Saturday, May 05, 2007

O Discurso de Cavaco Silva no 25 de Abril


O Discurso de Cavaco Silva no 25 de Abril
João Vasconcelos (*)

O discurso do Presidente da República neste 33º aniversário do 25 de Abril não trouxe nada de novo ao país e muito menos aos jovens, apesar de grande parte da alocução se ter dirigido a estes. Cavaco apelou ao inconformismo dos jovens e para que não se resignem e, também em nome destes, questionou o ritual em que se estavam a transformar as comemorações do Dia da Liberdade, o que não deixa de ser curioso.
Em primeiro lugar, diga-se que Cavaco Silva falhou rotundamente nas suas pretensões de influenciar a juventude, pois não foi ao encontro das suas dificuldades, dos seus anseios, das suas expectativas.
Um dos graves problemas que hoje aflige os nossos jovens é o desemprego e a precariedade que atinge mais de um milhão e sobre isto o Presidente da República nada disse. Nem uma crítica ao Governo Sócrates que está a deixar sem trabalho ou a atirar para o desemprego milhares de jovens. E que dizer de outras medidas deste governo que só penalizam a juventude, como o fim do regime de bonificações para adquirir casa própria? Ou do aumento sempre crescente dos juros dos empréstimos bancários? Ou do aumento e do grande peso que representam hoje em dia as propinas, o que em conjunto com outras despesas, impedem, ou tornam a vida tão difícil a milhares de jovens de aceder ao ensino superior, ou de estudarem nas devidas condições? O Processo de Bolonha só está a contribuir para a degradação do Ensino Superior, para a sua comercialização, fazendo com que as famílias paguem os estudos dos seus filhos. E quem não pode fica de fora. O Ensino e a Educação (tal como a Saúde), é um direito universal dos cidadãos e como tal devia ser gratuito, devia ser encarado como um investimento e não como uma despesa. São estes factos que preocupam os jovens e sobre eles o Presidente da República nada salientou.
Cavaco Silva também parece que quer acabar com as comemorações do 25 de Abril, não admira, pois durante o seu consulado de 10 anos, muitas das conquistas conseguidas pelo povo, pelos trabalhadores, pelos jovens, foram simplesmente destruídas ou diminuídas drasticamente, como foram o caso de muitos direitos sociais e laborais. Agora Sócrates, abençoado e incentivado por Belém, teima em delapidar o que resta de Abril, se o deixarem.
No seu discurso Cavaco deixou uma mensagem para o Governo de José Sócrates: “É tempo de actuar. Vivemos um tempo decisivo para realizar reformas de fundo em domínios essenciais da nossa vida colectiva”. O 1º Ministro logo se apressou a responder que “o apelo do Presidente é muito apropriado” e que “foi um discurso à altura das circunstâncias”. Não podia ser de outro modo, pois Cavaco e Sócrates são uma espécie de duas almas gémeas e estão totalmente um para o outro. Não provêm os dois da mesma família política – o PSD? Pouco importa que Sócrates esteja à frente de um Governo que se intitula “socialista”, pois o mote, desde que subiu ao poder, foi a proclamação neo-liberal de uma declaração de guerra aos cidadãos, aos trabalhadores, aos jovens de Portugal, procurando acabar paulatinamente com todos os seus direitos sociais. Depois dizem que são “reformas”. Precisam é de ser os dois reformados!


(*) Professor, aderente do Bloco de Esquerda, membro
da Assembleia Metropolitana do Algarve

Observação: artigo publicado no jornal Barlavento de 3 de Maio de 2007.

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