Thursday, February 09, 2006

O que faz correr a Microsoft?

O que esconde a aliança governo-microsoft?
04-02-2006



A vinda a Portugal de Bill Gates não poderá ser analisada como uma simples coincidência, decorrendo num contexto de alguma crispação judicial entre a microsoft - acusada de práticas de monopólio - e a comissão europeia, chefiada pelo ex-primeiro-ministro português Durão Barroso. O anúncio do estabelecimento de um acordo entre o governo e a microsoft não constitui uma surpresa, mas sim o perpetuar de uma relação existente desde 1997, ano em que o então governo de António Guterres assinou um protocolo, que supostamente permitiu a redução dos custos associados à aquisição, actualização, manutenção e gestão de software, por um período de dois anos.
O anúncio da formação de um milhão de portugueses em tecnologias de informação até 2010 através de um conjunto de parcerias assinala «uma espécie de algemas douradas» que permite à empresa «consolidar o monopólio do software em Portugal», afirma Rui Seabra, vice-presidente da Associação Nacional para o Software Livre (ANSOL). A formação prevista para Portugal faz parte de um programa mais vasto desenvolvido para toda a União Europeia e que vai abranger cerca de 20 milhões de pessoas com o objectivo de dar formação em literacia digital. Os acordos com o Governo português «vão abranger vários ministérios e organismos públicos que serão obrigados a adquirir software da empresa de Bill Gates para as pessoas porem em prática os conhecimentos adquiridos durante a formação que vai custar cerca de três euros por pessoa».
O negócio da transnacional, acusa Rui Seabra, não é a formação de pessoas, mas «a obrigatoriedade de adquirir o software que custa milhões de euros, uma vez que os conhecimentos adquiridos só podem ser aplicados em programas desenvolvidos pela empresa de Bill Gates. No software livre não haveria estes custos». Esta realidade «apresenta vários riscos». Um deles «é o acesso limitado a documentos públicos por pessoas ou entidades que não usam o software da empresa. O acesso é possível, mas é muito dificultado, precisamente para promover a comercialização dos produtos da empresa».
A limitação da escolha «é outros dos riscos. Inconscientemente as pessoas deixam de ter liberdade de escolha em relação aos materiais e programas». Na sua opinião, Bil Gates trouxe a Portugal «um presente envenenado». De referir que a ANSOL propôs colaborar com o governo num plano alternativo, baseado na adopção de software livre por parte dos organismos públicos. Permitir-se-ia assim a poupança de fundos, que poderiam ser destinados à formação tecnológica.
in: Indymedia

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