauguraram uma nova época – a República, prometendo prosperidade, justiça social e paz. A República, esse “Dies Irae” anunciado e não cumprido, que substituiu uma Monarquia velha, cinzenta e decrépita, viu-se envolta na crise política, social e financeira, na repressão social e sindical, na corrupção venal, na acumulação de privilégios e prebendas, só para alguns, no avassalar da miséria e da fome para a grande maioria da população. Daqui até ao 28 de Maio de 1926 e à Ditadura Militar foi apenas um pequeno passo. E o “Salvador da Pátria” de Santa Comba, (curiosamente há alguns hoje que ainda se acham “salvadores da pátria” em crise), esperava a sua vez para mergulhar Portugal num inferno de quase meio século. Teixeira Gomes, desiludido com um regime em que acreditara e sonhara diferente, retirou-se para o seu exílio de Bougie.
A História não se repete. No entanto, os ciclos históricos embora diferentes e distantes no tempo, carreiam características com algumas semelhanças. Vivemos uma época de globalização armada geradora de guerras imperiais e terrorismo islâmico. Uma nova barbárie em larga escala se prenuncia, onde um dos expoentes máximos tem sido a guerra genocída do Iraque. Todavia, existe um outro caminho alternativo, uma globalização alternativa. Onde há repressão há resistência e luta e esse tem sido o caminho percorrido pelos movimentos sociais, pelas resistências do Iraque e Palestina ocupados, pelos imigrantes desenraizados, pelos povos e trabalhadores que lutam tenazmente contra os poderosos que lhes querem sonegar direitos conquistados nos últimos cem anos.
Tal como no tempo de Teixeira Gomes, há um século atrás, hoje, a Humanidade debate-se no essencial, com o mesmo tipo de problemas: aspira a libertar-se do sistema de exploração a que está sujeita, pugna por direitos básicos, como o direito ao trabalho, à saúde e à educação, quer justiça social e democracia efectiva. Nunca se produziu tanta riqueza como na actualidade, no entanto encontra-se terrivelmente mal distribuída: 816 milhões de pessoas passam fome e 6 milhões de crianças morrem anualmente por falta de comida; cerca de 200 milhões não têm trabalho; a fortuna dos três homens mais ricos de mundo (Bill Gates, Paul Allen e Warren Buffet) equivale à de 600 milhões de pessoas ou de 40 nações inteiras; os 365 indivíduos mais ricos do mundo detêm uma riqueza que excede os ganhos anuais de 40% da Humanidade; enquanto que 15% de privilegiados gozam de 56% do consumo mundial, 2,8 milhões de pessoas vivem com menos de 2 euros por dia, só para dar alguns exemplos. Ainda há quem diga que a luta de classes acabou? Nunca como hoje ela faz tanto sentido! O carro da História humana pode atrasar-se, ou até regredir temporariamente, mas retomará a marcha inelutavelmente e até recuperando o tempo perdido.
E que dizer da nossa situação política actual? Tem muitas parecenças com os últimos dias da República de Teixeira Gomes: os partidos políticos ganham as eleições mentindo ao povo, corrupção generalizada, repressão social e patronal, os ricos ficam dada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. A fortuna avaliada das 10 famílias portuguesas mais ricas, onde se destacam Belmiro de Azevedo, José Manuel de Mello, João Pereira Coutinho, Joe Berardo, Espírito Santo e Alves Ribeiro, atinge a soma de 7 552 milhões de euros, o equivalente ao rendimento anual de cerca de 2 milhões de pensionistas e reformados do sistema público de segurança social. Só no 1º trimestre de 2005, os 4 maiores bancos privados portugueses tiveram um lucro de 727 milhões de euros. 20% dos mais ricos controlam 45,9% do rendimento nacional. Enquanto isto, 19% da população portuguesa encontra-se em situação de pobreza e mais de 200 mil passam fome. Cerca de 1 milhão e cem mil pensionistas e reformados auferem uma pensão de menos de 200 € por mês! Onde está o direito à vida, a uma cidadania sem exclusões, o direito à dignidade para estas pessoas? Onde pára a consciência social de governantes, que ainda por cima se dizem socialistas? Trata-se de um colossal embuste!
O governo Sócrates seguiu e até agravou as políticas neo-liberais dos governos conservadores de Barroso, Santana Lopes e Paulo Portas: aumento do IVA e de outros impostos, corte nos investimentos, ofensiva vergonhosa contra os trabalhadores da administração pública e restrições aos direitos sociais, como o aumento da idade da reforma, o desemprego agravou-se atingindo mais de meio milhão de desempregados. Ataca-se e procura-se destruir tudo o que tenha a ver com o Estado social, curiosamente em nome desse mesmo Estado social. São sempre os mesmos a apertar o cinto e a pagar a crise que não provocaram – os trabalhadores e o povo português.
Decretam-se aumentos ridículos de 37 cêntimos em salários miseráveis de milhões de portugueses e aumento da idade da reforma para 65 anos, enquanto outros, sempre os mesmos, não se aplica a mesma política. Vejam-se os casos de Santana Lopes, reformado aos 49 anos com cerca de 700 contos por mês; Vasco Franco, reformado aos 53 anos e auferindo reformas mais ordenado de Deputado no valor total de mil e 60 contos! E que dizer dos ordenados mensais milionários, como mais de 29 mil € para o Presidente da CGD; mais de 19 mil € para o Governador do Banco de Portugal; cerca de 16 mil para o Presidente das Águas de Portugal; o Presidente da Galp ganha cerca de 30 mil. Estes são apenas alguns dos números da desigualdade que grassa em Portugal.
