Thursday, December 01, 2005


Entrevista ao candidato do BE às Presidenciais 2006Louçã:
"Haverá de certeza segunda volta" 01.12.2005 -
10h12 Nuno Pacheco, Sofia Branco, (PÚBLICO)

Em Maio, Francisco Louçã disse que não se candidataria a Presidente da República. Cinco meses depois, mudou de ideias, porque achou que era vantajoso para a esquerda, e para o país, ter candidaturas diversas. O candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda considera ainda que todas as candidaturas são difíceis e garante que os votos que conseguir na primeira volta não são para negociar.
PÚBLICO - Disse que se candidata por obrigação. Que obrigação é essa?
FRANCISCO LOUÇÃ - É a obrigação de fazer um combate político numa situação dramática do país.
Estou profundamente convencido que estamos a viver um ciclo de decadência e de que é preciso uma nova geração de políticas para lhe responder. E a eleição presidencial é a que mais directamente convoca a esperança e as escolhas sobre um período longo de cinco ou dez anos. É a circunstância fundamental para responder aos problemas fundamentais, que são as grandes questões do regime social, das escolhas políticas fundamentais. Creio que é indispensável um combate político clarificador, evitando este espírito de derrota que se instalou na sociedade portuguesa.
O que mudou entre Maio, quando disse que não se candidatava, e Outubro, quando formalizou a candidatura?
Em Maio, disse que pretendia uma outra solução que representasse a área política da esquerda e não pretendia ser candidato. Na altura o único candidato era o segredo polichinelo de Cavaco Silva. Sabia-se que seria candidato, mas não havia clarificação sobre o conjunto do quadro. Mais tarde, configurou-se a campanha eleitoral com a apresentação dos representantes em todas as áreas políticas.
Creio que isso é vantajoso, porque permite clarificar as escolhas fundamentais e fazer um combate mais elevado, em termos de ideias, protagonismo e alternativas. Foi por isso que me mobilizei com muita determinação e com muita alegria.
Em Maio, quando afirmou que não se candidatava, já Cavaco era um provável candidato. No entanto, quando se candidata assume-se como o candidato anti-Cavaco...
Com certeza que sou um candidato anti-Cavaco. O que mudou é que se clarificou o conjunto do contexto eleitoral e se percebeu que o PS não iria apresentar António Guterres, mas Mário Soares. A crispação e divisão eram já nítidas. E, portanto, as candidaturas foram-se perfilando como a representação política das grandes ideias para a sociedade portuguesa. Entendi que não devia alhear-me disso.
Se o PS tivesse apresentado Guterres, não se teria candidatado?
Teríamos que apresentar uma alternativa. Teríamos que pensar. Perante as candidaturas que existiam, achei que era fundamental apresentar uma candidatura que representasse a energia de políticas novas. É isso que pretendo trazer a este debate.
O aparecimento de vários candidatos, cada um polarizando um determinado número de votos, é benéfico para a esquerda?
É incontornável. Porque na esquerda, como se verifica pelas sondagens e pela realidade política muito mais profunda do que as sondagens, não há nenhuma candidatura que polarize naturalmente, que unifique e crie confiança em todos os sectores da esquerda.
Se ela existisse, teria hoje 40 por cento dos votos nas expectativas das sondagens. Não existe e portanto isso é a prova de que a esquerda está num momento em que é obrigada a repensar-se, não pode voltar sempre para trás, para os velhos combates dos duelos ao pôr-do-sol.
O que é que seria um bom resultado para si, igualar os 6,3 por cento obtidos pelo Bloco de Esquerda nas últimas legislativas?
São eleições muito diferentes. Os candidatos presidenciais têm naturalmente votos que não são votos partidários. Quero disputar os votos que hoje se inclinam para Cavaco Silva, disputar os votos com as alternativas aos dois candidatos do PS.
Um bom resultado eleitoral é, em primeiro lugar, ter os votos que os portugueses entendam que mereça.
Mas essa disputa, esse retirar de votos a Cavaco Silva, não é extremamente difícil?
Uma eleição, numa situação destas, faz escolhas sobre o país. Cavaco Silva é um candidato extraordinariamente frágil, as duas candidaturas do PS são igualmente muito frágeis, porque são candidaturas obviamente viradas para o passado, viradas para um ajuste de contas ou para o objectivo de encerrar carreiras políticas.
Ora, hoje precisamos de muito mais, precisamos de uma ambição diferente para o país, precisamos de algo que nos abra caminhos.
Creio que temos hoje, na esquerda, algumas candidaturas que são derrotadas, que partem derrotadas, que estão convencidas que estão derrotadas e que vivem como candidaturas derrotas. Querem fazer um bom papel para limpar as mãos na derrota. Acho que é preciso algo de diferente. É preciso enfrentar as dificuldades, a crise europeia, em que Portugal vive, a crise do regime social, e trazer ideias novas, ou trazer soluções, ou procurar soluções onde as tenhamos que encontrar.
Reconheceu que a sua eleição é extraordinariamente difícil. Candidata-se para quê?
Tenciona negociar, numa segunda volta, os votos que conseguir obter na primeira?Os votos não são meus e não se negoceiam, não são votos que se vão sentar na sexta fila do PS. A minha eleição é difícil, a de Jerónimo de Sousa é difícil, a de Mário Soares é difícil, a de Manuel Alegre é difícil. O único que parece ter estado mais próximo de ser fácil é Cavaco Silva. A eleição é sempre difícil, pela simples razão de que ainda não há votos contados.
O que os votos na minha candidatura indicam é um imenso empenho e uma grande vontade de transformação política em Portugal, em termos de combater o défice democrático, que é um défice social. E isso é o que conta no dia das eleições e é o que conta no dia seguinte às eleições.
Pensa que haverá segunda volta, ou não?
Tenho a certeza que haverá segunda volta.

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