Espaço despojado, espaço limite, “Sagres é hoje um ímpeto parado, a seta indicadora de um rumo perdido, real e simbólico” (Miguel Torga, in “Portugal”).
Sagres, mais do que um limite, é um espaço ambíguo: Fim/Princípio, Vertical/Horizontal. Pode ser definido como limbo ou espaço “neutro”, onde os elementos antecipam o seu próprio colapso: Colapso Terra/Mar, colapso Dia/Noite. Assim, o promontório é o resultado de dois eixos contraditórios que a si mesmo se anulam. Dir-se-á que a sua neutralidade se eleva acima do Homem, tornando-se num espaço sagrado,numa meta utópica de transição.
Desta maneira, Sagres surge mais como momento transitório que apela ao desafio ,que se torna limbo entre o dia e a noite, entre a Terra e o Mar, entre o que é Possível e o Impossível. Estreito limite para além do qual reencontraremos o passado pela transposição do futuro, num apelo a um tempo circular no interior de um espaço mítico.
Sagres pode ser visto como negação da temporalidade linear judaico-cristã. O retorno cíclico e repetido ao Éden inicial,vivendo como "limbo chamamento", unicamente pelo facto de não existir como “Zona de Vida”, mas sim como um percurso através do desafio.
Sagres foi ao longo das mais remotas eras um lugar mítico. O “Promontorium Sacrum” dos romanos indicaria aos Homens o limite da terra. O promontório como elemento transitório é domínio de Janos, deus romano das portas e passagens, do começo e do fim, Janos é o deus protector da transição. Este deus de dupla face olha em simultâneo a terra e o mar. Janos é a entidade definidora que protege as transições, preside aos Limbos e ás crenças num tempo cíclico, num retorno eterno, na destruição periódica do presente.
O promontório fez-se apelo, e os homens protegidos por Janos sonharam e no interior do seu sonho encontraram talvez os caminhos que lhes eram indicados. Para além dos abismos, pela sua própria perplexidade.
Texto de Fernando Gregório
No comments:
Post a Comment