Mas, Manuel Teixeira Gomes também foi escritor, deixando-nos obras notáveis como Inventário de Junho, Sabina Freire, Agosto Azul, Novelas Eróticas e Londres Maravilhosa, entre outras. Como ilustre Portimonense que foi, a sua veia literária deteve-se e descreveu de forma poética as maravilhas da nossa cidade. Em Agosto Azul, considerou o troço da costa da Praia da Rocha até à baía de Lagos, como “a realização perfeita da paisagem marítima grega, tal como os poetas da antiguidade a conceberam”. O político escritor não imaginava que, nos finais do século XX e inícios do século XXI, a sua “paisagem grega” fora mutilada e dilacerada irremediavelmente por blocos e torres de betão, a construção de uma marina com centenas de apartamentos em plena praia e em pleno rio, considerados domínios de espaço público, subvertendo o equilíbrio ambiental e ecológico do rio Arade. Como se isto não bastasse, continua a betonização da Praia da Rocha e, pasme-se, vão ser implantados ao longo de toda a praia, novos apoios de praia construídos em alumínio, tipo carruagens de comboio. Será mais um atentado ambiental, a somar a tantos outros, com consequências desastrosas no futuro, além de prejudicar particularmente os pequenos empresários instalados na zona, pois não dispõem de somas astronómicas, nem de capacidade de endividamento para suportar as novas estruturas, só lhes restando a expulsão e o desemprego. E estes tinham um projecto, mais económico e mais equilibrado ambientalmente que foi rejeitado pelas entidades responsáveis. A Câmara de Portimão devia ter sido a primeira a abraçar este projecto mas não o fez, antes associando-se ao modelo imposto pela CCDRA. Mas ainda vai a horas, desde que haja vontade política para tal, para remediar a situação.
Quanto à Ria de Alvor, considerada zona de protecção da Natureza, encontra-se na rota das imobiliárias do betão se nada for feito. Será que estamos perante um plano, já em andamento e à espera dos novos PROTAL e PDM, de betonização da Quinta da Rocha? Sabemos que a Quinta da Rocha, antes considerada como rústica, actualmente considera-se prédio misto em virtude de terem sido construídos 18 urbanos, destinados a habitação, antes omissos na matriz até 2001, compostos por 5T1, 3T2, 3T3, 4T4, 2T5 e 1T7, pertencentes à firma Butwell Trading Serviços e Investimentos S A Zona Franca da Madeira, com sede no Funchal. Qual a razão que não foi esta situação tornada pública? Saberá a Câmara de Portimão e até outras entidades o que se passa? Em nome da defesa do ambiente, da qualidade de vida e da transparência, os cidadãos exigem saber o que se passa. E em nome da memória de Teixeira Gomes!
Uma cidade com futuro, passa pela defesa de um bom ambiente/ordenamento, pela coesão social e económica e pela transparência e participação dos cidadãos. Uma cidade inundada de betão, degrada a qualidade de vida dos cidadãos e não tem futuro. Por isso considero um erro estratégico a aposta na construção de mais uma cidadela de cimento na zona do Barranco do Rodrigo, a troco de um Complexo Desportivo. O preço a pagar por todos nós e pelas gerações futuras será terrivelmente bem mais elevado.
Uma cidade (e um Concelho) com um projecto de desenvolvimento equilibrado e sustentado rumo ao futuro, assenta, como disse, também na satisfação social e económica. Há fome no nosso Concelho, há pessoas que vão aos contentores do lixo para sobreviver, há gente que vive ao relento, ou que vive em condições de habitação indignas. O poder central é culpado desta situação, mas não só. Compete às autoridades municipais velar igualmente para que os seus concidadãos vivam sem exclusão social. Para tal, devem implementar mais habitação social, mas de qualidade, requalificar os bairros sociais, em diálogo e como forma de combater a marginalidade e a insegurança. Deverá ser feito, o mais rápido possível, um levantamento sobre as manchas de pobreza no Concelho e implementar um Centro Comunitário, com forma de atender aos mais carenciados. E o comércio tradicional, um dos elos da economia local e como memória colectiva, necessita de ser mais apoiado e acarinhado. Importa haver um equilíbrio entre o comércio tradicional e as grandes superfícies.
Uma boa educação e uma boa cultura, também deverão ser preocupações das entidades camarárias. Torna-se prioritário o investimento numa rede municipal de creches e jardins de infância gratuitos para que as famílias de Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande lá possam colocar os seus filhos, sem ter de recorrer a despesas insuportáveis nos privados. Não são só as provas de motonáutica, o raly Lisboa-Dakar e alguns espectáculos musicais só acessíveis a elites que são importantes. Importa promover realizações culturais acessíveis à generalidade dos nossos cidadãos. E as modalidades desportivas deverão orientar-se servindo os jovens e a generalidade da população.
Hoje, o combate político trava-se pelas alternativas, pela diferença contra a indiferença. Torna-se premente construir uma sociedade, inclusive à escala local, de forma democrática, exigente e participada, privilegiando o desenvolvimento sustentável e integrando o ambiental com o social e o económico, que recusa a pobreza, a corrupção, o declínio e a marginalização das populações e dois territórios. Em Portimão também é preciso. Só assim estaremos a ser dignos da memória do Presidente Manuel Teixeira Gomes, aquele que elevou este Município a Cidade.
Muito obrigado pela vossa atenção.

João Vasconcelos, Membro da Assembleia Municipal – Bloco de Esquerda