Tuesday, November 21, 2006


VEMOS OUVIMOS E LEMOS… (3)

Ser humano e pobre




Pouco tempo depois da atribuição do Nobel da Paz de 2006 passou, no canal 2 da televisão pública, um documentário sobre o laureado deste ano, o professor universitário do Bangladesh, Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen que se dedica à concessão de micro-créditos para a constituição de micro-empresas como forma de combate à pobreza, em especial, nas zonas do mundo onde a miséria é mais acentuada.
É claro que este documentário foi pouco divulgado, passou completamente despercebido num canal e num horário que só os mais atentos e interessados conseguiram detectar. Não tenhamos dúvidas que o tema abordado deveria ser dado a conhecer ao maior número possível de pessoas e debatido até à exaustão, em horário nobre, num canal de grande audiência.
Casos destes parecem revelar alguma intenção de ocultação da triste realidade que nos rodeia. A omissão também pode ser uma forma de censura…
Na introdução do documentário “Pequenas Fortunas: Micro-crédito e o Futuro da Pobreza” vários intervenientes fazem as seguintes afirmações:
“Cerca de um terço do nosso mundo – dois em 6000 milhões de pessoas vivem com 2 dólares (1,60 €) por dia ou menos.
Conseguiriam viver com 2 dólares por dia ou menos, todos os dias? Ser um ser humano e pobre é incongruente. Não falta nada à pessoa, então porque é pobre? Há algo que falta no sistema.
Mark Hatfield, senador do Oregon, já retirado, disse: “Ficamos parados enquanto crianças morrem aos milhões, de fome, porque não temos a vontade de eliminar a fome. No entanto, encontrámos a vontade para desenvolver mísseis capazes de voar sobre a calote polar e de aterrar a poucos metros do alvo. Isso não é inovação. É uma profunda distorção do propósito da Humanidade na Terra.”
Afirmações deste teor são frequentemente feitas por grandes responsáveis políticos quando se encontram afastados do poder. Eles sabem quais são as causas e onde estão as soluções para, pelo menos, atenuarmos as profundas desigualdades actualmente existentes no mundo. Por que motivo não actuam quando se encontram em cargos onde podem exercer influências decisivas?

Luís Moleiro aderente do BE

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