Saturday, March 24, 2007

NUCLEAR EM PORTUGAL - SIM OU NÂO!?





O NUCLEAR EM PORTUGAL – SIM OU NÃO?
João Vasconcelos (*)

A crise energética tem levado a uma procura de novas soluções, ressurgindo a opção pelo nuclear, nomeadamente no nosso país. Portugal apresenta uma forte dependência externa de energia e um consumo descontrolado nos transportes e edifícios.
Por outro lado as emissões dos gases de efeito estufa têm aumentado a um ritmo crescente, ultrapassando largamento o compromisso estabelecido no Protocolo de Quioto. Segundo um relatório da Comissão Europeia, Portugal poderá atingir em 2012 um valor de 52,1% de emissões de CO2, muito acima dos 27% de aumento autorizados em relação a 1990, o que representará o pior desempenho da Europa a 25 (em 2002 já tinha atingido 42% a mais que em 1990). Esta situação irá implicar que o país tenha de pagar, no período de 2008 a 2012 entre mil a dois mil milhões de euros para fazer face aos seus aumentos nas emissões de GEE.
Face a estes dois factores – crise energética e emissões de GEE – será alternativa a opção nuclear? Esta seria a pior opção! Em primeiro lugar torna-se necessário uma profunda alteração das políticas vigentes, começando por aumentar a eficiência energética e reduzir os consumos, em particular nos transportes reduzindo-se o uso dos veículos particulares, através de medidas sérias de mobilidade e de ordenamento do território. Em segundo lugar o governo deve apostar na diversificação do “mix” de produção energética combinando todas as energias renováveis – eólica, fotovoltaica, solar térmica, solar passiva (arquitectura bioclimática), biomassa, ondas, biogás, geotermia, mini-hídricas, hidrogénio. Todas estas diferentes tecnologias são complementares e nenhuma delas por si só será a solução para as nossas necessidades energéticas.
O ramo das tecnologias renováveis encontra-se em crescimento em muitos países da Europa (e gerador de postos de trabalho, em Espanha por ex. o eólico já criou 80 mil empregos). Portugal apresenta óptimas condições no que concerne à intensa exposição solar e à extensa fachada atlântica, desenvolvendo assim o solar fotovoltaico e a tecnologia das ondas.
A opção pelo nuclear será uma irresponsabilidade, apresenta desvantagens e os perigos são imensos. Além do problema do armazenamento dos resíduos, as centrais nucleares apresentam um risco muito elevado de contaminação radioactiva devido a acidente, ou de ataque terrorista, assim como no transporte de combustível e dos próprios resíduos. As consequências são trágicas e catastróficas: mortes, cancros, degenerescências e malformações, perda de biodiversidade, contaminação de redes e bacias hidrográficas, etc. Ainda temos na memória o desastre de Chernobyl em 1986, na antiga União Soviética que, segundo estimativas da Greenpeace terá provocado cerca de 93 mil mortes, além de ter contaminado vastas regiões da Europa.
O nuclear apresenta outras desvantagens: a construção de centrais, a prospecção, extracção e transporte de urânio são importantes fontes de emissão de GEE, são enormes os riscos para a saúde provenientes dos resíduos do urânio processado durante centenas de milhares de anos, os consumos de água e os custos de manutenção são elevadíssimos e gera poucos empregos. Estas são razões mais que suficientes para dizer – Nuclear Não Obrigado! E que Sócrates cumpra, pelo menos desta vez, as suas promessas.

(*) Mestre em História Contemporânea,
membro da Comissão Distrital do BE e da Assembleia Metropolitana do Algarve

Obs: Este artigo foi publicado no jornal Barlavento de 22 de Março de 2007.

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